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E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

15
Jan18

Quando as coisas mudam...

Little Miss Sunshine

Há dias em que o céu está escuro, chove e faz vento. Nesses dias até o frio entra pelas frestas das costuras do casaco, e arrepia. Esses dias são os piores. Dias como o de hoje, em que eu devia estar a prestar atenção naquilo que faço, mas em vez disso estou aqui a escrever para vocês, algo que já não fazia há muito tempo...! Desde o ano passado (esta piada, eu tinha de mandar, porque apesar de ser chata ainda tem a sua graça).

 

Nestes dias ando perdida. Hoje então perdi completamente a noção do que quero, do que faço e daquilo que estou a construir - se é que estou a construir alguma coisa. A vida passa fugaz e eu não tenho sequer a oportunidade de dizer um 'ai' ou um 'ui'. Passa e pronto. E eu ás vezes sinto mesmo que a vida se ri nas minha cara...  Sentada neste meu escritório, com um mapa do mundo atrás das minhas costas a relembrar-me todos os dias que o mundo é grande...! A sério...!!!? Eu a sentir-me pequenina e sem grande capacidade de o explorar. Nem sei se o quero explorar, porque quem me conhece sabe que eu odeio andar de avião.

 

Mas a vida é mesmo assim, e em Dezembro estive a trabalhar uma semana em Trinidad & Tobago. Com o aumento de parcerias da universidade, o meu trabalho aumenta também, juntamente com as oportunidades de conhecer um bocadinho mais do mapa que está atrás de mim no escritório. E para muitos isso é sorte, para outros azar... no entanto, para mim é a vida... e na minha vida hoje só quero mesmo é enrolar-me na minha cama que nem um ouriço-cacheiro, e chorar baba e ranho porque as coisas estão a mudar. E eu não tenho controlo, porque me pedem aquilo que eu não posso dar. Não posso dar agora aquilo que perdi e que me demorou tanto a (re)encontrar! A minha liberdade e a minha paz...

 

 Mas se de um lado tenho a liberdade e o potencial de poder fazer mais e melhor pelo novo e não vivido, por outro também cheguei a uma encruzilhada onde o que é familiar, seguro e conhecido me estende a mão uma última vez. E a questão aqui é só uma... Qual é o caminho a seguir? Porque nesta altura eu ando pelo meio dos dois caminhos, um bocado confortável - é verdade.

 

- Mas porque raio é que as coisas têm de mudar?  - pergunto-me eu meio dormente, ainda a pensar se o que sinto é o medo de perder a segurança dos últimos anos, ou se é o medo de perder um amor que foi - até hoje - o mais forte que vivi? Infelizmente não vingou por uma série de situações complicadas, que só eu sei. E o saber dá medo, claro que dá.

 

As coisas mudam quando têm de mudar e eu sei que ás vezes o facto de surgirem estas dúvidas só significa que tudo o que vivi até hoje não foi em vão. As minhas filhas comprovam esta minha tese improvisada. Mas é quando vemos o vento a levar para longe aquilo que tinhamos dado como certo que outras questões se levantam, nomeadamente se as decisões que tomámos foram as mais correctas. Se o facto de termos de ser ligeiramente egoístas depois de uma fase de maior altruísmo nos coloca num ponto de vulnerabilidade pessoal que poderia ter sido evitado, bastando para isso ser simplesmente despreocupada e corajosa.

 

Porque meus amigos, nesta altura eu não estou a ser nada corajosa... agora que o vento está a fustigar a minha cara e a arrepiar-me de frio, mesmo com uma montanha de casacos e camisolas a proteger-me, eu sinto que preciso de ir para casa, porque é confortável e seguro e quentinho. Se eu continuar no frio, o meu coração vai gelar mais, as minhas mãos vão ficar em pedra, e eu não vou conseguir fazer nada de mim mesma - mesmo sabendo que se me aguentar mais um bocadinho, o vento vai eventualmente abrandar, e se eu começar a caminhar, o frio vai ser uma coisa do passado...e eu vou voltar a ser eu mesma.

 

Por isso, nesta altura, eu estou na encruzilhada. E estou lá sentada, numa pedra, ao frio, a determinar se realmente quero ir para casa ou não... E estou à espera nem sei eu muito bem do quê. Mas estou lá. E enquanto estou lá sentada, uma das estradas ficou cortada de repente. Aquela estrada familiar? O caminho para casa? Pois foi, fodeu-se... e agora a minha escolha já não é uma escolha,  é a minha única opção. E nessa opção não tenho nada a não ser mais frio, mais vento, e uma longa caminhada até casa. E sinceramente, não sei se com este frio alguma vez vou chegar de novo a casa... Mas tenho de me levantar, e pelo menos tento, porque se continuar a andar, o vento vai eventualmente abrandar, o frio vai ser uma coisa do passado...e eu vou voltar a ser eu mesma.

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