Aqui em Inglaterra o tempo passa muito depressa. Acorda-se cedo mas há tanto para fazer sempre durante o dia que quando damos por nós já é hora de dormir. Aqui janta-se às 18h da tarde e vai-se para a cama entre as 20h30 e as 21h. Os miúdos vão para a cama normalmente mais cedo.
Depois é o trabalho. Se trabalhamos fora, é a correria de deixar os filhos com a ama ou no infantário, e ir a correr para o trabalho. Quando damos por nós estamos já na hora de ir buscar os filhos ao infantário, janta-se e cama.
Por isso tenho tido alguma dificuldade em usar este meu tempo fora de aulas para poder fazer alguma coisa útil. Queria escrever um artigo académico, ou preparar as coisas para iniciar o meu doutoramento, só que não tenho conseguido. O meu marido agora está na época alta, e eu na época baixa, o que significa que passo agora muito mais tempo em casa com a bebé. Pensava que isso ía ser só vantagens, mas quando estou em casa o trabalho doméstico mete-se no caminho, porque há sempre roupa para lavar, almoço e jantar para fazer, casa para aspirar, cozinha para arrumar, e pelo meio mudar fraldas e dar atenção à pequenina, que ou está incomodada com os dentes, ou está constipada, ou quer mimos.
Estou mesmo a ver que quando der por mim, vamos estar no final de Agosto e eu vou ter de começar a preparar as coisas para o começo do ano lectivo. E as coisas na universidade também não andam grande coisa porque a minha disponibilidade reduziu dramaticamente, as pessoas não me vêem tanto, logo lembram-se pouco de mim quando há uma oportunidade de trabalho nova. Estou há um mês para responder a um colega meu sobre uma proposta de trabalho, porque não tenho tempo (nem cabeça) para pôr as minhas ideias no papel.
Para uma profissional académica como eu, é muito triste e quase deprimente querer ser boa na minha carreira, mas ter tanto para fazer nas outras areas da minha vida, que me vou acomodando com o mínimo. Assim, por este andar, nunca vou conseguir juntar o dinheiro que eu quero para comprar uma casa algures por aqui, Portugal ou Brasil... Na verdade, estou mesmo a ver que quando chegar a altura da V. ir para a faculdade, vou andar a pedir empréstimos para lhe pagar as propinas e ainda vou viver numa casa arrendada, onde nem pintar as paredes ao meu gosto eu posso.
Sinceramente, não estou nada satisfeita com o rumo que a minha vida está a levar... Tenho desafios profissionais fantásticos mas não posso aceitar nenhum. Um dia estes desafios e oportunidades vão acabar e eu vou ficar sentada nos bancos atrás vendo todos os meus colegas mais novos me passarem à frente. Não sei como resolver isto. Estou super triste porque não posso fazer o que quero, como quero. Se decido colocar a V. no infantário, o que ganhamos não vai valer a pena, porque vai tudo para o infantário.
Só queria voltar a trabalhar a tempo inteiro e ganhar bem de novo para poder alcançar o meu sonho de ter uma casa mesmo nossa. Por este andar, vai ser quase impossível. Desculpem o desabafo. Estou triste e aborrecida. Há quase um mês que não saio de casa porque parti dois dedos no meu pé e andar torna-se muito doloroso. Estou proíbida de conduzir até dia 22 de Junho devido a isto, e sinto-me presa! Não fui feita para ser dona de casa.
Viver no estrangeiro tem as suas vantagens, mas quando se tem um bébé nos braços, as vantagens cedo se tornam desvantagens: estamos longe da família, se a mulher fica em casa com o bebé, o marido tem de ir trabalhar - e a solidão instala-se, porque não há conversas, não há descanso, não há tempo para nós.
Desde que a minha filha nasceu, eu tenho aprendido muito sobre ela e sobre mim - e até sobre o meu marido e sobre a minha família. Tem sido uma aprendizagem bastante sofrida, mas que vale muito a pena porque a minha filha é o melhor que me aconteceu na vida. Cheguei a um ponto na minha vida em que nada mais importa a não ser o bem estar da minha pequerrucha. Foi difícil de início, a minha mãe esteve cá duas semanas para me ajudar, mas depois foi-se embora e eu fiquei por minha conta, já que o marido regressou ao trabalho.
Vi-me, de repente, isolada, com um bebé nos braços do qual nada sabia (eu nunca fui muito dada a bebés e nunca tive muito jeito para eles quando era mais miuda), e um grande medo de não conseguir dar conta do recado...! Mas os dias foram passando, e com a rotina da amamentação, mudança de fraldas, banhos, e muito pouco descanso, nem dei conta de que a Páscoa estáva já à porta. O meu pai veio de visita, e foi mais uma semana agradável, em que tive companhia, e não me senti tão animal - porque isto de viver para um bebé apela aos nossos instintos de tal forma, que nos esquecemos muitas vezes de ser civilizados ou de viver pensando nas nossas próprias necessidades e desejos.
Mas lá está, a coisa mais complicada e triste de se viver no estrangeiro é ver a família chegar e partir, ou então de chegar a Portugal sabendo de antemão que temos de regressar de volta para Londres, mais tarde ou mais cedo. E assim que o meu pai regressou a Portugal, comecei a contagem decrescente para a chegada da minha irmã e cunhado, em Junho... e a contagem decrescente para ir de férias a Portugal no final de Julho com a pequenina... Isto se o consulado se dignar a resolver o problema do registo dela, porque não nos resolveu o problema do registo do meu casamento...! E sem documentos para ela, nós não podemos ir para Portugal.
Mas não é só o problema logístico da identificação e certificação da nacionalidade da minha filha que me preocupa nestes dias. Eis que quando eu começo a achar que as coisas começam a andar melhor, e que eu começo a tomar o jeito da coisa (apesar da ansiedade extremista e do medo constante normais de uma mãe de primeira viagem), eis que a minha filha apanha uma infeção no ouvido, aparecem-lhe montes de borbulhas por toda a cara, crosta lactea por toda a cabeça, e agora mais recentemente, rabinho assado (possivelmente devido aos antibioticos que está a tomar para a infeção no ouvido). Odeio saber que ela tem de tomar antibióticos, e tenho reforçado a minha toma de probiótico para a ajudar nas defesas, já que ela é exclusivamente alimentada por leite materno.
Só que me parte o coração ver a minha filhota, com 8 semanas, passar por todo este mau-estar. Hoje era para ir tomar as primeiras vacinas, mas tivemos de cancelar porque ela tem de fazer antibiótico até Sábado à tarde. Mas na semana que vem, é o mais certo, vai levar aquelas vacinas todas e vai ser mais uma semana de porcaria...! Estou desejando passar esta fase, para poder disfrutar da minha filha a 100%, e ela poder aproveitar a mãe dela a 100% também. Ando com tanto dó dela que ela dorme ao meu colo durante a noite desde que está a tomar antibiótico, para mal da minha coluna e dos meus olhos, que nunca conheceram olheiras tão profundas como as que tenho tido esta semana.
Tenho de me animar com a chegada próxima da minha irmã, até porque sei que nessa altura tudo o que hoje me preocupa e me perturba em relação à minha filha vai estar certamente resolvido e/ou sarado. Assim que ela estiver com as vacinas todas, e sem mais traços de infeção, eu vou poder começar a pensar em voltar a ter uma vida social para além das quatro paredes deste quarto e dos episódios infidáveis de 'Friends'. Até lá, resta-me ter fé de que as coisas vão melhorar e tentar colocar de lado este estado solitário-depressivo em que me encontro...