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E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

27
Abr19

Também é preciso saber 'desinvestir'...

Little Miss Sunshine

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Hoje em dia não é difícil encontrar pelas redes sociais videos que nos ensinam a viver melhor, a ser uma pessoa melhor, a amar melhor. No entanto, esses videos focam-se essencialmente no nosso ego individual, e reforçam a mensagem que nada depende do nosso trabalho, ou que não precisamos de investir se quisermos que algo permaneça na nossa vida para deixar lições, recordações, experiência. São videos e mais videos que sublinham o trabalho que os outros terão de fazer se quiserem permanecer no nosso circulo, na nossa vida, no nosso mundo.

 

E muitas vezes, quando investimos um mês, dois meses, meio ano ou ano e meio naquilo que achamos que está certo para nós, e aceitamos sem reservas o que quer que tenhamos de aprender dessa experiência - seja ela bem sucedida ou não - no fundo achamos sempre que nunca é aquilo que deveria ser, que há sempre muito melhor por aí, e que num mar de tanto peixe, não vale a pena investir em algo que até pode ter pernas para andar, mas significa algum trabalho da nossa parte. Mensagens de efemeridade nos dias que correm são alimentadas por uma atitude de quase desleixo em relação à família, ao trabalho, ao amor.

 

Quem não investiu nunca no que não devia, ou em quem não devia, que levante a mão. Aposto que ninguém se vai acusar. Todos nós perdemos tempo com coisas que na altura julgámos essenciais para nós. A carreira, os cargos, o dinheiro, a paixão proíbida, a relação física que nunca foi para ser mais nada que isso, as esperanças que os ínicios alimentam, as decepções que os fins trazem, e o peso nos ombros naqueles dias mais negros da nossa existência onde só nos apetece esquecer, fechar os olhos, e esperar que com o novo dia venha mais luz, e menos memória.

 

Muitas vezes são as experiências que vivemos - e as consequências das nossas escolhas - que apagam todos os dias um bocadinho a nossa chama. Juro que ás vezes parece que vivo num mundo só meu, de fantasia, onde na minha cabeça nada de mal me pode acontecer, onde eu posso ser feliz mesmo quando estou sózinha, e que com a minha força da natureza típica, consigo levar tudo à frente (cortesia, talvez, do meu vício de ginásio). Físicamente estou apta a me defender. Mas e quando o atentando que temos de enfrentar é contra o nosso lado emocional, o lado que governa a nossa auto-estima? Quando a confiança é estilhaçada, o que fazer? Quando o nosso mundo não é nada daquilo que sonhámos... o que fazer?

 

Ás vezes deixamos entrar pessoas na nossa vida, para que elas nos ensinem aquilo que não queremos para nós. Ás vezes deixamos de lutar pelos cargos profissionais que nós queremos, porque sabemos que é tempo e energia gastos em vão. Em qualquer dos casos, a desilusão vem acompanhada de dor, e de um sentimento de grande injustiça. E por cada momento destes que eu passo, a paixão vai-se apagando, a vontade de investir nas coisas também vai ficando pelo caminho. Há situações pelas quais não deveriamos nunca ter de passar... mas só passando por elas é que sabemos o que não nos serve, e é a partir daí é soltar amarras e seguir em frente, deixando para trás quem não merece seguir ao nosso lado, e os projectos que não fazem parte do nosso futuro. 

 

No entanto não troco de destino como troco de camisa. O meu senso comum é extremamente bom a avisar-me quando as coisas não andam a meu favor. Na minha teimosia, não vejo muitas vezes as bandeiras vermelhas, os sinais de perigo. Quando dou por mim, muitas vezes já estou dentro de um buraco e tenho de usar toda a minha força e energia para saír dele. Quero dizer com isto que devemos dar sempre hipótese a qualquer oportunidade que se apresente à nossa frente, desde que isso não comprometa a nossa identidade, a nossa felicidade e a nossa saúde. Se ignorarmos os alarmes dentro de nós, que o façamos em plena consciência de que haverão consequências, e que nós seremos sempre os maiores lesados pelas nossas escolhas mais pobres...

05
Abr19

O Tempo Certo

Little Miss Sunshine


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Todas as noites gosto de publicar frases de inspiração no meu mural do Facebook, algumas citações, conselhos, chamadas de atenção. É muito raro não publicar, tornou-se um hábito meu, algo que gosto de fazer como que a assinalar que estou viva e estou bem, especialmente depois de um dia em que a minha passagem pelas redes sociais pouco ou nada foi. Muitas das frases que eu publico são um reflexo dos meus dias, das pessoas com quem me cruzo, das experiências que vou tendo pelos cantos da vida.... Há tantas frases na internet, algumas que não me dizem absolutamente nada… outras com tanta carga emocional, que é difícil ficar-lhes indiferente.

