Uma noite de trabalho...
Hoje estou no turno da tarde/ noite. Isso significa saír do trabalho lá para as 21h, apanhar o autocarro e cair na cama, porque no dia seguinte começo a meio da manhã outra vez. Esta semana vai ser assim, sem dó nem piedade.
Hoje é daqueles dias em que odeio mesmo o meu trabalho. Vou para lá, mas desde que acordei que já não me apetece fazer absolutamente nada, porque nem sequer vale a pena. Não sou reconhecida pelo que faço, é só dizer mal desta e daquela, enfim, vida de supermercado - que não é diferente da vida de outro local de emprego qualquer onde existam muitas mulheres.
O meu namorado ontem foi renovar o visto dele pessoalmente. Aqui cobram o dobro se fores pessoalmente renovar o teu Visto, pois se o fizeres pelo correio é bem mais barato, só que tens de esperar de 3 a 13 semanas para o reaveres. O rapaz foi a Birmingham e tudo (que não é nada perto), gastou montes de dinheiro de transportes, horas de viagem, para os gajos se virarem para ele e lhe dizerem que precisam de 'investigar' ainda mais a situação de estudante dele.
Resumindo... Pagou uma pipa de massa, e não trouxe o visto renovado e agora tem de esperar que os gajos do Home Office lhe mandem o passaporte para casa daqui de 3 a 13 semanas a contar de ontem. Fiquei piursa!!! Isto, porque estamos de viagem marcada para Portugal dia 29 de Julho, o rapaz ainda tem de ir tratar do visto Português, e eu estou mesmo a ver que as coisas vão (mais uma vez) andar apertadas para o nosso lado...
Odeio isto... A sério... já não chega odiar o meu trabalho ao ponto de me dar a travadinha de cada vez que eu tenho de regressar após as folgas (e que tenho tentado procurar outros trabalhos, eu até tenho e muito... mas sem sucesso), ter de mudar de casa daqui a 2 meses porque o senhorio resolveu vender a casa, ter que tentar arranjar um empréstimo de 3,500 libras ( e o facto de eu mudar de casa de 6 em 6 meses não dá garantias nenhumas a ninguém, e por isso aquilo que eu mais recebo no correio são recusas de crédito), eu ando de todo.
Mal consigo levantar a cabeça de tanta tempestade que por aqui vai. As ondas? Bem, são de cinco metros às vezes, com direito a rasgar fotografias, mandar tudo para o chão de raiva e frustração, acabar num choro compulsivo e na já minha tão frequente frase: «eu quero voltar para casa» (interprete-se como eu quero voltar para Portugal, onde um T1 em Lisboa são 350 euros e um trabalho é muito mais fácil de gostar, mais que não seja porque todos falam a mesma língua).
Mas, mal ou bem, apesar da vontade de voltar, a verdade é que a minha vida aqui nem tem sido muito má, e eu tenho um medo horrivel de voltar e de entrar no mesmo ciclo de tristeza porque sinto a falta disto aqui. E mais, as garantias de arranjar um emprego depois do mestrado são muito mais positivas e com uma muito maior percentagem de sucesso... Afinal, eu quero ter um escritório só meu, com uma janela sobre uma cidade qualquer Europeia ou Americana. Esse sim, sempre foi o meu sonho.
E não é fácil perseguir sonhos quando se é uma pessoa tão cabeça dura como eu, ou com tantas inseguranças e medo do incerto. A não esquecer que estou a fazer 29 anos não tarda, e para o ano tenho 30. Começo também a pensar em criar raízes num sítio onde tenha a certeza de que posso criar uma família sem medos e sem problemas... E sinceramente, a Inglaterra não é o local ideal para se ter uma família - e muito menos a India... E voltar para Portugal sem ter o gajo a falar fluentemente o Português é um pouco complicado...
Sei lá... Isto agudiza-me profundamente, porque nesta altura sinto que não estou bem em lado nenhum. E que a minha vida vai ter de mudar, lá isso vai, nem que seja de país. Eu começo a aperceber-me que aqui não dá. Esta chuva incessante a meio do Verão, frio de tal maneira que eu ainda não pousei o anorake de vez, está a dar cabo de mim...
E o meu trabalho é o pior de tudo, mas não vamos voltar a isso, senão ainda me dá na cabeça e telefono a dizer que não vou nunca mais. Enfim... Coisas da vida. Tenho de comer e calar, como diz o outro, porque felizmente não me falta comida à mesa (se bem que estou de dieta, e portanto como menos, mas com mais qualidade), e tenho conseguido mal ou bem, colmatar todos os buracos da minha vida com perspectivas de um futuro mais brilhante.
O problema é que passamos a vida toda a batalhar que nem formigas (eu pelo menos) e depois vemos as cigarras descansadas a apanhar tudo o que cai do céu, e mais, sem o mínimo esforço... E depois eu pergunto... Será que eu sou uma tótó? Ando para aqui a esforçar-me mais do que posso e para quê? Em três anos nunca me sentei à sombra da bananeira, e só fiz sacrifícios, para quê? Para andar de joelhos no chão e cu alçado a limpar as embalagens de compota que os srs. clientes se dignaram a partir bem entre duas caixas? Isto quando não é vinho, ou cerveja, ou seja lá o que for... Sou supervisora, mas o nome tem muito mais de pomposo do que o cargo...
Sim, somos o apoio às caixas... Mas olhem, sinceramente, preferia voltar a ser operadora de caixa. É menos dinheiro, mas menos stress, menos correrias, menos chatices e pronto... Também não precisava de fazer turnos tardios. Tantas discissões tenho eu tido com o meu namorado, que verdade seja dita, tem uma paciência de santo, isto porque eu não consigo tomar as rédeas da minha vida porque tenho estado demasiado ocupada a tomar as rédeas da NOSSA vida conjunta, com os problemas dele - e os meus - às costas.
E não dá. A corda rebentou esta semana. Ando miserável, infeliz e com medo de deixar mal as pessoas que me deram a mão e apostaram em mim (a minha chefa). E eu não sou pessoa de queimar pontes, ou em mais português, fechar portas. Não sou pessoa desse tipo, pronto. Mas a porta do supermercado vai ter de ser fechada atrás das costas, mesmo que isso signifique chorar convulsivamente depois de entornar o leite.
Porque, meus amigos, viver aqui é bom, mas é uma merda também. Não chega já o facto de ter de falar em Inglês constantemente, os estrangeiros são alvo e discriminação constante, mesmo que esta não seja directa. Eu olho para as minhas colegas de universidade inglesas e olho para mim... elas estão todas juntas a um canto e eu estou sózinha noutro. Isso basta para provar que a política do todos diferentes, todos iguais não se aplica.
Resumindo, estou para aqui a pensar se telefono a dizer que não vou ou não... Mas lá estou eu a pensar nas minhas colegas. E a vontade que me dá é mesmo mandar todos à merda e pôr-me na alheta de vez. Ontem estive mesmo quase a comprar uma passagem só de ida para Lisboa. Começo a ter relapsos destes com alguma frequência e isso significa só uma coisa... Que eu não estou feliz com a vida que escolhi.
Mas como a minha prima me disse ontem, e com muita razão, é so mais ano e meio e pronto. Depois disso estou livre para me mudar para onde eu quiser, fazer o que eu quiser, etc, etc, etc... E isso é capaz de ser mesmo bom. E isso é mesmo o que eu preciso. Ano e meio parece tanto... Mas para quem já passou 3 anos assim, ano e meio não é nada...
Mas o tormento do meu emprego é a pior coisa que pode existir... Por isso, hoje decidi...
Não vou.