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E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

25
Mar14

As palavras que ele nunca te dirá...

Little Miss Sunshine

Tenho saudades de casa. Saudades do que era meu, só meu, que ninguém mais conhece a não ser eu e um grupo restrito de pessoas - as pessoas que me fizeram bem, e algumas que me fizeram mal mas das quais não guardo qualquer rancor. Sinto-me isolada. Há muito tempo que me sinto incapaz de quebrar correntes, de remar para a frente, sinto-me estagnada. Com muito trabalho pela frente, eis que decido cortar algum desse trabalho. Pela filha. Pelo marido. E assim que se apanha livre da obrigação de ficar em casa, eis que o marido resolve usar esse tempo para aceitar turnos, sem perguntar, sem consultar.

 

Estou furiosa.

 

Não me venham dizer que não pensou, que não tinha alternativa. Se eu ainda estivesse a trabalhar, ele teria de dizer que não. Mas tomou-me por certa, achou que o facto de eu estar em casa no 'nosso' dia lhe dava o direito de aceitar o tal turno, sem dar cavaco a ninguém. Pior ainda, foi descobrir isto por portas e travessas, não por ele. Diz-me sempre que nunca sabe para onde vai trabalhar todos os dias, senão às 10h da noite... Exacto. Acredito em tudo o que ele me diz agora (ironia).

 

Estou cansada. Tenho saudades de casa. Saudades do que era meu, só meu, que ninguém mais conhece a não ser eu e um grupo restrito de pessoas - as pessoas que me fizeram bem, e algumas que me fizeram mal mas das quais não guardo qualquer rancor. Porque as pessoas que me fizeram mal, fortaleceram-me. Agora quando uma pessoa que confiamos, com a qual partilhamos a nossa vida, os nossos momentos bons e menos bons, quando essa pessoa nos atraiçoa desta maneira, esquece os compromissos que fez, não honra a palavra, então a facada nas costas mata. A pressão do choro vive na cabeça, em cima, e nos olhos, vermelhos, doridos.

 

Sinto-me sózinha e estou rodeada de pessoas, amigos que me querem bem. No entanto, a pessoa que deveria olhar por mim é aquela que mais me decepciona. Essa pessoa, o meu marido, é aquele que corta a minha liberdade, destroi o sentido de lar e família, por um emprego desqualificado onde ele acha que pelo facto de lhe passarem um iPhone 5S para as mãos é sinónimo de ter de lamber as botas a uns tantos e esquecer que o compromisso com a família é bem mais importante e não tem preço.

 

Estou magoada. Muito magoada. Porque não me disse. Porque me escondeu. Porque não teve coragem de defender o nosso tempo em família, porque no dia que era para ser nosso, é também dia da mãe por estes lados.

 

Tenho saudades de casa. Saudades do que era meu, só meu, que ninguém mais conhece a não ser eu e um grupo restrito de pessoas - as pessoas que me fizeram bem, e algumas que me fizeram mal mas das quais não guardo qualquer rancor. Pelo menos dessas pessoas eu não tinha expectativas, e portanto tudo o que veio delas passou.

 

 

11
Mai11

Vida de mãe...

Little Miss Sunshine

Viver no estrangeiro tem as suas vantagens, mas quando se tem um bébé nos  braços, as vantagens cedo se tornam desvantagens: estamos longe da família, se a mulher fica em casa com o bebé, o marido tem de ir trabalhar - e a solidão instala-se, porque não há conversas, não há descanso, não há tempo para nós.

 

Desde que a minha filha nasceu, eu tenho aprendido muito sobre ela e sobre mim - e até sobre o meu marido e sobre a minha família. Tem sido uma aprendizagem bastante sofrida, mas que vale muito a pena porque a minha filha é o melhor que me aconteceu na vida. Cheguei a um ponto na minha vida em que nada mais importa a não ser o bem estar da minha pequerrucha. Foi difícil de início, a minha mãe esteve cá duas semanas para me ajudar, mas depois foi-se embora e eu fiquei por minha conta, já que o marido regressou ao trabalho.

