Fico magoada por ver pela internet (e não só) tantas demonstrações de ódio entre dois países que se deveriam dar como irmãos. Eu sempre ouvi dizer que o passado ficou para trás e é para ser esquecido. Amigos diziam-me isso quando eu chorava por ter perdido um namorado, os meus pais diziam-me isso quando eu lhes lembrava algo que fiz ou disse anos atrás... Mas na verdade as pessoas dizem essas coisas, mas não fazem. Preconceitos todos temos - e eu não sou perfeita. Mas é o que fazemos desses preconceitos que nos define como pessoas de boa índole ou nem tanto.
Aqui em Inglaterra estamos habituados a conviver com várias nacionalidades e várias etnias. Tolerância é palavra de ordem, e o engraçado é que aqui temos de ser unidos mesmo, porque também há pessoas ignorantes que se acham superiores, na sua maioria Ingleses. O facto de sermos imigrantes dá-nos uma perspectiva das coisas que não teríamos se estivéssemos em Portugal.
Quando eu disse à minha família que me ía casar com um Brasileiro, eu sei que muitos inicialmente não aprovavam da minha decisão. Foram precisos alguns meses, uma ida ao Brasil e outra a Portugal para que as coisas começassem a ser aceites e a cair na normalidade. Na minha cabeça, não entendo o porquê desse estigma contra o brasileiro, e o que mais me irrita é mesmo colocarem toda a gente no mesmo saco.
As pessoas não são todas iguais, e se há criminosos Brasileiros, também há criminosos Portugueses. O que não podemos assumir é que porque os há, todos o são. Nós temos muito a mania de tratar os outros de forma inferior, e de nos acharmos os maiores - só por isso nós já estamos a ser pessoas inferiores. Eu não quero dar aqui lições de moral a ninguém, mas após 6 anos a morar em terras Inglesas, eu já noto a diferença de pensar e agir entre mim e a minha família e amigos, por exemplo. Eu sou muito mais tolerante e já há certas coisas que não me chocam - mas chocariam a eles, quase de certeza.
Viajar abre os horizontes das pessoas, faz com que estas ganhem uma consciência de que somos realmente todos diferentes, mas no fundo somos todos humanos mesmo, com sangue quente a correr nas nossas veias, e por isso mesmo merecemos todos ser tratados de forma igual independentemente do credo, religião ou nacionalidade.
Num jogo de futebol, por exemplo, as coisas deviam ser celebradas com amizade e alegria: ninguém naquele jogo ía perder, pois ambas as equipas já estavam seleccionadas para os oitavos de final. Por isso, quando vi e ouvi das barbaridades entre Brasileiros e Portugueses em Portugal após o jogo, fiquei revoltada.
Aqui em Londres o clima foi de muita alegria e celebração. Claro que houve sofrimento de ambas as partes também, mas ninguém culpabilizou ninguém de nada. Nem precisava, já que o jogo terminou em empate. Como estou casada com um Brasileiro, dou-me muito mais com a comunidade Brasileira aqui em Londres - mas em 6 anos de vida aqui, os meus amigos portugueses contam-se pelos dedos... Já os Brasileiros, ultrapassam em vasta maioria o número de portugueses com quem eu me dou por estas bandas.
Por isso chega de ódio!!
Duas nações irmãs dever-se-íam unir contra o mundo e não contra elas próprias.
Nos jogos do Brasil eu vou continua a apoiar a equipa Brasileira de camiseta azul ou amarela, como tenho feito até hoje. Nos jogos de Portugal, vestirei a minha camiseta Portuguesa para dar sorte. Tenho orgulho de ser Portuguesa, mas tenho muito mais orgulho de ser uma Portuguesa ENTRE Brasileiros.
Estou muito feliz. Quando ele me mostrou a certidão do casamento pelo messenger fiquei contente, porque este é o primeiro passo para ter o meu maridão mais perto. O próximo passo é para a semana já, quando ele for ao Rio de Janeiro meter os papeis para o visto, e tirar os dados biométricos. E depois é cruzar os dedos e esperar que lhe emitam o visto o mais rápido possível para que ele possa vir para pertinho de mim...! Mmmh! Que saudade......!
