Tenho saudades de casa. Saudades do que era meu, só meu, que ninguém mais conhece a não ser eu e um grupo restrito de pessoas - as pessoas que me fizeram bem, e algumas que me fizeram mal mas das quais não guardo qualquer rancor. Sinto-me isolada. Há muito tempo que me sinto incapaz de quebrar correntes, de remar para a frente, sinto-me estagnada. Com muito trabalho pela frente, eis que decido cortar algum desse trabalho. Pela filha. Pelo marido. E assim que se apanha livre da obrigação de ficar em casa, eis que o marido resolve usar esse tempo para aceitar turnos, sem perguntar, sem consultar.
Estou furiosa.
Não me venham dizer que não pensou, que não tinha alternativa. Se eu ainda estivesse a trabalhar, ele teria de dizer que não. Mas tomou-me por certa, achou que o facto de eu estar em casa no 'nosso' dia lhe dava o direito de aceitar o tal turno, sem dar cavaco a ninguém. Pior ainda, foi descobrir isto por portas e travessas, não por ele. Diz-me sempre que nunca sabe para onde vai trabalhar todos os dias, senão às 10h da noite... Exacto. Acredito em tudo o que ele me diz agora (ironia).
Estou cansada. Tenho saudades de casa. Saudades do que era meu, só meu, que ninguém mais conhece a não ser eu e um grupo restrito de pessoas - as pessoas que me fizeram bem, e algumas que me fizeram mal mas das quais não guardo qualquer rancor. Porque as pessoas que me fizeram mal, fortaleceram-me. Agora quando uma pessoa que confiamos, com a qual partilhamos a nossa vida, os nossos momentos bons e menos bons, quando essa pessoa nos atraiçoa desta maneira, esquece os compromissos que fez, não honra a palavra, então a facada nas costas mata. A pressão do choro vive na cabeça, em cima, e nos olhos, vermelhos, doridos.
Sinto-me sózinha e estou rodeada de pessoas, amigos que me querem bem. No entanto, a pessoa que deveria olhar por mim é aquela que mais me decepciona. Essa pessoa, o meu marido, é aquele que corta a minha liberdade, destroi o sentido de lar e família, por um emprego desqualificado onde ele acha que pelo facto de lhe passarem um iPhone 5S para as mãos é sinónimo de ter de lamber as botas a uns tantos e esquecer que o compromisso com a família é bem mais importante e não tem preço.
Estou magoada. Muito magoada. Porque não me disse. Porque me escondeu. Porque não teve coragem de defender o nosso tempo em família, porque no dia que era para ser nosso, é também dia da mãe por estes lados.
Tenho saudades de casa. Saudades do que era meu, só meu, que ninguém mais conhece a não ser eu e um grupo restrito de pessoas - as pessoas que me fizeram bem, e algumas que me fizeram mal mas das quais não guardo qualquer rancor. Pelo menos dessas pessoas eu não tinha expectativas, e portanto tudo o que veio delas passou.
Daquela paixão que aquece o sangue nas veias, e faz bater o coração mais depressa...
Saudades de sentir arrepios de cada vez que me tocam, ou me beijam. Saudades de confiar em alguém de corpo e alma, daquele tipo de confiança de fechar os olhos e deixar-me cair de costas porque sei que essa pessoa me vai apanhar.
Não há ninguém na minha vida, que esteja disponível, e que me desperte esses sentimentos. E eu pergunto-me muitas vezes... Será que eu vou ser daquelas pessoas que simplesmente vão navegando pela vida, e tocando na vida de outras pessoas, alterando-lhes o rumo, mas que não são capazes de encontrar o rumo para si próprios?
Porque, viver para o trabalho - por mais que se goste do que se faça - um dia deixa de fazer sentido. E depois, o que é que fica? O vazio?
Passei a minha infância a sonhar com príncipes encantados, romances hollywoodescos e um final que incluísse 'felizes para sempre' escrito a chocolate sobre nuvens... Eu sei que a realidade não tem dessas coisas, e sonhar não ajuda muito a manter os pés assentes na terra. A passos largos do meu 31º aniversário, vejo à minha volta tudo o que conquistei, e tudo o que já perdi... E começo a fazer o balanço da minha vida e vejo que a àrea de maior desequilíbrio vem do meu coração e da minha impossibilidade de me comprometer.
