Eu tenho uma filosofia de vida que nem muita gente compreende. Eu acho que parar é morrer, acomodar é preguiça e dormir é perder tempo. Pronto, dormir talvez nem seja perca de tempo, mas o resto é bem verdade. Não gosto de me sentar à sombra da bananeira, já deu para perceber isso por tudo o que escrevo. Sou de ir á luta, de matar dragões (que não têm nada a ver com o FCP, by the way), de desenvolver a massa cinzenta que tenho dentro da minha cabeça e de evoluir o meu coração que bate dentro de mim. Ser mãe atordoou-me um bocado os sentidos, perdi o norte, mas agora estou a reencontrar-me. A minha filha agora complementa o meu ser, e o meu trabalho - neste caso, os meus trabalhos, já que são três - dão-me força, tornam-me melhor, desafiam-me... Tudo isto me faz querer seguir em frente. Mas não chega. Quero mais. Sei que posso conseguir muito mais. Hoje em dia já não me chega ter de ir para a universidade porque sinto muitas vezes que as escadas para o próximo andar estão fechadas. Com cadeado. E a chave está perdida por aí. Com decepções, desilusões e desânimo. É como, por exemplo, achar que o meu trabalho é valorizado por todos, mas na realidade quando vou a ver, não sou assim tão respeitada: pessoas a falarem de mim nas minhas costas, não tenho direito a defesa, sou muitas vezes vítima de juízos de valor injustos e injustificados.
Hoje então é daqueles dias que me sinto tentada a sair pela porta mais do que nunca. Ou pela janela. Ou por onde for - sair apenas para experimentar uma vida menos complicada, sem chatices. Porque me sinto muitas vezes jogada como bola de ténis entre duas raquetes furiosas, e porque tenho muitas vezes uma rede no meio que não me ampara, apenas me impede de prosseguir. Porque acho que há gente que gosta de causar conflitos. Porque a falta de maturidade à minha volta é escandalosamente grande e me gera muita confusão estar envolvida em atritos para os quais não contribuí intencionalmente.
Trabalhar já não é para fracos. Trabalhar no Reino Unido então não é para almas inseguras. Trabalhar no ensino superior do Reino Unido é um desafio constante. Muitos o aceitam sem pensar, por amor à camisola, por paixão ou vocação de ensinar. Eu certamente tive todas essas razões para ficar. E depois é assim: trabalho, muito trabalho, muito pouco tempo para mim. Algum tempo para a casa, a família. Não me interpretem mal - adoro o meu trabalho, os meus alunos são a minha maior fonte de inspiração. Alguns dos meus colegas também. Mas para outros, não gosto de ser tratada como uma adolescente. Mais ainda, detesto ter de ser detective, tentar adivinhar porque colega x ou y está amuado ou agressivo. Lidar com faltas de educação não. Os meus alunos não me faltam ao respeito, logo, colegas meus que o façam estão na minha lista de baixa prioridade. Não quero nem preciso, thank you!
Não vou perder tempo com quem não merece o meu olhar, as minhas palavras, a minha dedicação. Eu sou honesta. Eu sou boa naquilo que faço. Eu trabalho muito, todos os dias, e a todas as horas, para poder servir de ponte, de apoio, de suporte a todos aqueles que necessitam da minha prontidão para se tranquilizar. Ou para atingirem os seus objectivos. Adoro o meu trabalho, mas é tempo de começar a ponderar num futuro diferente. As coisas têm de mudar. As coisas já estão a mudar... As coisas vão mudar mais ainda, para melhor, porque eu vou à luta. Por mim, pela minha família, e acima de tudo, pelo futuro da minha filha.
Desejem-me sorte para dia 4 de Novembro. A minha candidatura para um PhD na Open University passou na primeira fase. Agora vem a entrevista...