As coisas começam a compor-se e a caminhar na direcção certa...
Faltam 8 dias para eu começar a contagem decrescente para o regresso do meu marido ao Reino Unido. 8 Dias para sairem os papeis oficiais do nosso casamento, e 16 dias até à entrada do pedido de visto... Depois disso, é só mesmo esperar que não levantem ondas, e emitam o visto o mais rápido possível.
Tenho de vos ser sincera, tem sido complicado gerir a distância. Dia 15 faz 1 mês que não estamos juntos. Graças às novas tecnologias, podemos conversar e ver-nos um ao outro, mas isso não é o mesmo que tê-lo aqui, ao meu lado. Ontem à noite, por exemplo, passei super mal. Acho que comi algo que não me caiu bem. Acordei às 2 da manhã, super mal disposta, e sem ninguém para me ajudar. Acendi a luz, e levantei-me. Percorri mentalmente todos os nomes dos meus amigos que moram aqui perto, ou aqueles com carro que facilmente me poderiam levar ao hospital se disso houvesse necessidade... Ninguém.
Senti-me triste. Rápidamente constatei que não há ninguém da minha confiança, que eu sinta que posso pedir ajuda se estiver a passar mal a altas horas da noite... E senti-me sózinha. Olhei para a Daisy, que estava deitada aos meus pés. Ela levantou a cabeça de onde estava, mas depois voltou a dormir. E pela primeira vez desde que vim para o Reino Unido, eu tive medo. E não gostei.
Fiz um chá de funcho, e sentei-me no sofá-cama a pensar na minha vida. Se não dão o Visto ao meu marido, o que é que vou fazer da minha vida...? E respirei fundo, com o estômago e o coração pesados, se bem que por razões diferentes. Ao fim de meia hora já estava melhor, e deitei-me. Deixei-me dormir a pensar nas nossas férias juntos e de como fui feliz aqueles dias. Não quer dizer que não seja feliz agora, mas sinto-me incompleta, e isso perturba qualquer traço de felicidade. Deixei-me dormir, mas não apaguei a luz...
Cá estou eu de volta ao Reino Unido, e já tenho uma batelada de exames para corrigir, até quinta-feira, entre reuniões para resolver questões com os cursos de Singapura e das Ilhas Mauricias... Mais... pelo meio, ainda arranjar tempo para planificar as aulas para o semestre que vem e prestar apoio a Consultadoria. Só voltei ao trabalho há dois dias, mas agora vejo bem aquilo que trabalho todos os dias naquela universidade! Foi só tirar um mês de férias para o meu trabalho acumular até ao tecto...
Este fim de semana nem sequer vou ter tempo para descansar porque tenho outros 20 trabalhos para corrigir, e na semana que vem vou começar um curso de desenvolvimento profissional (CPAD) que me vai durar 10 semanas, o que quer dizer que vou ter que me organizar bastante bem se quiser tirar o máximo proveito (e dinheiro) da minha situação profissional... E quem disse que quem corre por gosto não cansa, estáva enganado... Ando completamente partida, este ritmo de trabalho já não é para mim, a minha resistência já não é o que era... Mas adoro o que faço! Só que...
*Suspiro*
...Nem acredito que estou aqui, de volta ao tempo cinzento e frio Inglês... Ainda na semana passada estava eu com o meu amor, no calor maravilhoso do Brasil, com a minha nova família, a trocar juras de amor eternas e alianças simbólicas dessas promessas... E agora, depois de uma passagem super rápida pelo carinho e amor da minha família em Portugal, entre tantas viagens e países, eis estou de volta à minha casinha inglesa - mas estou sózinha até o marido meter os papeis para o visto e vir-se juntar a mim.
As férias no Brasil foram tudo aquilo que eu imaginei e muito mais. Não há foto minha sem sorriso, porque enquanto lá estive fui amada, bem tratada, e descansei, relaxei, e aproveitei para ser feliz, vivendo um dia a seguir ao outro... Posso dizer que há muito tempo eu não me sentia assim. Agora resta esperar que saiam os papeis do cartório e que ele trate do Visto que é para podermos iniciar a nossa vida a dois. E eu mal posso esperar para que esse dia chegue...