E acreditem que eu odeio isso.
Odeio olhar à volta e não ver ninguém que me faça dizer:
Depois do fim de semana intensivo que passou, entre mudanças de casa e caixotes espalhados por tudo quanto é sítio, ontem acabei finalmente de pôr tudo em ordem (família, podem vir!). As costas ainda me doem um bocado, mas pelo menos agora posso finalmente disfrutar do meu novo lar. Ontem estive a pagar as últimas contas da outra casa, e comecei a juntar algum porque para o mês que vem vai ser propinas, council tax e renda tudo ao mesmo tempo... Ainda queria ver se me sobrava algum dinheirinho para eu poder ir passar os meus anos a Paris...
Este ano não posso ir a Portugal, apesar de ter tirado duas semanas de férias inteirinhas no princípio de Agosto... E vai ser o primeiro ano que vou passar o meu aniversário longe da família... Enfim, vida de emigrante... Para termos umas coisas, às vezes temos de abrir mão de outras...
Na esfera profissional, estou com esperança de poder finalmente começar a lançar mãos ao trabalho, nomeadamente no que diz respeito ao meu novo cargo dentro da Universidade. Sei que vai ser difícil ao príncipio, afinal é uma àrea que eu adoro, mas da qual ainda sei muito pouco. Vou ter de estudar intensivamente termos técnicos, procedimentos e processos... É um mundo novo para mim, mas sei que com a minha motivação e força de espírito hei-de conseguir ultrapassar expectativas e fazer um bom trabalho.
Com tanto para fazer ainda vou tendo tempo para me manter em contacto com os amigos, e saír volta e meia (quando não estou podre de cansada que só quero mesmo é a minha caminha!). No geral, estou mesmo a adorar viver sózinha. Até agora tem sido super bom, se bem que ás vezes também penso que seria bom poder dividir todos estes meus sucessos com alguém especial... Mas no fundo, só o facto de ter amigos que se preocupam, e me ligam e me tratam com carinho, e me lembram que estão lá - só isso vale mais do que qualquer relação que eu tenha tido ou venha a ter...
Quando vim para a Inglaterra estudar, pensei que estáva a caminho de 1001 oportunidades - e elas até foram aparecendo numa série de coisas na minha vida. Confesso que deixar tudo para trás e seguir para um país novo para mim não foi plano que tive de infância, foi mais o desenrolar dos acontecimentos que me empurraram para tal. Sim, a minha mãe sempre me passou a facilidade da língua (foi professora de Inglês), sim o meu pai sempre me passou a vontade de viajar e conhecer outros mundos que não o meu cantinho à beira-mar plantado.
Não decidi mudar de vida porque a minha vida em Portugal era uma desgraça, como acontece a tantos que pensam deixar o país por falta de condições de trabalho ou de vida. Por acaso eu estáva muito bem lançada na minha carreira, estava num emprego que me realizava pessoal e profissionalmente, era bem paga, tinha um carro, casa (mesmo que fosse a casa dos papás), roupa lavada. Eu não podia pedir mais, porque no geral, eu tinha tudo mesmo.
Mas o destino tem destas coisas, e impulsionada pela oportunidade que surgiu no horizonte (e em parte motivada pelo facto de poder vir a ter um curso superior, algo que deixei a meio para ingressar no mundo do trabalho), resolvi tentar. Porque não se perde nada em tentar, não é? Aliás, se não tentarmos, nunca saberemos como vai ser e eu já tive oportunidade de expressar tantas vezes que não sou pessoa de 'what ifs' ou, em português, ' e ses'!
Mais vale seguir o ritmo da vida, ou do destino ou lá daquilo que lhe quiserem chamar. Não foi fácil. Mas também não foi difícil. Tudo se compôs ao fim do segundo mês, e a partir do momento em que comecei a entrar na rotina e na vida inglesa, parecia mesmo às vezes que eu nunca tinha tido vida alguma em Portugal...