Há pessoas que conseguem guardar tudo para elas, manter partes do seu mundo privadas e escondidas dos outros. Eu tenho que ser sincera, nunca fui muito boa a guardar coisas para mim - segredos dos outros, sim... Mas no que diz respeito à minha vida, fui sempre um livro bem aberto, pois acho que guardar as coisas para mim só me faz sentir pior... Tipo uma panela de pressão, que vai acumulando o stress, e um dia rebenta. Eu não sou nenhuma panela de pressão, porque gosto de soltar os meus desabafos sempre que me apertam no peito, e há quem ache isso de muito mau tom. Eu chamo a isso sobrevivência. Não quero voltar a 1999, quando fiquei com uma depressão debilitante que me tirou do meu trabalho durante mais de 2 meses, e me colocou à mercê de antidepressivos e ansiolíticos.
Já faz algum tempo que não vinha aqui. Em parte devido ao excesso de trabalho, que agora com o início das aulas se acumulou vertiginosamente. Ando a fazer muitas vezes dias maiores que 12 horas, durmo 4-5 horas por noite, e nem no fim de semana me escapo. A razão de eu ter aceite tanto trabalho prende-se com a necessidade de ter de assegurar dinheiro para as minhas contas enquanto estiver de licença de maternidade, porque a ganhar 500 libras por mês não vou muito longe. O meu marido também não ganha rios de dinheiro, e enquanto não tratar do National Insurance Number dele (apesar de eu pedir insistententemente para o fazer), não vou poder sequer pedir ajudas de custo para a renda da casa. Para complicar descobri há pouco tempo que terei de fazer um doutoramento se quero realmente seguir uma carreira no mundo académico, o que significa mais pressão adicionada aos já difíceis factores financeiros ligados a ter um filho, e um marido que nem sequer está registado como trabalhador - não tem contrato e nem faz descontos de imposto ou de segurança social.
Tenho muitas coisas na minha cabeça, todos os dias, desde que acordo até que me deito. Se nesta altura a pressão do trabalho é a mais forte, há definitivamente certas coisas na minha vida que não estão a correr pelo melhor. Graças a Deus a gravidez está a correr bem, mas o mesmo não posso dizer do meu casamento. Há dois dias que o meu marido e eu dormimos em camas separadas, e por mais que eu queira que as coisas resultem, aquilo que ele me disse antes de ir cada um para o seu lado fechou definitivamente a porta do meu coração para ele. Ele quer ser meu 'amigo'. Eu já lhe disse que se é para sermos amigos, então não quero continuar este casamento, não sou pessoa de manter fachada - ou é casamento, ou não é... e se não é, então adeus. Eu consigo perfeitamente gerir a minha vida (e a da minha filha que aí vem) sózinha.
Nesta altura, mantemos aparências, mas vos garanto que não sou mesmo desse tipo - ou isto se define ou ele bem pode agarrar nas coisas dele e ir-se embora. 'Amigos' eu tenho muitos, não preciso de mais um, ainda por cima um que more comigo e que me dê stresses e tristezas como ele me tem feito até agora. Fingimos que estamos juntos, quando de facto não estamos juntos - nem fisicamente, nem psicologicamente. Isto porque pensamos de maneiras muito diferentes, essencialmente ele não entende a necessidade de tratar da regularização do nosso casamento em Portugal - o que significa que quando a nossa filha nascer, o nome da mãe dela no certificado de nascimento vai ser o meu nome de solteira. Faltam 4 meses e pouco para a bebé nascer, e se ele em 6 meses não conseguiu tratar dos papeis, tenho a certeza que não é em quatro meses que vai conseguir tratar deles atempadamente - até porque só o processo no consulado demora quase dois meses. Resultado? Uma facada na minha confiança nele - já não acredito em nada do que ele me diz.
