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E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

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03
Out08

A mim...

Little Miss Sunshine

Hoje fui à psicóloga. Queria desabafar, tentar entender porque é que me deixo maltratar tanto, tantas vezes, porque é que a raiva dentro de mim dispara a 200 km à hora, porque é que para mim nenhum homem será nunca perfeito ou suficiente para me fazer feliz.

 

Não sei porque é que não me valorizo ou porque é que acho que os outros são sempre muito melhores que eu, mesmo que não sejam. A minha percepção das coisas vem de um passado distante que eu não quero perdoar, não sei bem porquê. Coisas que foram ditas e pessoas que não estiveram tão presentes e que por isso não me providenciaram aquilo que eu esperava, ou aquilo que eu precisava.

 

A falta de atenção e a falta de carinho que eu vi acontecer, e que transporto para todas as figuras masculinas da minha vida, tem a ver com uma falta de amor próprio que eu cultivei a partir de fragmentos do passado. Sempre achei que era normal ser pouco importante, ser indesejada, ou mesmo ser acusada dos fracassos de quem deveria limpar as minhas lágrimas e abraçar-me. Chorei.

 

Tenho medo. Não confio. Não acredito. Defendo-me. Escondo-me. Não peço desculpa nem peço perdão. Não acho que a culpa seja inteiramente minha. Penso que as minhas relações se revêm muito no exemplo que eu tinha em casa, o qual não quero para mim. Quero independência, e ao mesmo tempo quero poder depender de alguém.

 

A falta de confiança e o querer fazer tudo pelos outros porque não acredito que alguém alguma vez supere as minhas expectativas, tem a ver com uma necessidade ainda maior de ter alguém que cuide de mim, que me trate bem e que não me minta ou não me faça crer no impossível. Alguém que não me enxote ou me mande calar, alguém que não me trate como se eu fosse um cão, indefeso, dependente, preso num canil de solidão e angústia, incompreensão e tristeza.

 

Não sou um cão, sou uma pessoa. Uma pessoa que deveria ser feliz, e que deveria ter relacionamentos saudáveis com as outras pessoas. Mas a capa com que me tapo previne que me magoe, e empurra-me para um mundo de solidão, pois por mais que eu queira, as cicatrizes estão lá e ainda sangram.

 

Eu sou daquelas pessoas que se estiver a passar fome, ninguém sabe, porque eu tenho medo de enfrentar quem quer que seja e admitir um fracasso, mesmo que seja um fracasso pequeno. Isto aplica-se especialmente se tiver de recorrer ao paterno, porque acredito que a minha falta de auto estima vem da necessidade que eu tenho de ser aceite por ele, sem ser criticada ou dar azo a crítica.

 

Estou magoada. Estou triste. Porque por mais que escave em busca de uma resposta para toda a minha raiva, e por mais que tente encontrar alguém que me entenda sem me esfaquear pelas costas, enquanto não sarar o passado e entender que as pessoas são todas diferentes, e os erros das pessoas estão no passado, nunca poderei andar para a frente. E como é que eu posso andar para a frente se tenho medo de olhar nos olhos dessa pessoa e dizer:

 

Sou uma pessoa única, sem medos, batalhadora. E tu?

 

Chega de me deitarem abaixo. Chega. A partir de hoje só faço aquilo que me faz feliz.

Nova sessão na psicóloga na próxima sexta-feira.

 

 

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