O que significa estar sozinha
Estou sozinha há seis meses. Há seis meses que acordo sempre à mesma hora (7 da manhã se tiver sorte), despacho as miudas, levo-as à creche e à escola, e vou trabalhar. Quando não estou a trabalhar a mais pequena fica comigo, mas a meio da tarde tenho de ir buscar a mais velha. Depois, entre trabalhos de casa, banho e jantar sobra muito pouco tempo para as brincadeiras. Se o cansaço não tomou conta de mim, pelas 7h30 da tarde enquanto elas dormem eu trabalho mais um pouco, isto tudo antes de desmaiar na cama. Não tenho tempo para pensar em solidão. Não tenho tempo para pensar em refazer a minha vida. Os meus sonhos ainda me parecem um bocado longe, pelo menos enquanto elas não forem mais crescidas e independentes. Por isso, para mim, estar sózinha até é uma benção. Excepto quando elas estão doentes. A semana passada e quase toda esta semana elas andaram com febre, a mais velha a antibiotico. Faltei imenso ao trabalho. Não tinha ninguém para me revesar. O pai delas, ausente - como sempre. Chorei tanto porque pela primeira vez percebi que sim, estou sozinha. Quero andar para a frente mas estou presa ás minhas circunstâncias. Estou sozinha a tentar manter as minhas filhas vestidas, calçadas, lavadas e alimentadas - e para isso preciso de todos os centavos do meu ordenado. Quando falto no trabalho isso afecta as minhas contas ao fim do mês e tenho de fazer escolhas que nunca precisei fazer antes na minha vida. Estou sozinha a cuidar delas doentes, chorosas, febris, cansadas, quando só querem colo, mãe e mimo. E estou aqui, sózinha, a providenciar medicamentos, que precisam de ser tomados horas certas, e comida saudável, para que se curem depressa. Penso muito no futuro delas, se quiserem ir para a universidade, os custos disso... e tentar poupar para uma casa nossa, um lar seguro que não seja arrancado de nós devido ao aumento absurdo de renda ou à mudança de senhorio. A minha segurança financeira é importante para assegurar tudo isto. Mas nesta altura, segurança financeira eu tenho zero. E o pior é que trabalho tanto, a toda a hora, dentro e fora de casa... Ponho tanto esforço no que faço, tentando não perder os meus quase 8 anos de conquista e dedicação à minha carreira profissional, porque disso dependem os nossos projectos a três...! Quando dou por mim, estou completamente acabada. A saúde (ainda) não me faltou, graças a Deus. Mas as coisas estão tão complicadas que eu tenho umas análises para fazer, e o papel delas está há mais de 15 dias colado ao frigorífico... Não tenho tempo. Se a saúde me faltar não terei outro remédio senão curar-me sozinha. Nestes dias de aperto e grande desgaste é que eu sinto o que é realmente estar sozinha. E sinto falta de ser criança de novo. Mas os dias passam e eu sobrevivo. E como eu há montes de mulheres pelo mundo fora. Sozinhas... Que batalham. Que criam os filhos. Que, como eu, choraram muitas vezes sem que lhes limpassem as lágrimas, quando elas acharam sempre que não íam conseguir. Mas fizeram tudo, e fizeram-no sozinhas. Conseguiram. E desistir, na condição solitária que é ser mãe solteira (um termo que eu abomino), nunca poderá ser opção.