Decidi que este fim de semana vou deitar fora tudo o que está velho, roto, ou que não me serve. Vai tudo ser metido em grandes sacos e distribuido às lojas de caridade mais próximas. Esta vai ser a primeira fase da minha limpeza pessoal, que passa por me dar mais valor a mim mesma e investir naquilo que me faz sentir bem.
"Infelizmente há pessoas que acendem faíscas atrás de faíscas, mas nunca provocam a chama. Porquê? Simplesmente porque gostam do efeito faísca, procuram adrenalina que ela produz, pois fá-las esquecer por um momento a sua realidade interior - vazio, solidão, pânico de amar, medo do abandono, medo de que deixem de ser amadas, desvalorização.
Enquanto estiverem sob o efeito da droga que é a adrenalina, estas pessoas ficarão viciadas nas faíscas iniciais das relações, pois é uma droga que tem um efeito potente.
Uma vez passado o efeito-faísca, vão querer mais. E, regra geral, isso não costuma dar-se outra vez com a mesma pessoa, mas com alguém desconhecido, a quem não estão ligadas por qualquer laço afectivo e com quem possa surgir uma nova faísca. Sem laços afectivos não há compromisso, e sem compromisso não há medo."
Forner, Rosetta (2005) 'A Rainha que mandou à fava o cavaleiro de Armadura Oxidada,' Editora Pergaminho: Lisboa, pag.181
Uma das fortes razões que me levou a vir estudar para o Reino Unido foi mesmo a grande lista de oportunidades que aqui se encontram, profissionalmente, mas também a nível pessoal - ao contrário de Portugal. E não me levem a mal por dizer isto, sou Portuguesa, e adoro o meu país... Mas, por exemplo, nunca na vida me passaria pela cabeça seguir uma carreira académica em terras lusas. A oportunidade estáva aqui e eu agarrei-a.
Muitas vezes, nesta minha jornada de estudante, e também de emigrante, percorri caminhos dificeis. Fui feliz, mas dentro dessa felicidade também tive momentos de decepção, desilusão, saudades e alguma nostalgia... No fundo, foi o meu desafio a mim própria que tomou conta de mim, e por mais difícil que tenha sido, a verdade é que - como a minha mãe me disse numa conversa recente - eu sou uma pessoa de objectivos e desafios... Portanto, até hoje, foi tudo muito validado por essa vontade de vencer e ser única, num mundo que está em constante mudança...
Só que, por esta ou por aquela razão, cheguei a um ponto de estagnação. Acabei por suprimir essa 'drive' (como aqui lhe chamam) de sonhar e lutar pelos meus objectivos. Talvez por achar que, ao atravessar as barreiras dos 30, estáva na idade de assentar e parar de sonhar... talvez por preguiça e comodismo... a verdade é que deixei arrastar a minha vida para uma situação que já não me fazia feliz de todo. Vocês todos sabiam disso, eu é que me deixei cegar pelo meu medo de ficar sózinha.
Foi preciso um outro alguém aparecer na minha vida, para eu me aperceber daquilo que estáva a perder... esqueci-me da pesonagem que criei nos últimos 3 anos, e voltei a renascer como a pessoa que sou: feliz, atrevida, sorridente, e - acima de tudo - capaz de vencer qualquer obstáculo, qualquer barreira... Quase a sentir-me como uma teenager, muitas vezes de coração aos pulos cada vez que recebo uma nova mensagem, ou um tweet, rio mais, choro menos... e nada de gritarias...pergunto-me 'n' vezes - como é que me permiti esquecer de mim própria assim? Em nome do quê, ou de quem?
Quando é que eu achei que não merecia mais do que aquilo que tinha? Quando é que eu parei de me amar a mim mesma? Porque é que acho que não mereço melhor...? Porque é que me adaptei aos outros mas nunca ninguém se adaptou a mim?
Há melhor. Muito melhor... Mas tão melhor...
Libertar-me destas correntes não vai ser tarefa fácil, mas agora pelo menos sei aquilo que quero... E não está em Hatfield. Pode até não estar sequer no Reino Unido. Mas para já, a vontade de trilhar caminhos de desafio profissionalmente, e o desejo de conhecer essa pessoa misteriosa que tomou conta da minha vida - mas sem tomar conta de mim - são agora os meus objectivos principais. E nunca fui tão feliz...
Para todos aqueles que acham que não merecem felicidade, é tudo uma desculpa que nós metemos na nossa cabecinha oca porque temos medo de arriscar e saltar para o desconhecido. Mas, por experiência própria, vos garanto que saltar para o desconhecido é bem melhor do que viver numa eterna solidão - por mais acompanhados que estejamos.
O casamento foi oficialmente cancelado.
Vou mudar de casa em breve e vou SÓZINHA.
Mas não tenham pena... Nunca fui mais feliz do que agora...