Mas estou consciente de que pode demorar entre mês e meio a quatro meses, dependendo do dia em que o Visto saír - e se não houverem contratempos, porque ele ficou mais do que devia neste país antes de voltar ao Brasil... Se demorar muito, não sei se vou conseguir ficar sem o ver tanto tempo... Desde que cheguei ao Reino Unido esta semana de que sinto mesmo muito a falta dele, e apesar de falarmos todos os dias pelo msn, e nos vermos na webcam, não é a mesma coisa que dormir abraçadinha a ele, com as nossas pernas entrançadas, entre beijinhos e carinhos...
Talvez por isso também, eu me tenha envolvido em tanto trabalho, porque sei que se estiver ocupada nem vou dar pelo tempo passar. Mato-me a trabalhar para chegar a casa cansada e aterrar na cama, na esperança que o dia seguinte venha mais depressa. E depois tenho as amigas que visitam, e ainda vou fazendo a lida da casa, tratando da Daisy e visitando a outra metade da família que está deste lado... Tudo isso ameniza um pouco a dôr que é começar um casamento separados pela distância de um oceano.
Ficam de seguida as fotos mais bonitas, para morrerem de inveja!
A minha cunhada e eu...
Passeando na Praia de Caiobá no Paraná.
Na praia de Matinhos, Paraná, com a minha cunhada linda!
Passagem de Ano com o maridão a.k.a. Mr. Brazil...
Passagem de ano com a família do maridão...!
Na praia mansa, Caiobá, a beber um dos meus maiores vícios: àgua de coco verde...!
A regressar à praia depois de um passeio de barco.
Em Curitiba, centro, perto da paragem de autocarro tão original!
Um beijo cúmplice...
Perto das Capivaras no parque do Barigui, Curitiba.
Felizes e descontraídos no Parque do Tanguá, Curitiba.
A vista espectacular do Parque do Tanguá, Curitiba.
Na Ópera de Arame, Curitiba.
Momentos de cumplicidade na Praça do Japão, Curitiba.
Cheguei ontem a Lisboa ao fim da tarde, e estáva frio, mas nada igual aos -5ºC de Hertfordshire... O céu estáva limpo, e apesar de odiar andar de avião, tenho de ser sincera: é bonito chegar a Lisboa de noite, quando tudo está iluminado.
Mal o avião aterrou, senti-me de novo segura, senti-me em casa. Adoro vir a Portugal cada vez mais, não só porque posso passar tempo com a minha família, mas também porque posso revisitar os locais da minha infância, rever os amigos que tive de deixar para trás quando decidi ir morar para Londres, posso passar tempo com os meus animais tugas, e acima de tudo, porque posso falar Português.
Não vou dizer que a minha vida em Inglaterra também não tem as suas vantagens, mas a verdade é que a qualidade de vida em Portugal é mil vezes melhor que a de Inglaterra, nomeadamente a vida pós-laboral e social. Em Inglaterra não temos tempo para saír com os amigos. O trabalho é demasiado exigente, o tempo é sempre mau e quando se chega a casa só se quer mesmo é ficar no quentinho a ler um bom livro, ou a namorar, ou a ver um DVD.
Quando estou lá, tenho sempre saudades dos meus tempos de saír à noite em Portugal, quando mesmo debaixo de frio e chuva eu ía com a minha irmã tomar o cafézinho com os amigos, ou beber uns copos no fim de semana. Mas agora, que estou por cá, também não me apetece fazer muito para além de ver tv e ficar frente ao aquecedor... O que é um pouco triste...
Parece que a vida em Inglaterra se entranhou no meu estado de espírito, sem a mínima possibilidade de cura. Talvez nem seja bem a minha vida em Inglaterra a culpada, talvez seja mesmo a minha idade, estou mais velha e tenho necessidade de outro tipo de entretenimento e planos sociais ao fim do dia (nomeadamente, planos a dois)...