Mas apegada às minhas raízes, fui sempre marcando o ponto nas ocasiões especiais, e fui sendo sempre informada dos acontecimentos por terras lusas, mas essencialmente, pelo círculo familiar. Ainda hoje o SAPO.PT é o meu ponto de passagem obrigatório... Hoje em dia o messenger também ajuda a amenizar as distâncias com as conversas em conferência, os telefonemas ainda são carotes para poderem ser feitos todos os dias e vai-se vivendo um dia após o outro, com fé de que a conta à ordem suba mais umas librazinhas semana a semana, mês a mês.
O pior foi quando acabei o curso. De repente toda a minha luta tinha acabado tão depressa como começou, pois um objectivo principal foi alcançado! Como se me tivessem tirado o tapete debaixo dos pés, vi-me de repente com uma catrefada de escolhas para fazer: Mestrado? Trabalho? Se estudo estou isenta de pagar a contribuição autárquica - são £ 750 por semestre, mais renda mensal, mais a catrefada de despesas para a comida, produtos de higiene, etc... Claro que tenho de pagar o mestrado, e os livros, e os cadernos, etc, etc, etc... Trabalhar, no entanto, e apesar de trazer algumas despesas, acaba por ser a ponte para a família, a casa própria, o carro na entrada, e um jardim nas traseiras. E eu estou prestes a entrar nos 30, começo a sentir necessidade de ter um espaço só meu sem as tropelias de morar numa casa partilhada com mais quatro ou cinco indivíduos...
Se por um lado estou segura de que fazer o Mestrado foi a melhor solução no momento, por outro o mesmo parece que está embruxado porque desde que comecei a fazer os preparativos para o mesmo já se perderam documentos, já houveram mil e uma brigas entre mim e o mais que tudo, e a oferta condicional ainda se mantém a duas semanas de começar as aulas porque o proessor responsável por aprovar incondicionalmente as ofertas académicas está ausente por doença...
E eu, que feita parva, rejeitei um emprego na LEGO, porque era longe e eu não podia trabalhar full-time, com esta história do Mestrado. Um emprego feito à minha medida mas que implicaria mudar-me para mais perto de Londres (senão para o centro mesmo), e dedicar-me inteiramente ao mesmo... Mas não deu, porque escolhi fazer o mestrado! E desde que escolhi fazer o Mestrado, chovem empregos full-time de todos os cantos de Londres, propondo mil e um benefícios, mas também chovem problemas...
Ninguém aqui nas redondezas me contrata em regime de part-time porque:
1) Não sei os horários do meu mestrado ainda, só na última semana do mês se entretanto receber o raio da oferta incondicional!
2) Tenho demasiadas qualificações para uma mera assistente de loja, e para ser mais do que isso teria de estar disponível a full-time - e isto aplica-se a agências de emprego também.
Por isso ando eu aqui a queimar as pestanas ( ou em vias disso) numa pós-graduação e ninguém se digna a contratar-me, mais que não seja porque eu PRECISO! E o resto vocês já sabem: falta de motivação porque ninguém me liga, ando aborrecida como tudo, cansada porque só dou com os burros na àgua, já fui ao meu emprego anterior e tudo pedir que encarecidamente me recebam de volta (uma vez que o gerente parvo entretanto transferiu-se para bem longe), e nada. NADA!
O meu gajo farta-se de trabalhar, e eu também, mas enquanto que ele é pago à hora, eu não tenho quem me pague, uma vez que o meu trabalho estes dias é saír de casa de manhã com uma catrefada de CVs e chegar a casa à noite com o mínimo de CVs possível - isto enquanto não começar o Mestrado!
Juro que não percebo isto! O meu Mestrado é em Marketing, certas companhias poderiam até interessar-se por mim e dar-me um emprego assim assim, até eu acabar o Mestrado e depois podiam até usar-me nos quadros deles - isso acontece! Não é que eu lhes esteja a pedir que me paguem o Mestrado...
Sortudos aqueles que só têm de se preocupar com o trabalhito deles, e disse.