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E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

22
Mai12

O tempo livre que não é livre

Little Miss Sunshine

Aqui em Inglaterra o tempo passa muito depressa. Acorda-se cedo mas há tanto para fazer sempre durante o dia que quando damos por nós já é hora de dormir. Aqui janta-se às 18h da tarde e vai-se para a cama entre as 20h30 e as 21h. Os miúdos vão para a cama normalmente mais cedo.

Depois é o trabalho. Se trabalhamos fora, é a correria de deixar os filhos com a ama ou no infantário, e ir a correr para o trabalho. Quando damos por nós estamos já na hora de ir buscar os filhos ao infantário, janta-se e cama.

 

Por isso tenho tido alguma dificuldade em usar este meu tempo fora de aulas para poder fazer alguma coisa útil. Queria escrever um artigo académico, ou preparar as coisas para iniciar o meu doutoramento, só que não tenho conseguido. O meu marido agora está na época alta, e eu na época baixa, o que significa que passo agora muito mais tempo em casa com a bebé. Pensava que isso ía ser só vantagens, mas quando estou em casa o trabalho doméstico mete-se no caminho, porque há sempre roupa para lavar, almoço e jantar para fazer, casa para aspirar, cozinha para arrumar, e pelo meio mudar fraldas e dar atenção à pequenina, que ou está incomodada com os dentes, ou está constipada, ou quer mimos.

 

Estou mesmo a ver que quando der por mim, vamos estar no final de Agosto e eu vou ter de começar a preparar as coisas para o começo do ano lectivo. E as coisas na universidade também não andam grande coisa porque a minha disponibilidade reduziu dramaticamente, as pessoas não me vêem tanto, logo lembram-se pouco de mim quando há uma oportunidade de trabalho nova. Estou há um mês para responder a um colega meu sobre uma proposta de trabalho, porque não tenho tempo (nem cabeça) para pôr as minhas ideias no papel.

 

Para uma profissional académica como eu, é muito triste e quase deprimente querer ser boa na minha carreira, mas ter tanto para fazer nas outras areas da minha vida, que me vou acomodando com o mínimo. Assim, por este andar, nunca vou conseguir juntar o dinheiro que eu quero para comprar uma casa algures por aqui, Portugal ou Brasil... Na verdade, estou mesmo a ver que quando chegar a altura da V. ir para a faculdade, vou andar a pedir empréstimos para lhe pagar as propinas e ainda vou viver numa casa arrendada, onde nem pintar as paredes ao meu gosto eu posso.

 

Sinceramente, não estou nada satisfeita com o rumo que a minha vida está a levar... Tenho desafios profissionais fantásticos mas não posso aceitar nenhum. Um dia estes desafios e oportunidades vão acabar e eu vou ficar sentada nos bancos atrás vendo todos os meus colegas mais novos me passarem à frente. Não sei como resolver isto. Estou super triste porque não posso fazer o que quero, como quero. Se decido colocar a V. no infantário, o que ganhamos não vai valer a pena, porque vai tudo para o infantário.

 

Só queria voltar a trabalhar a tempo inteiro e ganhar bem de novo para poder alcançar o meu sonho de ter uma casa mesmo nossa. Por este andar, vai ser quase impossível. Desculpem o desabafo. Estou triste e aborrecida. Há quase um mês que não saio de casa porque parti dois dedos no meu pé e andar torna-se muito doloroso. Estou proíbida de conduzir até dia 22 de Junho devido a isto, e sinto-me presa! Não fui feita para ser dona de casa.

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