Não vou negar que tenho um génio difícil, mas isso é porque tudo na minha vida me custou a ganhar, trabalhei bastante e arduamente para chegar onde cheguei. Sinto muitas vezes que ter um parceiro é uma vulnerabilidade, porque sempre que estou sozinha consigo viver mais tranquila, não tenho depressões nem situações que me deixam fora do sério, nem medos de estar fora da lei - o controlo está certamente na minha mão quando estou solteira. Não me levem a mal, eu gosto de ter uma pessoa ao meu lado - mas não uma pessoa que pensa que lá porque assinámos papeis de casamento, o meu papel de mulher tem de se alterar para incluir a lida da casa, as lavagens de roupa suja, e cozinhar o almoço ou o jantar sempre que necessário for. Mais, não suporto ter de pedir que me façam coisas montes de vezes(como por exemplo limpar o bolor do tecto do quarto com lixívia, porque eu não queria tocar nesse produto OU no bolor enquanto estou grávida) e acabar sempre eu a resolver a situação - e sim, sou eu que limpo a caixa do meu gato.
Talvez esta rebelião interior que eu sinto neste momento tenha a ver com as hormonas da gravidez - mesmo assim, não acho que por ter casado o meu papel de mulher deva mudar. Até porque eu não sou uma mulher qualquer - eu sou uma mulher moderna, com uma carreira pela frente, e o meu trabalho é tudo para mim. A minha família é prioridade, mas por isso mesmo é que eu estou a trabalhar que nem louca, para poder manter os pagamentos das minhas contas e da minha parte da renda da casa, para poder comprar as fraldas, e o que quer que seja que a minha filha precisar. O dinheiro que o meu marido ganha mal dá para a parte das contas dele, quanto mais para esse tipo de encargos. Nesta altura, o meu trabalho é o que nos permite, como família, viver sem sobressaltos financeiros de maior, mas para além disso dá-me uma realização pessoal como eu nunca senti antes. Eu vou a sorrir para o meu emprego, eu fico feliz quando posso partilhar o meu conhecimento com os meus alunos e vice-versa. Mesmo que o meu dia esteja cheio de problemas, eu vou para a universidade de coração leve. É quando chego a casa que o coração me começa a pesar, e que as nuvens se começam a amontoar. Não, eu já não gosto de vir para casa, a casa para mim virou prisão.
E depois não é só isso, eu venho para casa, e não me sinto respeitada cá dentro. O marido ajuda a lavar a loiça, e pouco mais faz do que isso. Se o jantar não está pronto, acusa-me de o fazer passar fome, não repara que muitas vezes eu estou enroscada no meu próprio trabalho, a resolver complicações que precisam de ser resolvidas. Espera que eu esteja sempre disposta e alegre - não compreende que os meus dias começam às 7h da manhã e acabam muitas vezes para lá da meia-noite. Para além desta pressão entre a vida doméstica e a vida profissional, emergem-se incertezas em relação ao futuro. Cada vez me sinto mais desapoiada, e apesar de ter amigas que ouvem os meus lamentos, elas também têm a vida delas... O apoio familiar está em Portugal - um perto que é muito longe, principalmente naquelas noites em que as lágrimas caiem mas ninguém parece querer atender o telefone para me acalmar e dizer que tudo vai ficar bem.
E eu acabo sózinha num quarto a analisar o que foi que correu mal desta vez, e tentar encontrar saídas para esta prisão onde me encontro, e o silêncio é ensurdecedor. Quando a minha filha nascer, eu vou ter ela para abraçar e para me dar força. Até lá, tenho um marido que é tudo menos um marido - pois não entende que aos 5 meses de gravidez, com a carga de trabalho e de incertezas que eu tenho todos os dias, é difícil sorrir. Um marido que quando me leva a passear é sempre para ir ver a família dele, e normalmente isso implica quase 2 horas de viagem numa carrinha desconfortável e muita fome durante o dia, pois nunca pára para me dar de comer. Eu já decidi que com ele não vou mais para Londres.
