Viver no estrangeiro tem as suas vantagens, mas quando se tem um bébé nos braços, as vantagens cedo se tornam desvantagens: estamos longe da família, se a mulher fica em casa com o bebé, o marido tem de ir trabalhar - e a solidão instala-se, porque não há conversas, não há descanso, não há tempo para nós.
Desde que a minha filha nasceu, eu tenho aprendido muito sobre ela e sobre mim - e até sobre o meu marido e sobre a minha família. Tem sido uma aprendizagem bastante sofrida, mas que vale muito a pena porque a minha filha é o melhor que me aconteceu na vida. Cheguei a um ponto na minha vida em que nada mais importa a não ser o bem estar da minha pequerrucha. Foi difícil de início, a minha mãe esteve cá duas semanas para me ajudar, mas depois foi-se embora e eu fiquei por minha conta, já que o marido regressou ao trabalho.
Vi-me, de repente, isolada, com um bebé nos braços do qual nada sabia (eu nunca fui muito dada a bebés e nunca tive muito jeito para eles quando era mais miuda), e um grande medo de não conseguir dar conta do recado...! Mas os dias foram passando, e com a rotina da amamentação, mudança de fraldas, banhos, e muito pouco descanso, nem dei conta de que a Páscoa estáva já à porta. O meu pai veio de visita, e foi mais uma semana agradável, em que tive companhia, e não me senti tão animal - porque isto de viver para um bebé apela aos nossos instintos de tal forma, que nos esquecemos muitas vezes de ser civilizados ou de viver pensando nas nossas próprias necessidades e desejos.
Mas lá está, a coisa mais complicada e triste de se viver no estrangeiro é ver a família chegar e partir, ou então de chegar a Portugal sabendo de antemão que temos de regressar de volta para Londres, mais tarde ou mais cedo. E assim que o meu pai regressou a Portugal, comecei a contagem decrescente para a chegada da minha irmã e cunhado, em Junho... e a contagem decrescente para ir de férias a Portugal no final de Julho com a pequenina... Isto se o consulado se dignar a resolver o problema do registo dela, porque não nos resolveu o problema do registo do meu casamento...! E sem documentos para ela, nós não podemos ir para Portugal.
Mas não é só o problema logístico da identificação e certificação da nacionalidade da minha filha que me preocupa nestes dias. Eis que quando eu começo a achar que as coisas começam a andar melhor, e que eu começo a tomar o jeito da coisa (apesar da ansiedade extremista e do medo constante normais de uma mãe de primeira viagem), eis que a minha filha apanha uma infeção no ouvido, aparecem-lhe montes de borbulhas por toda a cara, crosta lactea por toda a cabeça, e agora mais recentemente, rabinho assado (possivelmente devido aos antibioticos que está a tomar para a infeção no ouvido). Odeio saber que ela tem de tomar antibióticos, e tenho reforçado a minha toma de probiótico para a ajudar nas defesas, já que ela é exclusivamente alimentada por leite materno.
Só que me parte o coração ver a minha filhota, com 8 semanas, passar por todo este mau-estar. Hoje era para ir tomar as primeiras vacinas, mas tivemos de cancelar porque ela tem de fazer antibiótico até Sábado à tarde. Mas na semana que vem, é o mais certo, vai levar aquelas vacinas todas e vai ser mais uma semana de porcaria...! Estou desejando passar esta fase, para poder disfrutar da minha filha a 100%, e ela poder aproveitar a mãe dela a 100% também. Ando com tanto dó dela que ela dorme ao meu colo durante a noite desde que está a tomar antibiótico, para mal da minha coluna e dos meus olhos, que nunca conheceram olheiras tão profundas como as que tenho tido esta semana.
Tenho de me animar com a chegada próxima da minha irmã, até porque sei que nessa altura tudo o que hoje me preocupa e me perturba em relação à minha filha vai estar certamente resolvido e/ou sarado. Assim que ela estiver com as vacinas todas, e sem mais traços de infeção, eu vou poder começar a pensar em voltar a ter uma vida social para além das quatro paredes deste quarto e dos episódios infidáveis de 'Friends'. Até lá, resta-me ter fé de que as coisas vão melhorar e tentar colocar de lado este estado solitário-depressivo em que me encontro...
Este post vem no seguimento de um comentário deixado por um leitor do Blog que se encontra em terras Bitânicas, e que devido ao desenrolar de varios acontecimentos políticos e económicos no País, se viu confrontado com um dilema em muito justificado. Porque eu acho que muitos de vocês poderão estar na mesma situação, decidi publicar um excerto da minha resposta, pois acredito que o péssimismo existente face a esses acontecimentos em nada deve afectar os vossos sonhos...