 

Vi-me, de repente, isolada, com um bebé nos braços do qual nada sabia (eu nunca fui muito dada a bebés e nunca tive muito jeito para eles quando era mais miuda), e um grande medo de não conseguir dar conta do recado...! Mas os dias foram passando, e com a rotina da amamentação, mudança de fraldas, banhos, e muito pouco descanso, nem dei conta de que a Páscoa estáva já à porta. O meu pai veio de visita, e foi mais uma semana agradável, em que tive companhia, e não me senti tão animal - porque isto de viver para um bebé apela aos nossos instintos de tal forma, que nos esquecemos muitas vezes de ser civilizados ou de viver pensando nas nossas próprias necessidades e desejos.

 

Mas lá está, a coisa mais complicada e triste de se viver no estrangeiro é ver a família chegar e partir, ou então de chegar a Portugal sabendo de antemão que temos de regressar de volta para Londres, mais tarde ou mais cedo. E assim que o meu pai regressou a Portugal, comecei a contagem decrescente para a chegada da minha irmã e cunhado, em Junho... e a contagem decrescente para ir de férias a Portugal no final de Julho com a pequenina... Isto se o consulado se dignar a resolver o problema do registo dela, porque não nos resolveu o problema do registo do meu casamento...! E sem documentos para ela, nós não podemos ir para Portugal.

 

Mas não é só o problema logístico da identificação e certificação da nacionalidade da minha filha que me preocupa nestes dias. Eis que quando eu começo a achar que as coisas começam a andar melhor, e que eu começo a tomar o jeito da coisa (apesar da ansiedade extremista e do medo constante normais de uma mãe de primeira viagem), eis que a minha filha apanha uma infeção no ouvido, aparecem-lhe montes de borbulhas por toda a cara, crosta lactea por toda a cabeça, e agora mais recentemente, rabinho assado (possivelmente devido aos antibioticos que está a tomar para a infeção no ouvido). Odeio saber que ela tem de tomar antibióticos, e tenho reforçado a minha toma de probiótico para a ajudar nas defesas, já que ela é exclusivamente alimentada por leite materno.

 

Só que me parte o coração ver a minha filhota, com 8 semanas, passar por todo este mau-estar. Hoje era para ir tomar as primeiras vacinas, mas tivemos de cancelar porque ela tem de fazer antibiótico até Sábado à tarde. Mas na semana que vem, é o mais certo, vai levar aquelas vacinas todas e vai ser mais uma semana de porcaria...! Estou desejando passar esta fase, para poder disfrutar da minha filha a 100%, e ela poder aproveitar a mãe dela a 100% também. Ando com tanto dó dela que ela dorme ao meu colo durante a noite desde que está a tomar antibiótico, para mal da minha coluna e dos meus olhos, que nunca conheceram olheiras tão profundas como as que tenho tido esta semana.

 

Tenho de me animar com a chegada próxima da minha irmã, até porque sei que nessa altura tudo o que hoje me preocupa e me perturba em relação à minha filha vai estar certamente resolvido e/ou sarado. Assim que ela estiver com as vacinas todas, e sem mais traços de infeção, eu vou poder começar a pensar em voltar a ter uma vida social para além das quatro paredes deste quarto e dos episódios infidáveis de 'Friends'. Até lá, resta-me ter fé de que as coisas vão melhorar e tentar colocar de lado este estado solitário-depressivo em que me encontro...

09
Jun10

Voltou a chuva... Mas esta semana promete!