 

Muitas das frases com que me cruzo ultimamente nas minhas pesquisas noturnas virtuais são frases sobre paciência, frases que nos dizem que esperar pelo momento certo é importante, acreditar que o universo vai conspirar a nosso favor se nos soubermos acalmar no espírito, na mente, e no coração. Quem me conhece sabe bem que paciência não é o meu forte. Eu tento realmente não deixar as minhas emoções tomarem conta da minha razão, mas não é de todo fácil tentar contrariar uma natureza meio agreste que já se vem aperfeiçoando há 40 anos.

 

Ser paciente é, aparentemente, o segredo das pessoas que vivem mais felizes, porque enquanto esperam vão-se refinando, melhorando. As pessoas com ambição e vontade de vencer na vida também são pacientes, esperam pelo momento certo, as oportunidades certas para poderem seguir em frente na sua carreira sem muitos sobressaltos. As pessoas que estão em relacionamentos felizes, são também pessoas que foram pacientes com o tempo, porque o tempo as ajudou a nutrir o amor a dois, e com isso veio também a tolerância, e a paz.

 

Parece que toda a gente à minha volta é versado em paciência. Toda a gente menos eu. E talvez por isso é que eu me sinta tão insatisfeita no meu canto, porque para mim tudo está a demorar um tempo anormal, um tempo absurdo. Eu quero subir de cargo, quero mais dinheiro, quero um parceiro, quero uma casa, quero um negócio… para ontem. E com essa sofreguidão eu vou-me extinguindo a pouco e pouco porque a energia vai diminuindo, começamos a achar que não somos suficientes, que não estamos onde tínhamos de estar – de acordo com a sociedade, e que se lixe a sociedade -  que tudo está estagnado, quando na realidade está a andar.

 

O tempo tem-me ensinado que cada vez mais eu consigo controlar menos a minha vida. Que na minha vida tudo tem o momento certo. Que eu posso até achar que no passado eu estava em pleno controle do meu destino, quando na verdade eu estava era mesmo a remar a favor de uma maré que tinha de ser rápida. Hoje eu entendo cada vez mais o que significa esperar. Não gosto, mas aceito que esperar tem as suas vantagens. Espero pelos documentos da cidadania Inglesa da minha filha, espero pelo cargo fantástico de gestão (que há-de acontecer quando tem de acontecer), espero pelo meu sonho de abrir o meu próprio negócio, espero (sentada) por um amor que me complemente… e enquanto nada disso acontece, eu vou-me aperfeiçoando, vou-me atualizando, vou trabalhando em mim e aproveitando as folgas que a vida me dá para respirar, para descansar, beber um bom vinho e dormir sem qualquer peso na minha consciência, ou nó na garganta.

 

Ser mais paciente trouxe-me paz. Vou fazendo o que posso, não espero mais nada de ninguém, não sou apanhada de surpresa… e por entre um degrau e o outro, eu vou traçando o meu caminho, um bocado em passo acelerado e um bocado aos pulinhos - tal qual Dorothy numa estrada de tijolo amarela…

 

05
Mar19

Capitã do navio...

Little Miss Sunshine

Na minha vida, todas as grandes mudanças se precedem de um momento de introspecção que se segue normalmente a um constante sentimento de insatisfação geral. O ano passado foi um ano de empoderamento, onde eu aprendi que se eu quisesse ser uma mulher profissional de sucesso teria de ser eu mesma, teria de me colocar num pedestal e correr riscos. Que ajudaria ter uma rede profissional sólida, de preferência com outras mulheres na mesma posição que eu,  e rodear-me sempre daquelas pessoas que nos dão normalmente força para seguir em frente - seja em casa ou no escritório. Mas não há, na verdade, uma formula certa... 

Podemos ter tudo isso, mas sem uma conjuntura favorável de oportunidades, e de pessoas dispostas a dar-nos essas mesmas oportunidades, não chegamos a lado nenhum - principalmente quando somos mais potencial que experiência.