E por falar em planos a dois, desde que cheguei a Portugal ainda não tive possíbilidade de falar com o meu noivo como deve de ser. Andamos desencontrados nos nossos horários, e sei que é normal, só que fico triste e com saudades, mesmo sabendo que no final desta semana vou ter com ele... Desde que ele foi para o Brasil que temos falado diáriamente, mas desde que cheguei falámos uns minutos ao telefone ontem e pouco mais...
Enfim, não é fácil andar dividida entre três países diferentes, pois os três têm todos razões bem fortes que me ligam a eles... E apesar de tudo eu até me posso considerar uma sortuda, porque tenho dinheiro suficiente que me permite andar a pular de país em país! Pode não dar para o fazer todos os meses, mas dá para visitar quando a saudade aperta, que é quando realmente interessa ir...
Hoje vou andar por casa, já que está de chuva, e eu não estou com muita vontade de me molhar... Se bem que o facto de ter o meu irmão mais novo a tocar bateria no quarto ao lado pode ser considerada uma boa razão para o fazer!!!
Ontem à noite nevou como se não houvesse amanhã... Só para terem uma noção do frio por estes lados, são 10h30 da manhã e estão -2ºC!! Está tudo branquinho em todo o lado, as escolas estão fechadas, a universidade também, e eu fiquei em casa. Ainda estou a recuperar da minha garganta, e não quero ficar pior!
Era para ir a Londres, para ir buscar umas últimas coisas para levar para o meu noivo, mas não me parece que consiga ir. As redes de transporte estão todas restringidas a serviços minimos, e ainda se prevê mais neve para o fim da tarde. Este é o primeiro ano desde que eu aqui moro (e já moro aqui há mais de 5 anos) em que neva durante Dezembro - normalmente a neve só vem lá para Fevereiro. Os Britânicos até fazem apostas para ver se neva no Natal, e acho que este ano estão com sorte!
E por falar em sorte, os documentos do Brasil chegaram ontem. Quando voltei a casa do trabalho, estavam à minha espera. Agora só falta aparecer a carta com a minha certidão de nascimento para podermos marcar as coisas como deve de ser. De qualquer forma, mandei um e-mail extenso ao cartório onde planeamos casar, com uma série de leis, porque disseram ao meu noivo que a procuração não é válida devido a uma cláusula de mudança de nome que já não se aplica na lei Brasileira.
Quando o meu noivo me disse isso, fiquei de coração partido, porque pagámos um bom dinheiro para fazer o raio da procuração, mais correrias entre notário e Consulado Brasileiro, e agora não a querem aceitar??!! Ah não!! Lá fui investigar, e encontrei no código civil Brasileiro um artigo que é bem capaz de nos salvar a vida... E agora estou à espera da resposta deles...
Pedi também que as proclamas (editais) fossem dispensadas por motivo de urgência , algo também previsto na lei Brasileira. A lei Brasileira não especifica a urgência per se, o que quer dizer que vai depender da benevolência do juíz aceitar a minha urgência como válida...e eu tenho esperança de que haja um pouco de compaixão por parte deles, considerando que já vai ser bem difícil viver sem o meu noivo durante os dois meses que seguem ao casamento... (Man! Eu devia ter sido advogada...!)
Nesta altura estou a torcer para que o nosso casamento ainda se realize enquanto eu estiver no Brasil...! É tudo o que eu quero.
O resto é história!
Vou ver se me aqueço, porque tenho o aquecimento no máximo, mas a casa está um gelo...!
Nos dias que correm, dou graças a Deus por existir internet, e por não necessitar frequentemente do serviço dos correios (Portugueses, Ingleses ou Brasileiros) para me poder comunicar com os meus entes queridos. Passo a explicar...
Ora a minha mãe mandou dia 30 de Novembro, de Portugal, uma carta para o meu noivo com a minha certidão de nascimento validada pelo consulado do Brasil em Portugal. Gastou imenso dinheiro para expedir a carta em correio azul internacional e registada, devido à urgência da mesma (sem a certidão, não podemos marcar o casamento sequer!).