Tenho um marido que sabe o nível absurdo de trabalho que eu tenho, e apesar de estarmos chateados um com o outro, traz família cá para casa para me dar trabalho, porque tenho de fazer sala, jantar, etc... Não que eu não goste de ter cá a família dele, mas desta vez deu-me a sensação que ele o fez para evitar conflitos de maior, ou para provocar ainda mais conflito, porque esqueceu-se que eu não posso dar atenção a ninguém quando tenho de criar um exame, dois testes de avaliação e um relatório PARA ESTA SEMANA. Não lhe perdoo. Não lhe perdoo a falta de consideração, a falta de atenção. Estou farta e não tenho paciência. Eu já tenho de tomar conta do ser que está dentro de mim, e esta crise entre mim e o meu marido dá-me vontade de sabotar tudo o que tenho, inclusivé a minha filha, porque acho que ele não merece ser pai quando nem sequer sabe ser um bom marido. Deus me perdoe, porque ontem fui para a cama sem comer. E hoje pouca fome tenho. Mas a verdade é que a minha filha não pediu a ninguém para ser criada, ela existe porque eu quis que ela existisse, e por isso mesmo a partir de hoje vou por ela à frente de tudo e de todos. O meu marido não merece muita coisa, mas a minha filha não merece ser colocada no meio destas disputas estúpidas.
Um casamento pode acabar de um dia para o outro, mas um filho dura para sempre, e por isso tudo o que tenho é e será sempre para a minha filha... Chega de injustiça.
Ontem estáva mesmo lixada porque o meu rapaz esteve a trabalhar o dia todo e eu não pude passar o dia dos namorados com ele. O Sid só voltou às 7h da tarde do trabalho, e nós ainda celebrámos 'a noite' dos namorados juntos... mandámos vir uma pizza, alugámos um filme na cabo, e estávamos no relaxe e no romance quando fui interrompida pelo meu housemate tuga que, sabe-se lá porquê, resolveu discutir contas de gás e luz, métodos de poupança, etc, etc... às 10 da noite...a meio do nosso filme... Que EMPATA!
Eu e o Sid quase que lhe diziamos para ele se mancar! Mas ele estáva visivelmente com os copos, e para evitar chatices lá acenámos com a cabeça, dissemos-lhe que falávamos todos juntos quando a Sara - a minha amiga espanhola - estivesse em casa, porque ela também tem dizer na matéria e não é justo estarmos a levar com ele só porque estamos em casa! A porta estáva fechada... Será que é preciso ligar um filme porno a altos berros para ele perceber?
Foi totalmente inapropriado vir ao nosso quarto às 10h da noite do dia dos namorados, discutir esse tipo de coisas, especialmente sabendo que eu e o meu gajo estivemos o dia todo sem nos vermos! Lá porque ele não festeja este dia, e lá porque moramos juntos, isso não lhe dá o direito de perturbar a nossa celebração...
E isto não é de agora...no outro dia fez uns comentários completamente fora de tom sobre a minha relação com o senhorio e com o Sid!!!... Cheguei eu cansada do trabalho, depois de um dia em que até tive de lá ficar depois da hora de saída, estáva a cozinhar para o Sid na cozinha (o Sid estáva no trabalho e vinha tarde) e ele começa-me a dar um grande sermão - mas um grande sermão mesmo - como se fosse o Sr. de todo o conhecimento, só porque já foi casado, e já esteve envolvido com gajas de várias culturas e diferentes extractos sociais, blah, blah, blah... (todas europeias, tenho de dizer)... Eu não moro com os meus pais desde 2004, e agora tenho um gajo armado em 'pai' a morar comigo??? Desculpem lá, mas eu não me meto na vida de ninguém, por isso agradeço que não se metam na minha vida, não é!???
Começou por dizer que o meu senhorio me estáva a aldrabar, que há casas em Hatfield iguais a esta onde moramos por £800 por mês (yeah, right...), e que eu não devia continuar com o meu senhorio porque ele me vai cobrar montes de dinheiro... Etc, etc...
Uma nota de informação: o meu senhorio abriu-nos (a mim e ao Sid) a porta de uma de suas casas QUASE DE BORLA porque eu e o Sid não tinhamos para onde ir em Junho 2007, quando o nosso antigo senhorio vendeu a casa onde estávamos e nos deu 1 mês para arranjarmos outro sítio qualquer... O meu senhorio esteve sempre do nosso lado quando os gajos que moravam comigo antes não pagaram as contas, fumavam na casa e se viraram contra nós... O meu senhorio não pediu dinheiro ao meu 'amigo' tuga fala barato para o depósito do quarto dele, e está a incorrer prejuízo - mas não se queixa. O meu senhorio nunca me deixou na mão, a casa está sempre a ser mantida por ele, principalmente quando há problemas de maior...