Este ano, apesar de ainda ir no adro (como a procissão), já me ensinou que nem todas a portas se vão abrir para ti, tenhas ou não a experiência que tenhas, sejas relevante ou não para a organização, tenhas ou não promessas de um futuro brilhante... E quando as contas chegam no final do mês,  e se passam semanas em entrevistas sem conseguir um cargo de 'higher management',  o desânimo aparece e rouba o meu sorriso. Queria tanto poder dar ás minhas filhas uma vida melhor, uma casa com jardim, aulas daquilo que elas queiram fazer, férias em locais distantes e paradisíacos...é por nós que eu luto por um cargo melhor, por mais dinheiro e por mais oportunidades de uma vida melhor. 

Mas será que é esse mesmo o caminho? 

Infelizmente, as coisas não têm andando muito para a frente. Eu sinto mesmo que remo contra a maré. Sou grata por tudo o que tenho, mas sinto que não chega. E por isso mesmo os meus olhos espelham o desapontamento e a falta de motivação, frutos de batalhas constantes contra o sistema e contra as percepções (erradas) que as pessoas 'com o poder' têm sobre ti. E estas lutas constantes cansam e esgotam as minhas energias. É insustentável. Não posso mais continuar nisto. 

Foi num destes momentos mais recentes de grande introspeção que eu comecei a questionar-me sobre o que realmente é este meu caminho de vida. Sózinha e sem norte - que bela combinação...!! Talvez o problema não seja o facto de eu não conseguir agarrar uma oportunidade, nem a falta de pessoas dispostas a darem-me um voto de confiança...Talvez o meu problema seja mesmo o caminho que a minha vida tem de tomar (ou destino, se acreditarem nisso)... 

Talvez eu esteja a tentar levar o barco por águas onde o barco não é suposto navegar, remando contra marés que não são mais minhas para navegar.

E assim, de repente, comecei a achar que mudar de carreira fazia sentido se fosse para fazer algo que nos faz bem e nos deixa em paz. Que mesmo que não traga grande dinheiro de inicio, pelo menos traz paz. Porque eu não estou em paz. E só por isso, mudar não é uma ideia assim tão descabida. Quando a paixão se extingue num lado qualquer da nossa vida - amor ou trabalho ou o que for - e se torna difícil manter o rumo que escolhemos, de forma equilibrada... Quando já nada nos faz feliz, e sentimos um descontentamento interior persistente... o melhor mesmo é ser drástico e cortar o mal pela raíz. É menos doloroso se assim for. E sem medo, seguir o instinto e procurar essa paixão que se perdeu noutro lugar. Tracejar caminhos possíveis, e definir estratégias para poder seguir em frente, e ser feliz.

Às vezes o segredo está em saltar do barco em vez de o virar noutra direcção.

Passamos muito tempo atrás do que não nos faz bem, e eu não sou excepção - afinal, persistir é uma caracteristica humana.  Não há nunca uma resposta perfeita para os nossos dilemas,  mas mesmo assim resolvi tomar as rédeas do meu futuro, troquei as coordenadas do meu barco de 'seguro, estável e provável'' para 'arriscado mas cheio de sorrisos'.... e o que será, é o que tem de ser. Não é desistir, é mudar de rumo.

Citação

 

18
Fev19

Pausas e impulsos

Little Miss Sunshine

 

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Half-term. Passei o dia com a minha filha mais velha, e ao olhar para ela vi muito de mim: teimosia, mas também o brilho no olhar de quem sabe que pode mudar o mundo, um passo de cada vez, convicta das suas ideias e vontades. Isto fez-me pensar muito na pessoa que eu era, e na pessoa que hoje sou, e na distância que vai entre o meu ‘eu’ adolescente e o meu ‘eu’ adulto...

Quando eu era mais miuda era uma defensora acérrima da natureza e dos animais, cheia de idealismos e com um fogo dentro de mim capaz de fazer mover montanhas, contra os oprimidos e os indecididos (normalmente era eu que decidia por eles!), contra as injustiças de um mundo desigual e cheio de preconceito. Teimei que ía ser diferente, mesmo quando se riam de mim, ou me prometiam porrada fora da escola porque eu ousei ser um pacote de sumo de laranja quando toda a gente era leite com chocolate...

Hoje em dia continuo a ser um pacote de sumo de laranja, com a diferença de agora viver num mundo onde o sumo de laranja é apenas mais uma opção em milhentas outras possíveis, e isso chateia-me porque eu sempre disse que não me conformaria em ser uma pessoa padrão. No entanto aqui estou eu, a fazer dinheiro para pagar as contas, a criar duas filhas e a viver de forma extremamente regimentada, com horários para tudo mas sem tempo para nada...

