1 mês para Portugal
Tenho andado super em baixo desde que a minha mãe se foi embora na quinta-feira. Acho que as minhas hormonas andam a dar cabo de mim, verdade seja dita. Pensava que o pior já tinha passado, mas eis que a montanha russa emocional voltou à carga de novo. Não estou com a mínima motivação de continuar por aqui (pelo Reino Unido - eu sei, vocês já devem estar fartos de me ouvir! Mas eu tenho de escrever isto várias vezes para me capacitar que o meu percurso aqui acabou e que tenho de voltar para casa!). Agora ainda mais, com esta minha novidade a caminho, muito menos vontade tenho para aturar este tempo horrível, este isolamento constante e esta labuta diária para ter um lugar ao sol - que aqui nem dá para ter porque sol é coisa que não dura!
Eu quero voltar para Portugal, para perto da minha família e dos meus amigos, para o país do sol, do calor e da praia (praia que eu ía mesmo no Inverno para acalmar as minhas energias negativas e me devolver a calma e a paz de espírito - que saudades do mar azul, do céu azul, da areia fina, do calor). Aqui e ultimamente sinto-me sempre presa, isolada, sem possibilidade de ir para lado nenhum - e se for para algum lado, tenho de ir numa carrinha monstruosa e nunca vou para além de Londres, onde visitamos a família do Edson e voltamos para casa - normalmente tarde e de noite. Infelizmente, de há umas semanas para cá andar naquela carrinha tornou-se muito incómodo para mim, e eu chego a casa muitas vezes com dores e totalmente desgastada, como se um camião tivesse passado por cima de mim - por isso decidi que enquanto não tivermos um carro eu não vou a mais lado nenhum dentro daquela carrinha. Prefiro gastar dinheiro e ir de transportes!
E depois, não é só o facto de me sentir assim, sem capacidade de me mover, visitar sítios, conhecer novos concelhos e distritos. É o facto de não estar feliz com a minha vida no geral. Não estou. Apesar de amar o meu trabalho, há muitas coisas aqui que me fazem odiar as horas pós-laborais, e eu tenho alguma esperança que as coisas melhorem quando as aulas começarem, mas... e se não melhorarem? Não consigo ganhar coragem para saír de casa, a paisagem é sempre a mesma, não há ninguém aqui que possa ir tomar café comigo e com quem eu possa ter uma conversa, desabafar. Quando a minha mãe esteve aqui, foi óptimo para mim, porque eu saía de casa todas as manhãs, e passeavamos juntas, falávamos bastante, eu chorava também, porque não sabia mais o que era ter alguém para me dar conselhos e para ficar do meu lado e me apoiar e me dar alguma direcção...
Porque nestes últimos tempos eu perdi a minha direcção, o meu caminho. Não me lembro da última vez que ri a bom rir. Não estou feliz e em casa sinto-me cada vez mais incompreendida. As pessoas daqui não entendem o porquê da minha obscuridade. Ás vezes nem eu entendo de onde vêm tantos pensamentos negativos, tanta tristeza, tanta solidão. Tudo o que atingi até hoje, não foi sem muito sacrifício - a minha vida social e a minha capacidade de me relacionar com os outros foi certamente prejudicada e eu acho muito difícil confiar nas outras pessoas para o que quer que seja, e acabo muitas vezes a tentar controlar a minha vida e o meu mundo na esperança de encontrar alguma ordem - claro que não encontro ordem nenhuma, porque eu posso tentar controlar a ordem das coiusas, mas nunca conseguirei controlar as pessoas e os animais que vivem comigo, e dou muitas vezes por mim a chorar na casa-de-banho porque me sinto completamente deslocada e com medo do futuro.
Não quero que o tempo todo que eu passei sem a minha família e a lutar por um futuro melhor vá por àgua abaixo. Não quero regredir, quero muito andar para a frente, mas acho muito difícil que a minha vida melhore mais do que aquilo que eu hoje tenho - e que não é material, mas é o suficiente para me garantir segurança no futuro, aqui ou em Portugal. Tudo o que eu tenho de melhor na minha vida é o meu trabalho e o dinheiro que vem com ele. Sem o meu trabalho de professora vou ser para sempre infeliz, mesmo que a situação não seja permanente. E eu queria que as pessoas entendessem, que o meu marido entendesse, que eu quero muito mais que uma vida modesta. Eu não mandei tudo para o alto, para mais tarde me contentar com o básico e o seguro. Eu gosto de tomar riscos, eu gosto de ser diferente, eu queria marcar o mundo de uma maneira especial, com o meu conhecimento, com a minha maneira de pensar.
E cada dia que passa mais eu sei que isso não vai acontecer, e eu caio numa depressão ainda maior, porque começo a achar que a batalha que eu travei em terras britânicas durante seis anos não vai valer nada se daqui a 5 anos eu vou ter de viver a contar tostões para comprar o pão. Andei eu a viver longe da minha família, a estudar e a trabalhar que nem uma moura, sem ir a lado nenhum, sem saír para lado nenhum, sem o mínimo de diversão, para quê? Não. Sou uma pessoa com ambição. Sou uma pessoa que quer mais, que vê para além do obvio, alguém que luta por mais e melhor. Não sou uma mulher à moda antiga, e sei que muitos me criticam por isso, mas não tenho vergonha nenhuma de ser como sou. Hoje em dia, se não lutarmos nós mesmos por um futuro melhor, pelos nossos sonhos, eles acabam por se desfazer com o correr dos dias e com o aumento da nossa responsabilidade. E eu jurei a mim mesma, que os meus sonhos ninguém os mata - mesmo que os achem desfasados da realidade, mesmo que me acusem de ser pouco humilde.