Eu tive uma experiência muito má com os meus outros senhorios. Desde ficarem-me com os meus depósitos sem nenhuma razão, até me levantarem problemas legais com contas que eu paguei (algo fácilmente comprovado pelos meus recibos e correspondência de email) e passando por venderem a casa e não dizerem nada a ninguém até termos de sair à pressa... aconteceu de tudo! Nesta altura posso dizer que tenho uma sorte do caraças e não me importo nada de pagar o que fôr para continuar com o mesmo senhorio, aqui ou em qualquer outro lado!
Mas voltando aos comentários de mau gosto... O meu 'amigo' tuga continuou o meu massacre psicológico ao passar do senhorio para o Sid, e às tantas eu estáva a dicutir a minha vida PRIVADA com ele... Começou por dizer que eu não amava o Sid, que as coisas entre nós nunca durariam, que se eu estáva a pensar em casar e ter filhos com o Sid então que pensasse bem porque esta relação nunca vingaria... que isto e que aquilo... Estive mesmo para lhe perguntar: Eu meto-me na tua relação com a tua mulher por acaso? Não! Então está caladinho!
O gajo não mora aqui nem há um ano ainda, e acha que conhece a minha relação com o meu gajo 'inside out'? Só porque o ano passado foi um ano para esquecer, em que as coisas andaram mesmo mal para os dois? Não me parece! Eu moro com o Sid vai fazer 3 anos em Setembro, nós conhecemo-nos em Março 2006. Ele não sabe 1% da minha vida com o Sid, e achei de muito mau tom o tipo de comentários que ele fez a respeiro da minha vida a dois com o meu parceiro.
Lá porque eu não tenho, como ele, um papel assinado a dizer que somos marido e mulher, não quer dizer que sejamos menos ou mais do que eles... Naquela altura, eu calei-me para evitar tempestade, porque já me peguei com ele uma vez e sinceramente não estou para ter discussões no meu tempo de descanso - tenho muita merda com que me preocupar, muitas coisinhas para fazer...
Mas tenho de dizer que nem eu nem o Sid o vemos com bons olhos, e nesta altura eu até evito falar com ele - bom dia, boa tarde, é tudo o que leva de mim. Estar com os copos não o abstém de culpa, e os comentários azedos que ele faz começam a virar-se contra ele, porque eu sei que não sou a única a achar que ele é inapropriado (quando bebe).
Na minha casa hoje dançou-se o folclore. Peguei-me à bulha com o casal que mora no quarto ao lado - isto é, com o rapaz, porque a rapariga foi duas semanas a casa, no Médio-Oriente, e deixou o marido por conta própria. Como eu já não vou muito à laia com ele (desde que ele entrou disparado pela casa de banho a dentro, sem bater à porta, e quase me apanhou completamente despida), foi um farrobadó jeitoso quando em tom de convencido me disse que não pagava a contribuição autárquica.
Ora a contribuição autárquica é à volta de 120 libras por mês, e estudantes estão isentos de a pagar. Considerando isto, eu pus a conta na cozinha, e lavei as mãos - porque eu, afinal de contas sou estudante, e não tenho nada a ver com aquela conta maravilha. O gajo hoje, virou-se para o meu homem e disse-lhe que nunca tinha sido discutido pagar a contribuição. Preciosismos, porque eu, quando eles se mudaram para aqui, disse-lhes claramente que a renda não incluia contas nenhumas.
Depois, o rapaz, como viu que estáva a perder comigo, porque graças a Deus se há coisas que eu sei, essas coisas são leis (mais que não seja porque leio e pesquiso bastante na net acerca delas), disse que também tinha sido prometido uma cama de casal, uma cómoda, e o frigorífico e já tinha passado mais de um mês e até agora nada, e que portanto não ía pagar o depósito de 300 libras que está a dever ao Sid (uma vez que o Sid pagou por ele 'in advance') e que não pagava a conta da àgua também! Isto porque ainda não tinha contrato, nem tinha assinado nada.