E com tanta reflexão, a questão que me faço - no entanto - é só esta:

 

O que é que eu preciso de fazer para tornar o sumo do meu pacote mais apetecível?

 

Profissionalmente passa por fazer um MBA. Pessoalmente passa por voltar à minha escrita, que me faz feliz... E também, começar a perceber que quem quer estar, está - e quem não quer estar não faz falta, por muito que o coração queira teimar e insistir no oposto. A melhor parte desta jornada é olhar-me ao espelho e voltar a ver em mim o meu 'eu' adolescente, e redescobrir a força para voltar a fazer a diferença, contribuir para fazer este mundo um bocadinho melhor - seja directamente (através de mim) ou indirectamente (através da minha maneira de educar as minhas filhas).

Pode ser que nesta minha caminhada de reflexão e vida eu consiga, finalmente, alinhar o meu propósito e descobrir o meu Ikigai... Afinal, nada acontece por acaso. Tudo tem uma razão de ser. E todos nós temos a capacidade de mudar de direcção, mas nem todos têm a coragem de o fazer.

16
Fev19

O que nos ensinam o espaço e as estrelas...

Little Miss Sunshine

Ontem fui até ao Observatório de Bayfordsbury, em Hertford, ver a lua, e aprender mais sobre planetas e galáxias. Descobri que o hidrogénio impera, que algumas das estrelas que vemos hoje no céu não existem mais, que a luz que elas emitem é uma luz que está no passado (apesar dessa luz estar no nosso presente). Que há forças electromagneticas que puxam e empurram galáxias inteiras, algumas chocam até contra outras. Saí de lá com uma série de perguntas na minha cabeça... Porquê? Como?

 

E quem me vai tirar este sentimento de insignificancia perante algo tão vasto, imenso e complexo?

 

Somos tão pequeninos.. O que acontece no espaço é tão maior que nós, muito do que se passa não tem ainda sequer explicação cientifica. Somos meros passageiros de uma série de reacções em cadeia. Por isso cada vez que passarem por uma fase menos boa, quando não souberem bem o que fazer para serem felizes, pensem no que está a acontecer fora do nosso planeta neste exacto momento, e na nossa incapacidade de mudar essas reacções em cadeia estelares, inter-planetárias e inter-galácticas. No entanto, mudar as circunstâncias da nossa vida (e da vida no nosso planeta) depende somente de nós e muitas vezes não o fazemos - mas temos a capacidade de o fazer! Porquê? Como?

 

Isto põe tudo em perspectiva, certo?

 

Não vamos fazer dos nossos negativos um caso digno de investigação astrofísica. Sejam felizes, sem medo. Ninguém o pode fazer por vocês.


IMG_2225.jpgView from the Bayfordbury Observatory by LSMattos Photographs @ INSTAGRAM

(15Fevereiro19)

 

 

03
Set18

Forte? Talvez... mas não hoje.

Little Miss Sunshine

A minha vida está longe de estar perfeita. Não atingi nada do que me propus atingir no último ano, estou separada, com duas miúdas que (ainda) precisam muito de mim, contas absurdas para pagar. Gosto a sério de uma pessoa, mas vamos ser realistas... não há amores descomplicados e tenho dúvidas de que um dia ainda vou conseguir ser feliz ao lado de alguém. Tornei-me demasiado independente para isso. E claro, vivo no mundo da fantasia porque é bem melhor sonhar e imaginar, do que ir à luta e expôr vulnerabilidades: dói muito menos. Quando me dizem que eu sou forte, não deixo de concordar, para algumas coisas até pode ser...mas tenho de ser sincera - isso não é totalmente verdade. Não sou perfeita:

 

 

 

 Escondo-me por detrás de um telefone, um computador, porque tenho medo. Não digo o que sinto para não ser rejeitada (porque na minha cabeça essa é a única opção, nunca me foi dado nada de bandeja)... Vou de tarefa em tarefa para não pensar muito nesse assunto (ou noutro assunto qualquer que possa magoar, mexer comigo ou tirar-me de mim).

