Obrigada pelo vosso apoio incondicional. Há algo por detrás do meu post anterior que quando eu puser a descoberto lá para finais de Agosto vocês vão entender o porquê de toda a minha frustração, raiva e tristeza. Para já não posso dizer o que se passa a 100%, mas para bom entendedor, meia palávra basta. As coisas aqui em Inglaterra são boas, mas há duas coisas que me estão a fazer repensar no meu futuro aqui, principalmente agora.
O preço das casas: um apartamento com 2 quartos pode chegar às £1,000 - e as contas não estão sequer incluídas. Mais, arrendar uma casa quando se tem um cão e um gato torna a procura quase impossível. Comprar casas aqui também não dá, porque os preços estão bem além das nossas poupanças... Resta-nos viver num estúdio para já, algo que é limitativo e apertado para a nossa realidade.
Saudades de casa: a falta de apoio famíliar imediato faz com que eu tenha de lidar com tudo sózinha. Por mais que a minha família esteja lá para mim, não é a mesma coisa falar através do messenger e falar frente a frente. Mais, não posso ir a casa dos meus pais cada vez que me sinto perdida ou desorientada, ou mesmo quando preciso de um tempo de tudo. A distância torna tudo muito mais complicado e o marido não entende muito disso porque nesta altura tem cá a família dele quase toda, e eu não tenho ninguém da minha família por aqui.
Adoro o meu emprego, e essa é provavelmente uma das razões porque eu ainda ando por aqui. O meu ordenado é confortável. Em Portugal não teria talvez uma posição profissional tão enriquecedora, que me preenchesse tanto, e que me pagasse um bom ordenado. No entanto, e desde que casei, o que recebo vai quase tudo para as despesas da casa e sobra muito pouco para colocar nas poupanças todos os meses. Agora então, as poupanças vão ser mais importantes do que nunca... E eu não quero perder a minha independência económica ou o meu nível de vida só porque me encontro na situação em que me encontro.
Cada vez mais me apetece regressar a Portugal, não pelo futuro que me aguarda lá (e que provavelmente é menos risonho do que aqui), mas pelo apoio que sei que vou ter se me mudar para lá definitivamente. Quer eu queira, quer não, a falta de calor, de sol, de praia e acima de tudo, a falta da família tornam-se factores de peso muito importantes, especialmente na etapa de vida onde eu me encontro...
Já estamos no fim de Junho, e com o fim das aulas - e apesar de ter tido umas semanas um pouco corridas - nesta altura as coisas estão mais calmas. Passo muito mais tempo em casa, já que só me pagam à hora e muito do trabalho pode ser feito pelo computador. Não vale a pena ir até ao escritório porque acabo a fazer muito menos indo lá do que ficando em casa frente ao computador. Neste tempo que tenho estado em casa tenho pensado bastante na minha vida, no futuro, fazendo o balanço de mais um ano que passou. Por esta altura o ano passado eu estáva a mudar-me para o meu apartamento, solteira, ainda atrabalhar como consultora, e sem ideia do que me reservava o futuro.
Hoje, um ano depois, estou casada, a morar no mesmo apartamento mas com o meu marido, e a trabalhar como professora -algo que eu sempre quis fazer. Só que não me sinto totalmente bem. Não sei se é a falta de Portugal e do Verão português, ou se é mesmo a minha inactividade presente quando comparada com o stress do ano lectivo... Na verdade acho que são anos a mais de Hatfield, e uma vontade de mudar de ares para uma zona diferente. Não necessariamente mudar de país, mas desde que tenho começado a ir a Londres mais frequentemente, que tenho uma vontade grande de me mudar para mais perto de lá...
E agora entendo a razão da minha amiga Sara em querer mudar mais perto de Londres - apesar de gastar tempo a conduzir para o trabalho e voltar, ela está perto de tudo. Londres tem teatros, saídas à noite, coisas para fazer durante o dia e durante a noite. Aqui em Hatfield eu vou para a cama às 22h30, e fico com os olhos pregados no tecto à espera do sono, enquanto o marido já ressona ao meu lado, e eu vou-me lembrando daqueles tempos em que saír à noite para mim era um ritual quase certo, após a janta, para o café da praxe com os amigos.
Pergunto-me muitas vezes se isso é sinal dos tempos... será que estou a envelhecer, e que por isso saír à noite deixou de ser tão necessário?... Eu que sempre achei que estar entre amigos era importante, mesmo que às vezes isso me deixe meio desconfortável, porque por vezes a minha capacidade de socializar com os outros é estupidamente diminuida quando me encontro com falta de auto-estima;
Ou será que isso é sinal de que vivo numa terriola à beira de Londres plantada, e por isso pouco ou nada há para se fazer aqui (tirando ir para o pub, comentar os últimos resultados do futebol com uma cerveja ou cidra na mão - e isso eu recuso-me a fazer...). E depois é o trabalho, que está incerto. O meu contrato é limitado e a minha preocupação também se centra no facto de não ter qualquer vínculo permanente com a universidade, e estar sujeita a um 'bye bye' a qualquer altura... Mas até que ponto me devo eu sujeitar a lamber botas e deixar de ter vida pessoal só para conseguir um lugar ao sol...? Acho que mereço um pouco mais que isso...
E como posso pensar sequer em comprar um carro ou construír família se não tenho uma estabilidade profissional? Será que vale a pena isto tudo? Num país que se prepara para apertar o cinto para tentar gerir o grande deficit, a libra já não está tão forte e eu sinto saudades do sol e do calor... Talvez só precise de férias, mas acho que preciso de uma mudança maior e mais permanente...