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E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

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16
Out06

Intolerância religiosa?

Little Miss Sunshine

Esta semana nas notícias daqui só se tem falado da professora muçulmana que foi suspensa de uma escola porque usa uma burka enquanto está a leccionar. Segundo os académicos, isso não é prestar uma boa educação aos alunos a cargo dela. Ainda por cima, um certo senhor chamado Jack Straw, um gajo que faz parte de uma entidade governamental, foi apanhado a fazer comentários algo controversos sobre as mulheres que usam burka.  Segundo a professora, remover a burka é contra a religião dela, até porque ela lecciona rapazes e na religião dela não é permitido mostrar o rosto a membros do sexo masculino - independentemente da idade.

Muito sinceramente, esta situação é mais uma das que acontecem diáriamente neste país. Este país parece muito para a frentex em muita coisa, mas a verdade é que os Inglèses em especial são altamente racistas e têm a mania que podem mudar o mundo só porque eles acham que o podem mudar.

Senão, vejamos: esta cena com a Burka - desde quando é que uma professora é incapaz de leccionar só porque tem um véu a tapar-lhe a cara? Ela fala, os alunos ouvem. Ela escreve e os alunos lêem. Eu compreendo que seria mais fácil se ela leccionasse sem o véu (os alunos poderiam ver o movimento dos lábios, entender os sons, etc), especialmente porque ela está a leccionar minorias étnicas (como eles aqui chamam aos Indianos, Muçulmanos, Paquistaneses, etc...) e que normalmente já têm problemas com o Inglês, porque em casa falam punjabi, hindi, urdu...

Mas isso não é caso para a SUSPENDER! E muito menos a DESPEDIR! Ela está a seguir parâmetros da religião dela e que em nada a impedem de desempenhar as suas funções. Aqui isso chama-se discriminação, e é punível por lei. Aliás, foi com base nessa política de discriminação que eu consegui que me deixassem usar o pircing no meu nariz - no meu caso foi discriminação indirecta, porque eles estavam a deixar pessoas de outras etnias usar piercing no nariz e não me deixavam a mim: mais! Não havia nenhuma razão para essas pessoas usarem o piercing, apesar de me terem dito que a razão era religiosa.

Furiosa, perguntei às minhas amigas indianas e paquistanesas, e elas disseram-me que é uma moda, um "fashion trend", e que não tinha nada de religioso por detrás - é apenas uma tradição como tantas outras.

E baseada nisso, revoltada com a injustiça e a perseguição dos recursos humanos,  disse-lhe que também eu tinha tradições de Natal e que não era por isso que ía fazer as pessoas todas das outras religiões fazer uma àrvore de Natal ou ir à missa da meia-noite!!!

Mas estes gajos ingleses são uns racistas mesmo - e não me venham com cenas que não são, porque eu já comprovei por A + B que são. Não foi só a cena do piercing! Quando eu cheguei a este país, tive a sorte de ter um amigo fora de série (PORQUE HÁ SEMPRE EXCEPÇÕES À REGRA) que me ajudou em tudo mesmo. Foi-me buscar ao aeroporto, levou-me ao alojamento, andou a tratar das coisas todas comigo e só se foi embora quando eu estava devidamente instalada.

Mas nem tudo foi um mar de rosas. Assim que a universidade começou, e as apresentações nas aulas foram feitas, eu passei de ter montes de pessoas sentadas à minha volta para nenhumas pessoas sentadas à minha volta, no espaço de uma semana. No segundo ano as coisas foram diferentes, porque eu passei de portuguesa a boa aluna e já não me punham a etiqueta da nacionalidade, punham-me a etiqueta da mais-esperta-e-por-isso-melhor-andar-com-ela-pa-ter-a-simpatia-dos-profs.

Sou a mais inteligente? Sem dúvida! Enquanto estes gajos se endividam para ter um curso, e gastam os primeiros 2 anos do curso no 1º ano, a beber e a fornicar com toda a gente que se atravesse no caminho, e a gastar os empréstimos que mais tarde vão ter de pagar assim que começarem a trabalhar; eu ando a trabalhar 30 horas por semana num supermercado, a estudar full-time, a trabalhar num segundo trabalho que fica a uma hora de onde eu moro, ainda arranjo tempo para ir ao ginásio e tiro boas notas!!!

E estes gajos ainda se dizem civilizados. Podem ter um dos melhores sistemas sociais e médicos do mundo, mas em termos de metalidade parece que os anos de consumo de cerveja começam a pesar e não há nada na cabecinha destes individuos. Nem comida decente sabem fazer, é preciso mandarem vir chefs de frança e Itália.

Este país é cada vez mais o país de todas as nações europeias e asiáticas, e menos dos ingleses. Por isso eles que se ponham a pau, que respeitem as pessoas e as culturas delas, que aceitem as diferenças, por maiores que sejam. Nem sempre se justifica o ditado "Em Roma sê romano", porque se para se viver em Inglaterra se tem de ser culturalmente um Inglês, então eu prefiro mudar-me a tornar-me numa "chav", com 4 filhos aos 19 e solteira, a viver numa casa do estado a pagar uma minoria de renda, e à espera que o meu gajo venha visitar-me sempre que apanha uma piela no pub. Porque meus amigos, essa é que é a vida Inglêsa no seu estado bruto, essa é que é a vida popular de um Inglês de classe média/baixa.

E como quase 60% dos ingleses vive acima das suas capacidades ou no limiar da pobreza ( e nem sei como, são dos mais gordos da Europa!!!), pode-se dizer que esse tipo de vida é levado pela maioria das pessoas que me rodeiam cada vez que vou às compras no ASDA! 

É triste que esta gente se preocupe com merdinhas como um véu numa sala de aula em vez de olhar para a realidade nua e crua da vida Inglesa e dos Ingleses.

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