 

Basicamente sinto que me sentei num comboio em andamento (a minha vida), e não sei sequer qual é o percurso - quanto mais a estação onde supostamente terei de sair se quiser a carreira, o soulmate e o dinheiro, tipo 3 em 1. Com a sorte que tenho está tudo separado e a mais de 30km de distância entre si.😒

 

No entanto, eu sou uma espécie de Jay Shetty para os meus amigos, para os meus colegas, para os meus alunos... e é nos meus dias menos bons (como hoje) que eu me vejo a consiguir motivar, inspirar, e apoiar os outros. Nestes dias eu ponho a cara de forte, mesmo que esteja a sentir o coração a afundar... consigo esboçar um sorriso e dar os meus melhores conselhos. Xiça. É literalmente ‘faz o que te digo mas não ligues ao que eu faço’. 

 

...Na minha própria escuridão eu consigo dar um pouco de luz aos outros mas dentro de mim, um caos.  Quero seguir o meu coração e não posso. Quero explorar outras coisas a nivel profissional, e não consigo. Na verdade e nesta altura só quero ser feliz e começar tudo de novo porque literalmente sinto que fodi esta merda toda. Por isso parem o carrossel para eu sair!!

 

(Amanhã isto vai servir de combustivel para puxar mais peso, ai vai...!). 

 

Melhores dias virão... isto é apenas o caminho, não o destino.

12
Jun18

As pessoas que nos rodeiam... são um reflexo de nós.

Little Miss Sunshine

Estou farta de pessoas falsas, controladoras, que se dizem parte de uma 'equipa' mas que depois jogam sozinhos com a vida deles e a dos outros, sem consultar, sem perguntar, sem concordância mútua. Porque é que as pessoas no geral tendem a achar que as coisas que fazem não têm consequências, que as atitudes que tomam não vão interferir com a vida daqueles que estão à sua volta? Tanta falta de maturidade irrita-me, enoja-me.

 

Não suporto que façam planos para a minha vida sem sequer me consultar. Como ousam? A vida é minha. Seja no trabalho como em casa, eu quero estar por dentro das coisas, eu quero saber o que se passa, não quero nem admito ser um peão num jogo de alguém. As pessoas que são honestas, sinceras, que nada escondem, que tudo dizem, são as pessoas que eu quero pertinho de mim. Aqueles mais humildes, que respeitam, que não esquecem com gratidão a mão que lhe deram - são essas as pessoas que eu quero do meu lado.

 

Estou farta de gastar as minhas energias por quem não merece. Uma pessoa dificilmente seguirá em frente se continuar a insistir nas ancoras do passado. O universo está a querer dizer-me algo e eu não estou a escutar. Talvez seja tempo de parar um bocadinho e tomar uma decisão de uma vez por todas.

 

 

15
Jan18

Quando as coisas mudam...

Little Miss Sunshine

Há dias em que o céu está escuro, chove e faz vento. Nesses dias até o frio entra pelas frestas das costuras do casaco, e arrepia. Esses dias são os piores. Dias como o de hoje, em que eu devia estar a prestar atenção naquilo que faço, mas em vez disso estou aqui a escrever para vocês, algo que já não fazia há muito tempo...! Desde o ano passado (esta piada, eu tinha de mandar, porque apesar de ser chata ainda tem a sua graça).

 

Nestes dias ando perdida. Hoje então perdi completamente a noção do que quero, do que faço e daquilo que estou a construir - se é que estou a construir alguma coisa. A vida passa fugaz e eu não tenho sequer a oportunidade de dizer um 'ai' ou um 'ui'. Passa e pronto. E eu ás vezes sinto mesmo que a vida se ri nas minha cara...  Sentada neste meu escritório, com um mapa do mundo atrás das minhas costas a relembrar-me todos os dias que o mundo é grande...! A sério...!!!? Eu a sentir-me pequenina e sem grande capacidade de o explorar. Nem sei se o quero explorar, porque quem me conhece sabe que eu odeio andar de avião.

 

Mas a vida é mesmo assim, e em Dezembro estive a trabalhar uma semana em Trinidad & Tobago. Com o aumento de parcerias da universidade, o meu trabalho aumenta também, juntamente com as oportunidades de conhecer um bocadinho mais do mapa que está atrás de mim no escritório. E para muitos isso é sorte, para outros azar... no entanto, para mim é a vida... e na minha vida hoje só quero mesmo é enrolar-me na minha cama que nem um ouriço-cacheiro, e chorar baba e ranho porque as coisas estão a mudar. E eu não tenho controlo, porque me pedem aquilo que eu não posso dar. Não posso dar agora aquilo que perdi e que me demorou tanto a (re)encontrar! A minha liberdade e a minha paz...

