Adaptação...
Ontem vi o filme 'Eat, Pray, Love'. Ficou-me marcada uma passagem desse filme onde a protagonista principal diz: 'Ruin is the road to transformation' (o que traduzido à letra significa que o caminho da transformação passa pela ruína das coisas). Tenho que concordar com isso, mesmo até porque recentemente eu sinto que atingi 'rock bottom', e apesar da adversidade reconheço que não me deixei vencer - mas também não me deixei levar pela arrogância natural decorrente desse reconhecimento. Por vezes é necessário atingir um ponto muito baixo na nossa vida para começarmo-nos a aperceber de todos os pontos bons que ainda nos restam, ou que ainda podemos recuperar - isto se nos capacitarmos que para tal acontecer, temos de crescer interiormente, e para isso, temos de matar o medo de olhar para dentro de nós.
Eu não olho muito para dentro de mim, tento não o fazer porque não gosto às vezes daquilo que vejo. Há muita gente como eu, que tem medo de parar na vida, porque no silêncio dessa paragem dá para descobrir coisas acerca de nós mesmos, muitas das quais passámos uma vida a tentar esquecer. Só que andar a tentar fintar a realidade de nós mesmos geralmente não dá bom resultado, porque as coisas não se resolvem: ficam pendentes.
Ás vezes tento parar um pouco, porque a minha vida anda geralmente num corrupio tão grande que me esqueço de mim. E porque me esqueço de mim, e de me amar a mim como sou, com todas as minhas características e feitios, é muito mais fácil esquecer-me dos outros também. Passei tantos anos a pôr-me na defesa, a tentar sobreviver por mim, que agora parece que não sei viver de outro jeito. É a falta de controle que me assusta, mas é nesse reconhecimento que está a cura, e também o primeiro passo para a mudança - a tal transformação que vem da ruína das coisas. Porque nada acaba permanentemente - por mais que um capítulo se feche, outros tantos se abrem. Mesmo quando morremos, deixamos para trás a nossa vida em pequenos episódios de memória, lembrada pelos outros bem ou mal. Deixamos também a nossa escrita, no fundo, o nosso conjunto de experiências existênciais.
Como toda a gente, os meus desafios (ou experiências existenciais - como lhes queiram chamar!) também se vão intensificando com o passar dos tempos. Há quem diga que isso é típico do mundo dos adultos, as coisas realmente tornam-se mais complicadas. Mas na verdade, se assim não o fosse, qual era o gozo de viver? Viver na monotonia de saber o que vem aí amanhã e puxar as rédeas para que as coisas não nos fujam da mão não é maneira de viver - no entanto, eu vivi assim durante muito tempo.
A dor, a tristeza, a solidão, são todos eles estados de espírito que partem da nossa necessidade de nos sentirmos amados para nos afirmar como pessoas sucedidas. Muitas vezes não nos apercebemos que ao nos amarmos verdadeiramente, e aceitarmos as lições de vida de todos aqueles que de uma forma ou de outra tocam a nossa vida, estamos já na direcção certa. Por vezes é difícil aceitar que podemos aprender mais com os outros do que com nós mesmos, mas é na humildade da aceitação desse facto que reside o caminho para a verdadeira felicidade...
Nesses momentos em que os obstáculos se tornam quase incontornáveis, basta ter fé em nós próprios e naqueles que nos amam. Mas sobretudo em nós próprios. A tormenta eventualmente passará, porque nesta vida tudo passa. E uma coisa é certa, algo que aprendi nestes 6 anos a viver em terras estrangeiras - a vida nunca nos daria um desafio que nós não tivéssemos a capacidade de ultrapassar. Por isso não se deixem abater quando as coisas ficam bem complicadas. Na solidão podemos muitas vezes encontrar as respostas para todos os nossos problemas, e na experiência dos outros podemos muitas vezes encontrar um caminho alternativo para ver a vida com outras cores.