Princesas sem príncipes são mais produtivas e felizes...
Esta semana, numa conversa com uma amiga de longa data no Facebook, senti-me validada. Falávamos sobre relacionamentos, e de como é complicado ás vezes vencer estereótipos machistas que foram enraizados em nós, mulheres, desde cedo... e falámos de como homens e mulheres são criados de formas diferentes, e portanto têm expectativas diferentes em relação ás responsabilidades de uma relação, e até mesmo de um casamento. Juntem a esse ‘mismatch’ de expectativas uma dose pesada de diferenças culturais, e acreditem, foi esse o meu casamento durante cinco anos e meio.
Passei a minha infância (e muito da minha adolescência) a ver filmes e a ler romances onde a mulher era a personagem central, mas era sempre a mais submissa, a mais trabalhadora, a que sacrificava tudo, e dava, sofria e cuidava... Acabei por interiorizar esses códigos sociais como normais. Não são. Um tipo de homem que limita a minha maneira de ser pode ser muito interessante ao inicio, mas ao fim de um tempo as coisas azedam. Ninguém consegue manter-se longe dos seus verdadeiros valores e sonhos por muito tempo, e as coisas depois – claro! - dão para o torto. E a ironia disto? Eu senti-me sempre uma das personagem dos romances que li, dos filmes que vi... E procurava, encontrava, amava... na esperança de ser feliz. Mas na verdade mulher nenhuma precisa de um homem para ser feliz, da mesma maneira que nenhum homem precisa de mulher nenhuma para ser feliz. Isso são ilusões que nos venderam. Demorei mais de 30 anos para chegar a esta conclusão. Hoje, a minha noção de um relacionamento a dois está mais próxima de uma parceria ou sociedade, do que de um sacrifício. E não há nada de errado nisso.
Com quase um ano de separação em cima e a sobreviver com alguma tranquilidade, eu sei bem do que falo. O centro da minha vida são as minhas miúdas. Quem ama, respeita, e é capaz de se encaixar sem dano na nossa rotina – caso contrário nem vale a pena. Hoje, a minha felicidade é poder pagar as minhas contas, cuidar das minhas filhas e educa-las a verem sempre o meu exemplo: o dia a dia de uma mulher que tenta balancear maternidade e uma vida profissional a solo.
Filhas minhas são expostas ás realidades do nosso mundo, e não vêem, por exemplo, os filmes das princesas Disney que eu vi (nem as vezes que os vi). Se (quando) os vêem, eu tento estar sempre ao lado delas para poder descodificar os moralismos sociais antiquados desses filmes. Explico a realidade arcaica e fantasista mostrada e tento transpô-la para a realidade dos dias de hoje. Quero que cresçam a saber que, como meninas (e mais tarde, mulheres), o lugar delas no mundo é definido por elas mesmas e não por um homem, por mais audacioso ou aventureiro que ele seja. Elas são livres para explorar os sonhos delas, fazerem o que quiserem, na área que quiserem e sem limitações por serem do sexo feminino. Já chegam as limitações criadas pelas nossas sociedades.
Acima de tudo elas vão crescer a saber que não precisam de um homem que as salve porque elas próprias são capazes de se salvar a elas próprias, e quando as coisas apertarem, eu estarei aqui para elas. E o pai delas também. O resto são goji berries (ou mirtilos, o que preferirem).