 

 Mas se de um lado tenho a liberdade e o potencial de poder fazer mais e melhor pelo novo e não vivido, por outro também cheguei a uma encruzilhada onde o que é familiar, seguro e conhecido me estende a mão uma última vez. E a questão aqui é só uma... Qual é o caminho a seguir? Porque nesta altura eu ando pelo meio dos dois caminhos, um bocado confortável - é verdade.

 

- Mas porque raio é que as coisas têm de mudar?  - pergunto-me eu meio dormente, ainda a pensar se o que sinto é o medo de perder a segurança dos últimos anos, ou se é o medo de perder um amor que foi - até hoje - o mais forte que vivi? Infelizmente não vingou por uma série de situações complicadas, que só eu sei. E o saber dá medo, claro que dá.

 

As coisas mudam quando têm de mudar e eu sei que ás vezes o facto de surgirem estas dúvidas só significa que tudo o que vivi até hoje não foi em vão. As minhas filhas comprovam esta minha tese improvisada. Mas é quando vemos o vento a levar para longe aquilo que tinhamos dado como certo que outras questões se levantam, nomeadamente se as decisões que tomámos foram as mais correctas. Se o facto de termos de ser ligeiramente egoístas depois de uma fase de maior altruísmo nos coloca num ponto de vulnerabilidade pessoal que poderia ter sido evitado, bastando para isso ser simplesmente despreocupada e corajosa.

 

Porque meus amigos, nesta altura eu não estou a ser nada corajosa... agora que o vento está a fustigar a minha cara e a arrepiar-me de frio, mesmo com uma montanha de casacos e camisolas a proteger-me, eu sinto que preciso de ir para casa, porque é confortável e seguro e quentinho. Se eu continuar no frio, o meu coração vai gelar mais, as minhas mãos vão ficar em pedra, e eu não vou conseguir fazer nada de mim mesma - mesmo sabendo que se me aguentar mais um bocadinho, o vento vai eventualmente abrandar, e se eu começar a caminhar, o frio vai ser uma coisa do passado...e eu vou voltar a ser eu mesma.

 

Por isso, nesta altura, eu estou na encruzilhada. E estou lá sentada, numa pedra, ao frio, a determinar se realmente quero ir para casa ou não... E estou à espera nem sei eu muito bem do quê. Mas estou lá. E enquanto estou lá sentada, uma das estradas ficou cortada de repente. Aquela estrada familiar? O caminho para casa? Pois foi, fodeu-se... e agora a minha escolha já não é uma escolha,  é a minha única opção. E nessa opção não tenho nada a não ser mais frio, mais vento, e uma longa caminhada até casa. E sinceramente, não sei se com este frio alguma vez vou chegar de novo a casa... Mas tenho de me levantar, e pelo menos tento, porque se continuar a andar, o vento vai eventualmente abrandar, o frio vai ser uma coisa do passado...e eu vou voltar a ser eu mesma.

23
Out17

Número ímpar...

Little Miss Sunshine

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Os dias vão passando tão rápido, como àgua do mar entre os dedos. Mais um Verão veio e se foi, a escola/universidade que recomeçou, aos poucos os corredores foram-se enchendo de pessoas jovens que falam e riem, malas nos ombros ou à tira-colo, cadernos na mão e um futuro pela frente. De um mês para o outro o trabalho intensificou-se. De repente, surgem viagens para fazer, novos horizontes e novas parcerias, novos projectos profissionais e pessoais... A vida corre depressa, sem pedir licença. Andamos sempre para a frente, mesmo quando achamos que estamos a andar para trás, por isso olhar para trás está fora de questão.

 

A minha caminhada por esta vida, com as minhas filhas pela mão, tem-me ensinado que quando estamos sózinhos somos muito mais fortes. Todos os dias o ginásio também me ensina isso, que os limites estão muitas vezes na nossa cabeça e que é o nosso medo que nos impede muitas vezes de levar tudo à frente, como tem de ser.

 

Sózinhos podemos escolher o nosso caminho melhor, sem perder o foco, o centro, o equilíbrio. Egoísmo, dizem uns... ...mas se fosse egoísmo talvez eu escolhesse um caminho mais fácil que o meu. Deixar o coração sentir o que quer que seja está fora de questão. Bloqueio-te, estou sem tempo para o amor... há sempre problemas que sempre vêm com as emoções... E o tempo passa, a correr, sem pedir licença...e o que seria de mim sem os pequenos fragmentos de ti na minha vida? Porque o nosso coração nem sempre é simples. E amar nem sempre se resume a uma matemática de resultado par...

 

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