E eu virei-me para ele e disse-lhe já descabelada e aos berros, que se não paga bem pode sair no final do mês - e mandei uma carta ao senhorio a pedir que o expulsassem no fim do mês, já que temos montes de pessoal interessado em mudar-se para aqui e que ficariam muito felizes com o quarto dele, sem pedirem camas, cortinas e eu sei lá mais o quê!
É preciso ter uma lata para estar a pedir tanta merda. Eu no meu quarto tinha uma cama e uma secretária. Tudo o resto que aqui se vê foi comprado com o meu dinheiro. Mais... Um dos rapazes do quarto de baixo está a dormir num colchão no chão, o meu gajo nem colchão tem, está a dormir no chão, e vem-me este badameco de meia tigela com exigências!!! Só mesmo ao estálo! Pior... Trabalha a tempo inteiro em Londres, a mulher idem idem, aspas, aspas, estão a pensar comprar um carro e tudo, e o gajo não quer largar dinheiro para as despesas? Estamos a brincar ou quê?
Juro, eu juro que se o gajo não sai a bem, sai a mal. E se o gajo se cruza comigo no corredor, o mais certo é eu lhe partir a cara, com óculos e tudo!
Juro que nunca fui assim tão violenta, mas a mim não me fazem passar por parva1. Ai não fazem, não!
Espero que o senhorio me faça a vontade e o ºconvideº a saír.
Depois, vamos ver quem é que dança o Vira em último lugar.
Aqui sinto-me amedrontada constantemente... Na minha cabeça é só negativismo... E se as coisas não resultam? E se no emprego as coisas correm mal? E se não vale a pena estar a sacrificar-me tanto?
Hoje estou chateada. Apesar de saberem que não trabalho aos fins de semana - como aliás está no meu processo lá no trabalho, meteram-me a trabalhar turnos inteiros hoje e amanhã. Estou um bocado devastada, porque nos fins de semana é quando eu tiro assim umas horinhas para ir dar uma volta e fazer algum exercício.
Ainda por cima, está de sol e eu vou ter de ficar fechada naquele lugar inóspito durante o dia todo. O namorado sai às duas da tarde e eu tenho de lá ficar até às oito da noite - não é o meu ideal de dia.
Sim, sim, estou a ganhar dinheiro - isso é, aliás, a filosofia do namorado, mas a minha filosofia é mesmo ter os fins de semana livres e o resto é história. Já estou desmotivada - e o dia ontem até correu relativamente bem, mas hoje estou mesmo com os azeites e já mandei o namorado a um sítio muita feio 'N' vezes, porque ele sabia que eu não trabalho fins de semana e quando o chefe lhe deu os meus horários ele não disse nem ai, nem ui.
Bolas, eu sei que me andava a lamentar que não tinha trabalho e blá blá blá, mas agora que tenho dá-me uma vontade de fugir. Queria mesmo voltar para Portugal, tenho saudades dos meus amigos e de casa e de tudo mesmo. Mas se voltar as coisas não vão ser como eram de antes, está tudo mudado. Às vezes até penso que já não pertenço àquele quadro, que o meu espaço foi de certa forma tomado e que já não posso voltar...
Estou tão farta de falar inglês e de viver numa sociedade que não me desponta a mais pequena ternura. Sinto-me deslocada, a ter que fazer trabalhinhos da tanga para poder sobreviver e tirar mais uma graduação académica. Vale mesmo a pena ter de passar por tudo isto?
(suspiro)
Eu só quero mesmo é saír daqui porque tudo isto me causa pânico, um buraco no estômago, uma vontade de correr sem parar. Já é mau ter de lutar contra o meu medo quase primário das minhas chefias, e ainda ter de lutar comigo própria para encontrar motivação num trabalho? E só para continuar para a frente num plano de vida que de certa forma me foi impingido? Tudo isto é frustrante e mete-me mesmo muito medo... Porque eu não sei o dia de amanhã, e se não tiver emprego, então saberei muito menos. Mas satisfação pessoal não acredito que ganhe alguma, porque a ter de passar por isto é mesmo muito complicado...