Little Miss Sunshine

Esta semana tenho estado cheia de trabalho. Não pensem que lá porque as aulas acabaram, e eu não vou ao escritório todos os dias, que as coisas não são feitas! Pensava eu que ía entrar numa fase mais calminha (e já stressava com a falta de pilim que  essa fase de 'descanso forçado' me traria) mas afinal parece que o trabalho triplicou por estes dias...  Desde o princípio do mês que acordo todos os dias cedo, tomo o meu pequeno almoço reforçado (bolas, esqueci-me de tomar as minhas vitaminas hoje!!), e sento-me frente ao computador, muitas vezes horas a fio, e sem pausas para almoço ou algo que se pareça com tal. {#emotions_dlg.serious}

 

Mandar emails é a minha especialidade. Às vezes até acho que essa é que devia ser a minha profissão principal, porque passo o dia a tomar decisões e a resolver questões e problemas que me chegam minuto a minuto ao meu 'Outlook'. Como sabem, a minha vida não gira só à volta das aulas, e quando as aulas terminam claro que temos coisas para fazer, nomeadamente preparar as aulas para o semestre que vai começar em Setembro. Só que durante o Verão eu ainda estou a coordenar os cursos internacionais, e agora, com mais um partner a bordo, as preparações para o semestre que vem são urgentes e ocupam muito do meu tempo.

 

Mas enfim, quem corre por gosto não cansa, e agora há até a possibilidade de causar um brilharete lá na Universidade. Tenho de produzir um documento de feasibilidade para um projecto que incorporará a unidade onde eu trabalhei. A ter pernas para andar, este projecto poderá dar-me o tal contrato de trabalho que eu tanto quero e ainda a possibilidade de gerir mais um curso/ acreditação profissional.

 

Esquecendo agora a minha vida laboral um bocadinho, este mês começou bem em termos pessoais, com muitas datas importantes a assinalar!

 

  • Dia 4, o meu cunhado fez anos (Parabéns!!);
  • Dia 6 o meu irmão e a minha cunhada celebraram um ano de casados (Parabéns!!); e
  • Ontem, dia 8, o meu pai fez anos também (Parabéns!!).

 

Hoje à noite, eu e o meu marido vamos começar a celebrar o aniversário dele umas horas mais cedo com o concerto da Blondie (ganhei os bilhetes num concurso da universidade!!), e depois amanhã, dia 10, vamos juntar a família aqui para celebrar em grande os 35 anos do maridão. Antes disso ainda temos de ir ao consulado Brasileiro fazer a inscrição dele lá, e no final da semana vamos mandar os papeis para o EEA2, o visto de residência dele.

 

No sábado, eu e a minha amiga Sara vamos ter um dia muito 'girly' com almoço e cocktails antes de SATC 2. Provavelmente, iremos atacar mais cocktails depois de sairmos do filme, para terminarmos o dia em beleza (e comigo a provavelmente ter de chamar o marido para me levar para casa...!)... {#emotions_dlg.sarcastic}

 

Como vêm, tenho andado ocupada. Pelo meio destas coisas todas, ainda contribui para uma reportagem que provavelmente sairá no Público esta semana, e tenho andado a ajudar umas pessoas com as leis de imigração daqui. Não sou uma grande conhecedora das leis, até porque não sou advogada, mas a minha experiência tem ajudado a perceber como funciona o sistema daqui, e isso muitas vezes é uma vantagem.

 

No fundo, tenho andado ocupada com muitas coisas ao mesmo tempo, o que já vem sendo hábito. Aqui neste país é importante saber um pouco de tudo, e meter o dedo em muitas tartes ao mesmo tempo (ok, esta é uma expressão Inglesa, e não soa lá muito bem em português....!), pois só assim se consegue uma boa reputação e conhecimentos que mais tarde podem levar a grandes oportunidades.

 

Na verdade eu ainda não perdi a esperança de ser 'caçada' por uma empresa ou universidade dos Estados Unidos. Por isso tento ao máximo ter toda a visibilidade possível e obter toda a experiência necessária para que um dia eu tenha o meu merecido 'big break'! Até lá vou fazendo aquilo que a vida me põe à frente, e nunca digo não a uma oportunidade, por pequena que me pareça.Nunca se sabe se daí não virá uma grande oportunidade, cheia de desafios e coisas novas!!

