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E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

27
Abr19

Também é preciso saber 'desinvestir'...

Little Miss Sunshine

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Hoje em dia não é difícil encontrar pelas redes sociais videos que nos ensinam a viver melhor, a ser uma pessoa melhor, a amar melhor. No entanto, esses videos focam-se essencialmente no nosso ego individual, e reforçam a mensagem que nada depende do nosso trabalho, ou que não precisamos de investir se quisermos que algo permaneça na nossa vida para deixar lições, recordações, experiência. São videos e mais videos que sublinham o trabalho que os outros terão de fazer se quiserem permanecer no nosso circulo, na nossa vida, no nosso mundo.

 

E muitas vezes, quando investimos um mês, dois meses, meio ano ou ano e meio naquilo que achamos que está certo para nós, e aceitamos sem reservas o que quer que tenhamos de aprender dessa experiência - seja ela bem sucedida ou não - no fundo achamos sempre que nunca é aquilo que deveria ser, que há sempre muito melhor por aí, e que num mar de tanto peixe, não vale a pena investir em algo que até pode ter pernas para andar, mas significa algum trabalho da nossa parte. Mensagens de efemeridade nos dias que correm são alimentadas por uma atitude de quase desleixo em relação à família, ao trabalho, ao amor.

 

Quem não investiu nunca no que não devia, ou em quem não devia, que levante a mão. Aposto que ninguém se vai acusar. Todos nós perdemos tempo com coisas que na altura julgámos essenciais para nós. A carreira, os cargos, o dinheiro, a paixão proíbida, a relação física que nunca foi para ser mais nada que isso, as esperanças que os ínicios alimentam, as decepções que os fins trazem, e o peso nos ombros naqueles dias mais negros da nossa existência onde só nos apetece esquecer, fechar os olhos, e esperar que com o novo dia venha mais luz, e menos memória.

 

Muitas vezes são as experiências que vivemos - e as consequências das nossas escolhas - que apagam todos os dias um bocadinho a nossa chama. Juro que ás vezes parece que vivo num mundo só meu, de fantasia, onde na minha cabeça nada de mal me pode acontecer, onde eu posso ser feliz mesmo quando estou sózinha, e que com a minha força da natureza típica, consigo levar tudo à frente (cortesia, talvez, do meu vício de ginásio). Físicamente estou apta a me defender. Mas e quando o atentando que temos de enfrentar é contra o nosso lado emocional, o lado que governa a nossa auto-estima? Quando a confiança é estilhaçada, o que fazer? Quando o nosso mundo não é nada daquilo que sonhámos... o que fazer?

 

Ás vezes deixamos entrar pessoas na nossa vida, para que elas nos ensinem aquilo que não queremos para nós. Ás vezes deixamos de lutar pelos cargos profissionais que nós queremos, porque sabemos que é tempo e energia gastos em vão. Em qualquer dos casos, a desilusão vem acompanhada de dor, e de um sentimento de grande injustiça. E por cada momento destes que eu passo, a paixão vai-se apagando, a vontade de investir nas coisas também vai ficando pelo caminho. Há situações pelas quais não deveriamos nunca ter de passar... mas só passando por elas é que sabemos o que não nos serve, e é a partir daí é soltar amarras e seguir em frente, deixando para trás quem não merece seguir ao nosso lado, e os projectos que não fazem parte do nosso futuro. 

 

No entanto não troco de destino como troco de camisa. O meu senso comum é extremamente bom a avisar-me quando as coisas não andam a meu favor. Na minha teimosia, não vejo muitas vezes as bandeiras vermelhas, os sinais de perigo. Quando dou por mim, muitas vezes já estou dentro de um buraco e tenho de usar toda a minha força e energia para saír dele. Quero dizer com isto que devemos dar sempre hipótese a qualquer oportunidade que se apresente à nossa frente, desde que isso não comprometa a nossa identidade, a nossa felicidade e a nossa saúde. Se ignorarmos os alarmes dentro de nós, que o façamos em plena consciência de que haverão consequências, e que nós seremos sempre os maiores lesados pelas nossas escolhas mais pobres...

