Também é preciso saber 'desinvestir'...
Hoje em dia não é difícil encontrar pelas redes sociais videos que nos ensinam a viver melhor, a ser uma pessoa melhor, a amar melhor. No entanto, esses videos focam-se essencialmente no nosso ego individual, e reforçam a mensagem que nada depende do nosso trabalho, ou que não precisamos de investir se quisermos que algo permaneça na nossa vida para deixar lições, recordações, experiência. São videos e mais videos que sublinham o trabalho que os outros terão de fazer se quiserem permanecer no nosso circulo, na nossa vida, no nosso mundo.
E muitas vezes, quando investimos um mês, dois meses, meio ano ou ano e meio naquilo que achamos que está certo para nós, e aceitamos sem reservas o que quer que tenhamos de aprender dessa experiência - seja ela bem sucedida ou não - no fundo achamos sempre que nunca é aquilo que deveria ser, que há sempre muito melhor por aí, e que num mar de tanto peixe, não vale a pena investir em algo que até pode ter pernas para andar, mas significa algum trabalho da nossa parte. Mensagens de efemeridade nos dias que correm são alimentadas por uma atitude de quase desleixo em relação à família, ao trabalho, ao amor.
Quem não investiu nunca no que não devia, ou em quem não devia, que levante a mão. Aposto que ninguém se vai acusar. Todos nós perdemos tempo com coisas que na altura julgámos essenciais para nós. A carreira, os cargos, o dinheiro, a paixão proíbida, a relação física que nunca foi para ser mais nada que isso, as esperanças que os ínicios alimentam, as decepções que os fins trazem, e o peso nos ombros naqueles dias mais negros da nossa existência onde só nos apetece esquecer, fechar os olhos, e esperar que com o novo dia venha mais luz, e menos memória.
Muitas vezes são as experiências que vivemos - e as consequências das nossas escolhas - que apagam todos os dias um bocadinho a nossa chama. Juro que ás vezes parece que vivo num mundo só meu, de fantasia, onde na minha cabeça nada de mal me pode acontecer, onde eu posso ser feliz mesmo quando estou sózinha, e que com a minha força da natureza típica, consigo levar tudo à frente (cortesia, talvez, do meu vício de ginásio). Físicamente estou apta a me defender. Mas e quando o atentando que temos de enfrentar é contra o nosso lado emocional, o lado que governa a nossa auto-estima? Quando a confiança é estilhaçada, o que fazer? Quando o nosso mundo não é nada daquilo que sonhámos... o que fazer?
Ás vezes deixamos entrar pessoas na nossa vida, para que elas nos ensinem aquilo que não queremos para nós. Ás vezes deixamos de lutar pelos cargos profissionais que nós queremos, porque sabemos que é tempo e energia gastos em vão. Em qualquer dos casos, a desilusão vem acompanhada de dor, e de um sentimento de grande injustiça. E por cada momento destes que eu passo, a paixão vai-se apagando, a vontade de investir nas coisas também vai ficando pelo caminho. Há situações pelas quais não deveriamos nunca ter de passar... mas só passando por elas é que sabemos o que não nos serve, e é a partir daí é soltar amarras e seguir em frente, deixando para trás quem não merece seguir ao nosso lado, e os projectos que não fazem parte do nosso futuro.
No entanto não troco de destino como troco de camisa. O meu senso comum é extremamente bom a avisar-me quando as coisas não andam a meu favor. Na minha teimosia, não vejo muitas vezes as bandeiras vermelhas, os sinais de perigo. Quando dou por mim, muitas vezes já estou dentro de um buraco e tenho de usar toda a minha força e energia para saír dele. Quero dizer com isto que devemos dar sempre hipótese a qualquer oportunidade que se apresente à nossa frente, desde que isso não comprometa a nossa identidade, a nossa felicidade e a nossa saúde. Se ignorarmos os alarmes dentro de nós, que o façamos em plena consciência de que haverão consequências, e que nós seremos sempre os maiores lesados pelas nossas escolhas mais pobres...