12
Dez07

Impávida e serena...

Little Miss Sunshine
Última semana de aulas. Como manda a praxe, não ponho lá os pés - nas aulas, porque fui à uni entregar lembrançazinhas de Natal a duas das minhas amigas, uns chocolatinhos minusculos porque isto não dá para mais. Ando mal de massas, toda a gente sabe, e este Natal vai ser a contar o tostãozinho no fundo da carteira.

Anyway - passa à frente que farta de me ouvirem devem estar vocês, gira o disco e toca o mesmo! - a carta de despejo para o casal do lado ainda não chegou e hoje já tenho uma futura housemate em linha. Vai no segundo curso superior, é inglesa mas arrumadinha e parece que paga as contas a tempo e horas (pelo menos é o que ela diz).

Não me parece que faça ondas como o casalito do lado, o que para mim já é muito bom e se for asseada, melhor ainda.

Para a semana, três dias de trabalho, e sem aulas isto vai ser bonito. O rapaz vai trabalhar a semana inteira para ver se começamos bem o ano, e eu vou ver se ponho os trabalhos da universidade em dia. Com três trabalhos e um teste, Janeiro avizinha-se ser um mês de alguma inquietação e muito trabalho.

Mas depois vêm as férias do semestre e eu queria ver se ía a casa nessa altura. Ando mesmo com saudades de casa. Ando tão  mal, tão mal, tão mal, que ontem me deu para ir ao 'YOU TUBE' ver videos sobre o Barreiro, a minha terrinha.

Com a aproximação do Natal, imagino que deva estar tudo decorado com luzes nas avenidas principais, e aquele cheirinho tão peculiar no meu bairro por esta altura, uma vez que o pessoal acende as lareiras para receber a família que vem juntar-se à mesa numa ceia tradicionalmente farta. (suspiro)

Não é justo. Este Natal vai ser dos mais tristes para mim. Ando desanimada. Montei a àrvore de Natal e comprei caixas de chocolates a £1 cada só para poder ter prendinhas debaixo da àrvore. Pus luzinhas nas janelas só para me lembrar daqueles tempos em que o Natal em minha casa era barulhento, trabalhoso mas feliz. Lembro-me daqueles dias de véspera em que eu acordava cedinho para fazer as fatias douradas, ou as filhóses à moda do Porto, a aletria e o arroz doce...

O meu pai e a minha mãe íam cedinho no dia 24 buscar à pastelaria as azevias - que por serem muito trabalhosas não se faziam em casa - e os coscorões, e o tronco de Natal. Estendiamos os doces na mesa da sala de estar, que era também a sala de jantar já que a sala de jantar propriamente dita tinha sido convertida em escritório/ biblioteca.

O bacalhau começava a cozer lá para as seis. A família chegava entretanto quase sempre por essa hora - altura em que a mesa já estáva devidamente posta, e a lareira crepitava lançando bafos quentes para dentro daquele espaço, que cheio de gente animada dava uma outra luz à casa.

Olhando para trás, posso dizer que os meus Natais foram sempre especiais. Uns anos mais que outros, o meu espírito de Natal sobrevivia de contentamento e hoje questiono muitas vezes se os meus filhos um dia terão essa mesma sorte. O Sidd não entende o Natal como eu, que o vivi a vida inteira. Para ele o Diwali tem o mesmo significado, mas as tradições são diferentes e os sentimentos raramente se misturam.

O meu Natal podia ser pior. Apesar de estar a passar por algumas adversidades, a verdadeé que neste Natal não vou ficar sózinha. Posso não ter a família toda à minha volta, os cães a correr entre as minhas pernas e a gata a miar sorrateiramente à janela, mas pelo menos tenho o Sid e tenho a Daisy. E vou tentar arranjar bacalhau, mesmo que pouco, só para poder ter o gostinho de voltar a casa - nem que seja só na imaginação...

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