05
Abr19

O Tempo Certo

Little Miss Sunshine


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Todas as noites gosto de publicar frases de inspiração no meu mural do Facebook, algumas citações, conselhos, chamadas de atenção. É muito raro não publicar, tornou-se um hábito meu, algo que gosto de fazer como que a assinalar que estou viva e estou bem, especialmente depois de um dia em que a minha passagem pelas redes sociais pouco ou nada foi. Muitas das frases que eu publico são um reflexo dos meus dias, das pessoas com quem me cruzo, das experiências que vou tendo pelos cantos da vida.... Há tantas frases na internet, algumas que não me dizem absolutamente nada… outras com tanta carga emocional, que é difícil ficar-lhes indiferente.

 

Muitas das frases com que me cruzo ultimamente nas minhas pesquisas noturnas virtuais são frases sobre paciência, frases que nos dizem que esperar pelo momento certo é importante, acreditar que o universo vai conspirar a nosso favor se nos soubermos acalmar no espírito, na mente, e no coração. Quem me conhece sabe bem que paciência não é o meu forte. Eu tento realmente não deixar as minhas emoções tomarem conta da minha razão, mas não é de todo fácil tentar contrariar uma natureza meio agreste que já se vem aperfeiçoando há 40 anos.

 

Ser paciente é, aparentemente, o segredo das pessoas que vivem mais felizes, porque enquanto esperam vão-se refinando, melhorando. As pessoas com ambição e vontade de vencer na vida também são pacientes, esperam pelo momento certo, as oportunidades certas para poderem seguir em frente na sua carreira sem muitos sobressaltos. As pessoas que estão em relacionamentos felizes, são também pessoas que foram pacientes com o tempo, porque o tempo as ajudou a nutrir o amor a dois, e com isso veio também a tolerância, e a paz.

 

Parece que toda a gente à minha volta é versado em paciência. Toda a gente menos eu. E talvez por isso é que eu me sinta tão insatisfeita no meu canto, porque para mim tudo está a demorar um tempo anormal, um tempo absurdo. Eu quero subir de cargo, quero mais dinheiro, quero um parceiro, quero uma casa, quero um negócio… para ontem. E com essa sofreguidão eu vou-me extinguindo a pouco e pouco porque a energia vai diminuindo, começamos a achar que não somos suficientes, que não estamos onde tínhamos de estar – de acordo com a sociedade, e que se lixe a sociedade -  que tudo está estagnado, quando na realidade está a andar.

 

O tempo tem-me ensinado que cada vez mais eu consigo controlar menos a minha vida. Que na minha vida tudo tem o momento certo. Que eu posso até achar que no passado eu estava em pleno controle do meu destino, quando na verdade eu estava era mesmo a remar a favor de uma maré que tinha de ser rápida. Hoje eu entendo cada vez mais o que significa esperar. Não gosto, mas aceito que esperar tem as suas vantagens. Espero pelos documentos da cidadania Inglesa da minha filha, espero pelo cargo fantástico de gestão (que há-de acontecer quando tem de acontecer), espero pelo meu sonho de abrir o meu próprio negócio, espero (sentada) por um amor que me complemente… e enquanto nada disso acontece, eu vou-me aperfeiçoando, vou-me atualizando, vou trabalhando em mim e aproveitando as folgas que a vida me dá para respirar, para descansar, beber um bom vinho e dormir sem qualquer peso na minha consciência, ou nó na garganta.

 

Ser mais paciente trouxe-me paz. Vou fazendo o que posso, não espero mais nada de ninguém, não sou apanhada de surpresa… e por entre um degrau e o outro, eu vou traçando o meu caminho, um bocado em passo acelerado e um bocado aos pulinhos - tal qual Dorothy numa estrada de tijolo amarela…

 

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