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E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

13
Jul10

Um cão chamado 'Sarilho'

Little Miss Sunshine

O meu cão Bidú é do pior que há. Pode ser porque ainda é cachorrinho, e portanto não está ainda habituado a estas rotinas humanas de comer e dormir a horas certas. Desde que veio para nossa casa, que nos acorda às 4, 5, 6 e 7 da manhã. Se não lhe damos atenção, ladra e acorda a vizinhança toda. Normalmente sou eu que me levanto para brincar com ele, e deixar ele bem cansado para que possa dormir bastante. Adora morder os meus chinelos de casa, os brinquedos da gata, as calhas da alcatifa, as portas, os cabos de televisão e do telefone, enfim, tudo o que seja canino-comestível ele tem de experimentar.

 

Por um lado, é bom. Como eu me andava a queixar de solidão, agora tenho quem me faça companhia nas horas vagas - que por sinal agora são bastantes. Mas por outro é terrível, porque não temos tido descanso nenhum, e um cão é sempre uma despesa e uma responsabilidade acrescida. Ainda por cima neste país ter animais em casas arrendadas é muito complicado. Os senhorios não gostam de animais, e normalmente quando eu digo que tenho um cão e um gato, as portas fecham-se para mim no que diz respeito a alugar uma casa maior.

 

Eu gostava de comprar uma casa, mas não tenho nem 5% do valor de depósito necessário para dar entrada no processo. Irrita-me porque não podemos ter um espaço nosso, e andamos a gastar dinheiro em renda numa casa que nunca será nossa e que a qualquer altura podemos ter de deixar pois tudo depende da vontade do senhorio.

 

Odeio morar numa casa arrendada. É simplesmente demasiado limitativo, e eu sei que por ter comprado um cão estou a candidatar-me a ir morar na rua, porque já estou a quebrar alguns dos termos do meu contrato de arrendamento, o qual só permite um gato (a Daisy). Tudo isto é demasiado frustrante, e para piorar as casas aqui não são baratas. Se com 300 euros se arrenda uma propriedade razoável em Portugal, aqui essa mesma propriedade custaria à volta das 750 a 800 libras por mês. Imaginem o dinheiro que eu poderia poupar se não tivesse que pensar em pagar alojamento!! Mas não, é literalmente quase todo o meu ordenado (e o do meu marido) que vai para a casa e as contas.

 

Para piorar temos mesmo de comprar um carro. Na eventualidade de construímos família não podemos de maneira nenhuma andar a pé ou dependentes da carrinha do trabalho dele. Não só não é pratico, como quando tivermos filhos também não vai ser possível pô-los na carrinha para irmos onde formos, porque é ilegal. Temos de ter um carro, dê por onde der.

 

E com a diminuição do meu trabalho durante estes meses de Verão as coisas não estão muito fáceis para nós, o que me deixa com bastante medo do futuro. Temos trabalho, é certo, mas também temos muitas despesas e essas coisas pesam no nosso orçamento no final do mês. este ano nem vou a Portugal nas férias como já era habitual, e vou ter de optar por uns dias em Jersey ou Guernsey só para relaxar antes do começo do próximo semestre lectivo.

 

A vida não está muito fácil e eu peço todos os dias por um momento divino de inspiração, na esperança de que os nossos caminhos de abram, e que algum dinheiro caia no nosso bolso para que possamos viver sem pensar no futuro com medo e insegurança.

03
Out08

A mim...

Little Miss Sunshine

Hoje fui à psicóloga. Queria desabafar, tentar entender porque é que me deixo maltratar tanto, tantas vezes, porque é que a raiva dentro de mim dispara a 200 km à hora, porque é que para mim nenhum homem será nunca perfeito ou suficiente para me fazer feliz.

 

Não sei porque é que não me valorizo ou porque é que acho que os outros são sempre muito melhores que eu, mesmo que não sejam. A minha percepção das coisas vem de um passado distante que eu não quero perdoar, não sei bem porquê. Coisas que foram ditas e pessoas que não estiveram tão presentes e que por isso não me providenciaram aquilo que eu esperava, ou aquilo que eu precisava.

 

A falta de atenção e a falta de carinho que eu vi acontecer, e que transporto para todas as figuras masculinas da minha vida, tem a ver com uma falta de amor próprio que eu cultivei a partir de fragmentos do passado. Sempre achei que era normal ser pouco importante, ser indesejada, ou mesmo ser acusada dos fracassos de quem deveria limpar as minhas lágrimas e abraçar-me. Chorei.

 

Tenho medo. Não confio. Não acredito. Defendo-me. Escondo-me. Não peço desculpa nem peço perdão. Não acho que a culpa seja inteiramente minha. Penso que as minhas relações se revêm muito no exemplo que eu tinha em casa, o qual não quero para mim. Quero independência, e ao mesmo tempo quero poder depender de alguém.

