Há dias em que o amor das minhas filhas não me chega. Dias em que o aconchego de um abraço adulto, um beijo quente no pescoço e um carinho fazem-me falta. Há dias de solidão em que a noite vem, o silêncio se instala, e depois tudo é vazio: a minha cama, o meu coração, vazio de emoção. Nenhuma música hoje me anima, só me lembra daquilo que não tenho. Sou uma ingrata, eu sei. Porque é que a gente se agarra ao que nos deixa incompletos, em vez de valorizarmos e agradecermos o que temos? Há noites assim, coloridas pelos romances dos livros na mesa de cabeceira, alimentadas pelas vontades que não se materializam, e pelos sonhos que o sono traz, forçado pelo cansaço dos dias. Na minha imaginação a perfeição é outra... e os sorrisos virão quando tiverem de vir. Para já, silêncio, preces. Amanhã será outro dia.
Daqui a duas semanas arrancam as aulas e o novo ano lectivo. A semana passada foi passada a preparar as coisas mais nos bastidores, mas esta semana já vou estar mais à frente das coisas, entre dar uma ação de formação à minha equipa de académicos para além de uma série de reuniões centrais da faculdade, consegui ainda enfiar pelo meio uma sessão de formação para me preparar para o doutoramento. Tenho tanto para agradecer, estou rodeada de pessoas que me querem bem, e que me incentivam para seguir em frente e ir atrás dos meus objectivos.
Então porque é que me sinto sem energias, triste, como se me estivesse a afogar? Desde que vim de férias, parece que perdi a minha força. Os meus objectivos estão todos trocados, estou confusa e não sei que raio de caminho é este que eu trilho. Ando exausta do mesmo, e mesmo o potencial profissional que me propõem não me deixa de brilho nos olhos.
Preciso de me reencontrar, de redescobrir o que quero para mim e traçar novas rotas. Acreditar que isto é só uma fase, que tudo no fim se vai eventualmente compôr. Sinto falta de mim, de me ouvir, de cantar pela casa. Sinto a falta de me ver feliz, e apesar de sentir que tenho tudo o que preciso, dentro de mim eu sei que isso não me basta. Nada é suficiente. Tudo me sufoca e nada me liberta.
Regressar de férias tem sempre um gostinho agri-doce. A volta ao trabalho e ás responsabilidades que aqui me prendem não é de todo negativa, mas depois de duas semanas sem pensar em problemas e só a disfrutar da Natureza, voltar à rotina tem o seu quê de melancólico.
Troquei o céu azul pelo cinzento, os abraços da família e dos amigos pelos apertos de mão, e os risos das minhas meninas pelos silêncios das suas ausências. Segunda-feira a mais velha já volta para a escola, esta semana a mais pequenina já foi para o infantário, e a rotina volta assim ás nossas vidas. Daqui a pouco estamos a preparar-nos para o Halloween, e em breve estamos no Natal... mais um ano que já quase passou, assim, sem dar por isso. Estas férias foram boas para descansar, e apesar de nem sempre terem sido pacíficas, o balanço geral foi positivo porque as miudas estavam felizes e divertiram-se muito.
Agora que venham os novos desafios com o novo ano-lectivo. E quando tivermos saudades, teremos sempre as fotos para nos lembrarmos dos dias azuis e dos risos que ecoavam pela praia.