Eu sei que há montes de pessoas a fazerem o que não gostam, mas eu quando faço algo que me esteja de certa forma a contrariar, fico doente. E já ando doente, aos berros por tudo e por nada, começou ontem o desequilíbrio emocional outra vez.
Será que nunca vou sentir-me satisfeita pelo menos UMA vez nesta vida?
Será que vou ter de passar por esta insatisfação pessoal constantemente?
Se há coisa que eu odeio é ter pessoas a 'chaguar-me' o juízo logo de manhã. Começou com a porcaria do alarme no telemóvel a altos berros às 7h da manhã! Eu compreendo que o Mister tem de se levantar cedo - normalmente até sou eu que me levanto primeiro, mas hoje ele teve de ir para Londres tratar do visto Português. Só que por favor! É o meu dia de folga!!! E eu sei que tenho de ir ao ginásio e assim, mas irritou-me logo.
Normalmente eu acordo sem alarmes, e enquanto o menino fica na caminha eu vou preparar o meu pequeno almoço, lavar-me e vestir-me, muitas vezes até aproveito para adiantar as coisas para o resto do dia. Quando muitas vezes digo que quero estar no ginásio às 10h, nunca estou antes das 11h porque o menino demooooora a vestir-se e a arranjar-se! Depois lá tenho eu de vir toda stressadita do ginásio para fazer o almoço, pois quando saímos de lá é mais do que hora de comer!
Mas hoje foi mesmo a gota de àgua. Esteve mais de 45 minutos debaixo do chuveiro! Depois de eu lhe ter dito montes de vezes que tinhamos de poupar na electricidade e que se continuassemos a deixar as televisões em stand-by, e as luzes acesas, daqui a dois meses temos uma conta astronómica para pagar e ninguém vai ter pena de nós se o dinheiro não chegar. E acreditem, não vai chegar, porque com a minha mudança de emprego as coisas estão complicadas para o mês que vem... Vou receber muito pouco, até porque as minhas férias são sem vencimento.
E depois, quando constatou que não sabia onde tinha de descer no metro para ir ao consulado português, e eu - que já estáva fresca - lhe respondi que é sempre o costume, que sou eu que tenho de lhe dizer tudo, que se não fosse eu ele chegava atrasado e a más horas ao ponto de não ser recebido, enfim, uma catrefada de verdades, porque eu não sou de falar sem ter provas daquilo que digo! Ele então sai-me com um 'shut your mouth' assim do nada.
'Shut your mouth'??? Mas que merda vem a ser esta? Eu estou-lhe a chamar a atenção para uma coisa que ele faz mal, um problema que ele tem (não é nada previdente, nada, nada!) e ele manda-me calar? Ainda por cima, manda-me calar desta maneira? Foi o pior que me podia ter feito. Desatei logo aos berros - eu então! Mas que é isto? Mandar-me calar às oito da manhã? É parvo, só pode! E claro, as coisas que têm estado muito mal começaram a subir por mim a cima e eu comecei a disparar em todas as direcções.
O gajo nem ai, nem ui. Foi-se embora. Assim, sem mais nem menos. Deu-me um beijo na testa e foi-se embora. É que nem sequer um 'desculpa.' Simplesmente foge ao conflito e não me deixa bem. Deixa-me mesmo irritada porque não tenta apaziguar as coisas, não tenta sequer resolver as coisas. Agora foi de cu alçado para Londres e eu estou aqui toda irritada só me apetece partir a merda do quarto todo!
Porque ele está bem, eu sei que está....
... um pedido de desculpas pelo telemóvel. Típico. Mas eu é que fiquei a falar sózinha. E assim começa o meu dia! Uma bela bodega! Vou para o ginásio.
Se ele me volta a dizer 'shut your mouth' vai ficar a dormir na rua. Ai vai, vai!