Hoje é dia 16 de Dezembro e nem sinais da carta. Parece que foi expedida internacionalmente dia 5 de Dezembro, mas essa é mesmo a última informação dada pelo site dos CTT. Eu ando aqui às voltas para tentar perceber como é que uma carta prioritária demora 5 dias para ser enviada de Portugal para o Brasil, quando o tempo de serviço mencionado para este tipo de carta são mesmo 5 dias desde que a mesma é entregue na sede dos correios até que é entregue ao destinatário... O pior é que da carta, nem vê-la. Não foi entregue no Brasil (o meu noivo ainda não a recebeu!), e também ninguém dos correios parece saber onde ela está (nem responderam ao meu e-mail de reclamação... devem estar à espera de uma cartinha, com certeza...! Nabos!).
Já pedi à minha mãe para ir fazer uma reclamação à estação onde ela entregou a carta e pedir uma indeminização pelo serviço pobre prestado pelos CTT. Mas não pensem que o mal é todo português. No Brasil, os meus sogros mandaram-me uns documentos por Sedex, há mais de duas semanas, e prometeram-lhes de que os documentos estariam cá no máximo em 5 dias, mas até hoje nem sinais dos documentos. O meu noivo ligou para lá ontem, e desculparam-se muito, acedendo a pagar a indeminização por não terem cumprido com o prazo estabelecido.
Agora eu pergunto (de novo) onde é que andam esses documentos! É que não foi nada barato tratar dos mesmos e mandá-los para aqui.
Na sexta-feira passada mandei mais um documento, mas gastei cerca de £56 para mandar o mesmo em correio super prioritário, pela Parcelforce. Através do site deles, não só sei que o documento já está em São Paulo, como aposto que vai ser entregue a tempo e horas. Mas não entendo porque é que nos dias que correm, estas coisas demoram tanto tempo a ser entregues e temos de pagar um preço de ouro para termos a certeza de que os mesmos são mesmo entregues!
Sinceramente? No século XXI, usar qualquer tipo de serviço de correio começa a não compensar, porque são LENTOS demais... LENTOS MESMO!
E não me venham com a treta de ser Natal, e do volume de correspondência ser demasiado. Se o serviço é uma merda, analisem-se e contratem mais pessoal. O que há aí mais é gente sem emprego a precisar de ganhar pão! Agora quero saber é onde andam os documentos perdidos (meus e do meu noivo)...
Estou super revoltada, porque se não fosse o serviço péssimo dos correios Portugueses e Brasileiros, a esta hora eu já tinha uma data de casamento fixa. Sem documentos, vamos tentar resolver as coisas com fax e cópias, e esperar que realmente os documentos apareçam em tempo.
Casar com um estrangeiro não é fácil, muito mais quando eu própria sou uma estrangeira onde moro. Ter de depender do Consulado Geral de Portugal em Londres para obter um documento específico que ateste o meu estado cívil e a minha capacidade matrimonial é tão frustrante e tão difícil (para não falar do tempo que demora: 1 mês no mínimo!!) que se eu não estivesse convicta de ter encontrado o homem da minha vida acho que já tinha desistido. As marcações não são flexíveis, a lista de documentos (meus e do meu noivo) a apresentar é interminável, e eu só quero que me passem um papel a dizer que sou solteira e que sim, posso casar!
Nunca casei! Sou solteiríssima como vocês todos sabem. Isso está declarado no meu BI, na minha certidão de nascimento (que está sem averbamentos nupciais), no meu passaporte... na declaração do meu trabalho, na declaração do council tax, na declaração do imposto... então qual é o problema de me emitirem ali, na hora, uma declaração a comprovar o que os meus documentos legais já comprovam?
É só mesmo para chatear!! Até porque aquilo que eles querem é que eu meta os papeis no Consulado como se fosse casar lá, e tem de ir a edital, quando na realidade eu só preciso de um papel que ateste o meu estado civil de solteira para que eu depois possa meter os papeis no cartório do Brasil! E com isto perdem-se quase dois meses (1 para a emissão do documento, e 1 de edital no Brasil após metermos a papelada) ... isto se as coisas correrem bem, claro!