 

A falta de confiança e o querer fazer tudo pelos outros porque não acredito que alguém alguma vez supere as minhas expectativas, tem a ver com uma necessidade ainda maior de ter alguém que cuide de mim, que me trate bem e que não me minta ou não me faça crer no impossível. Alguém que não me enxote ou me mande calar, alguém que não me trate como se eu fosse um cão, indefeso, dependente, preso num canil de solidão e angústia, incompreensão e tristeza.

 

Não sou um cão, sou uma pessoa. Uma pessoa que deveria ser feliz, e que deveria ter relacionamentos saudáveis com as outras pessoas. Mas a capa com que me tapo previne que me magoe, e empurra-me para um mundo de solidão, pois por mais que eu queira, as cicatrizes estão lá e ainda sangram.

 

Eu sou daquelas pessoas que se estiver a passar fome, ninguém sabe, porque eu tenho medo de enfrentar quem quer que seja e admitir um fracasso, mesmo que seja um fracasso pequeno. Isto aplica-se especialmente se tiver de recorrer ao paterno, porque acredito que a minha falta de auto estima vem da necessidade que eu tenho de ser aceite por ele, sem ser criticada ou dar azo a crítica.

 

Estou magoada. Estou triste. Porque por mais que escave em busca de uma resposta para toda a minha raiva, e por mais que tente encontrar alguém que me entenda sem me esfaquear pelas costas, enquanto não sarar o passado e entender que as pessoas são todas diferentes, e os erros das pessoas estão no passado, nunca poderei andar para a frente. E como é que eu posso andar para a frente se tenho medo de olhar nos olhos dessa pessoa e dizer:

 

Sou uma pessoa única, sem medos, batalhadora. E tu?

 

Chega de me deitarem abaixo. Chega. A partir de hoje só faço aquilo que me faz feliz.

Nova sessão na psicóloga na próxima sexta-feira.

 

 

15
Set07

Quero voltar...

Little Miss Sunshine

Aqui sinto-me amedrontada constantemente... Na minha cabeça é só negativismo... E se as coisas não resultam? E se no emprego as coisas correm mal? E se não vale a pena estar a sacrificar-me tanto?

 

Hoje estou chateada. Apesar de saberem que não trabalho aos fins de semana - como aliás está no meu processo lá no trabalho, meteram-me a trabalhar turnos inteiros hoje e amanhã. Estou um bocado devastada, porque nos fins de semana é quando eu tiro assim umas horinhas para ir dar uma volta e fazer algum exercício. 

 

Ainda por cima, está de sol e eu vou ter de ficar fechada naquele lugar inóspito durante o dia todo. O namorado sai às duas da tarde e eu tenho de lá ficar até às oito da noite - não é o meu ideal de dia.

 

Sim, sim, estou a ganhar dinheiro - isso é, aliás, a filosofia do namorado, mas a minha filosofia é mesmo ter os fins de semana livres e o resto é história. Já estou desmotivada - e o dia ontem até correu relativamente bem, mas hoje estou mesmo com os azeites e já mandei o namorado a um sítio muita feio 'N' vezes, porque ele sabia que eu não trabalho fins de semana e quando o chefe lhe deu os meus horários ele não disse nem ai, nem ui.

 

Bolas, eu sei que me andava a lamentar que não tinha trabalho e blá blá blá, mas agora que tenho dá-me uma vontade de fugir. Queria mesmo voltar para Portugal, tenho saudades dos meus amigos e de casa e de tudo mesmo. Mas se voltar as coisas não vão ser como eram de antes, está tudo mudado. Às vezes até penso que já não pertenço àquele quadro, que o meu espaço foi de certa forma tomado e que já não posso voltar...

 

Estou tão farta de falar inglês e de viver numa sociedade que não me desponta a mais pequena ternura. Sinto-me deslocada, a ter que fazer trabalhinhos da tanga para poder sobreviver e tirar mais uma graduação académica. Vale mesmo a pena ter de passar por tudo isto?

 

(suspiro)

 

Eu só quero mesmo é saír daqui porque tudo isto me causa pânico, um buraco no estômago, uma vontade de correr sem parar. Já é mau ter de lutar contra o meu medo quase primário das minhas chefias, e ainda ter de lutar comigo própria para encontrar motivação num trabalho? E só para continuar para a frente num plano de vida que de certa forma me foi impingido? Tudo isto é frustrante e mete-me mesmo muito medo... Porque eu não sei o dia de amanhã, e se não tiver emprego, então saberei muito menos. Mas satisfação pessoal não acredito que ganhe alguma, porque a ter de passar por isto é mesmo muito complicado...

 

Eu sei que há montes de pessoas a fazerem o que não gostam, mas eu quando faço algo que me esteja de certa forma a contrariar, fico doente. E já ando doente, aos berros por tudo e por nada, começou ontem o desequilíbrio emocional outra vez.

 

Será que nunca vou sentir-me satisfeita pelo menos UMA vez nesta vida?

 

 Será que vou ter de passar por esta insatisfação pessoal constantemente?

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