Mas há mais... não são só os trâmites legais das coisas que me massacram dia sim, dia sim! São também as correrias entre o Consulado Português e o Consulado Brasileiro em Londres, para carimbar documentos de forma a que estes tenham validade no Brasil. É o dinheiro que se gasta para fazer tudo isso, e ter que controlar a validade de alguns documentos, pois podem expirar mesmo antes de conseguirmos obter os outros todos que faltam... E é a paciência e a espera... Os documentos andam entre o Brasil, Portugal e Reino Unido, atrasados em dias porque com o Natal à porta já se sabe como funcionam os correios...
Mas o mal não é só do Consulado Português aqui... Confiei no portal do cidadão para me mandarem uma certidão de nascimento de Portugal, já pedi a certidão há um mês e a mesma ainda está 'em processamento'... Tive de chatear os meus pais para me mandarem as coisas, e claro que não posso esperar que eles tenham a mesma urgência que eu, e por isso as coisas nunca chegam a tempo e horas, e a correria tem de começar de novo, do princípio, do zero...
Juro que ultimamente me sinto uma autêntica bola de ping pong, e se soubesse o que sei hoje tinha era contratado uma assessoria ou solicitador para me tratar destas porcarias!! Mais, não sei porque é que as pessoas não facilitam, porque mesmo dentro da lei há sempre possibilidade de encaixar uma 'can do attitude'... Felizmente para mim, o Consulado do Brasil em Londres teve sempre esse tipo de atitude para comigo: sempre facilitaram, sempre aconselharam, nunca disseram que não. Cinco estrelas! E o de Lisboa é igual, porque dos emails que troquei com eles foram sempre super prestáveis e simpáticos, e sempre levaram em consideração os meus pedidos.
E claro, com uma experiência destas até dá vontade de renunciar à minha nacionalidade (Portuguesa) e meter os papeis para me tornar numa cidadã Brasileira ASAP!! É que não tenham dúvidas, aqui os Brasileiros têm muito mais apoio do consulado deles do que nós, portugueses, temos do nosso consulado.
As sextas-feiras em Portugal eram sempre animadas, eu tinha sempre onde ir, sempre o que fazer... Podia sempre contar com o cafézinho da praxe depois do jantar, ou a reunião de amigos habitual antes de saír para a 'night'... Apesar de ter as minhas preocupações, a vida lá sempre parecia correr mais depressa do que me parece aqui. O irónico é que aqui os dias são mais curtos, trabalha-se muito mais, e por isso mesmo devia sentir-se o contrário. Mas não se sente.
Este fim de semana vai ser difícil. O Mr. Brasil voltou para o Brasil ontem à noite, e a minha casa parece-me vazia demais. Não tenho vontade de fazer nada. Não tenho sono. Não tenho fome. Só quero ir para Portugal - pelo menos lá tenho a minha família, e coisas para fazer, amigos para visitar, a vida é mais animada e não penso tanto (nem sinto tanto) a ausência do meu noivo...
Aqui só tenho o meu trabalho, e alguns amigos que ainda se vão preocupando comigo, que me vão visitando, a minha nova família também... mas chega a hora de irem para casa (ou de eu ir para casa) e o vazio vem de novo e eu não sei como lidar com isto. Por mais que o trabalho preencha a maior parte dos meus dias, não consigo que preencha o suficiente do espaço deixado pelas pessoas que gosto e que deixam o país...
Ás vezes ser emigrante tem destas coisas... O que estou a sentir agora já eu senti há uns anos atrás quando o meu grupo de amigos português daqui voltou todo para Portugal, depois de acabarem os estudos deles... Parece que estou a trabalhar no aeroporto de novo, em que as pessoas chegam e partem, mas eu fico no mesmo sítio.
Este fim de semana vou receber as minhas compras online como sempre. Vou limpar a casa como habitual. Vou corrigir os trabalhos dos meus alunos. Vou ver tv. Vou esquecer que estou no Reino Unido. Vou tentar não pensar no vazio. Vou tentar não sentir tristeza. Vou tentar... De repente, viver de novo sózinha não me parece assim tão bom.