Propinas:
As propinas vão certamente aumentar em 2011, porque isso acontece quase todos os anos. No entanto, o governo normalmente põe um cap (um limite máximo) que as universidades podem cobrar aos seus alunos. Infelizmente nesta altura isso nem sequer está a ser considerado. Claro que com os cortes orçamentais que o Reino Unido atravessa neste momento, o sector do ensino superior é sem dúvida um dos mais afectados, pois sobrevive à custa de muitos subsídios e fundos governamentais para pesquisa e desenvolvimento. Metade desses subsídios, pelo que sei, foi cortado. E a única maneira das universidades repôrem esse dinheiro é aumentarem as propinas. No entanto eu não acredito que as mesmas subam de £3,000/ ano para £9,000/ano sem mais nem menos – seria uma diferença bastante acentuada e para ser sincera, os estudantes já mal têm dinheiro para dar £9,000 pelo curso todo (o qual dura normalmente três anos), quanto mais terem de pagar esse valor por cada ano de licenciatura.
Há muitas coisas a ter em consideração, e os 'Student Unions' (Associações de Estudantes) estão atentos ao desenrolar dos acontecimentos. Convém salientar aqui que as Associações de Estudantes têm um peso muito grande nas decisões internas das Universidades. Para já eu não me preocupava com as propinas. Importante realçar que cada universidade cobra um montante de propinas diferente (as propinas aqui não são uniformizadas como em Portugal), o que quer dizer que talvez compense fazer uma pesquisa de preços pelas universidades do país.
Reconhecimento das qualificações estrangeiras em Portugal:
Há uma grande confusão (e muita ignorancia) em Portugal no que diz respeito às equivalências dos cursos superiores tirados no estrangeiro, sejam eles em Inglaterra ou em qualquer outro país da UE ( e às vezes até fora da UE). Como provavelmente já é do vosso conhecimento, o ensino superior na UE agora é todo uniformizado graças ao processo de Bolonha. Isso significa que os cursos superiores tirados dentro da União Europeia têm a mesma validade, duração, conteúdos e nível de qualificação que os cursos superiores tirados em Portugal.
O que isto quer dizer é que em Portugal as qualificações do Reino Unido são obrigatoriamente acreditadas e aceites, de acordo com o que está escrito aqui. Para mais informações acerca disto, contactem directamente o NARIC, eles são responsáveis pelo reconhecimento de diplomas estrangeiros. Se estiverem a ter problemas com o reconhecimento da vossa licenciatura europeia, reportem a situação à União Europeia usando o site SOLVIT ou façam uma queixa formal usando os dados daqui.
Empregadores em Portugal & candidatos com qualificações estrangeiras:
Infelizmente é do meu conhecimento que a maioria de empregadores em Portugal tem um certo preconceito em relação a candidatos que tenham formação académica no estrangeiro. Na verdade, a maioria dos empregadores em Portugal ainda discrimina face à idade, experiência profissional, sexo, e religião de um candidato, portanto não me admira que o façam em relação a qualificações emitidas no estrangeiro. Apesar de haver legislação para minorar estes problemas, Portugal ainda está muito atrás da Grã-Bretanha no que diz respeito à igualdade e diversidade no local de trabalho.
Na verdade, este preconceito em relação a candidatos com qualificações estrangeiras prende-se com a geral falta de conhecimento que existe, e também com a necessidade que certas companhias/ empresas têm de cortar custos. Portanto inventam mil e uma desculpas para contratar pessoas altamente qualificadas por metade do custo. A minha perspectiva é simples: se o empregador não dá valor ao candidato que esteve três ou mais anos a investir na sua educação num país estrangeiro, a falar uma língua que não é a dele e a viver numa cultura que é estranha, então esse empregador não vale a pena, porque não reconhece que adaptabilidade, iniciativa pessoal e força de vontade (além de gestão de tempo e dinheiro) são qualidades importantes num trabalhador. Melhor fazer como eu, fiquem por cá – de dois em dois anos são normalmente promovidos e se forem mesmo bons naquilo que fazem, podem vir a ganhar muito bem 3-5 anos após terem terminado o vosso curso, numa empresa que vos respeita e valoriza como trabalhadores mas também como pessoas individuais.
Setembro marca o começo de um novo capítulo na minha vida. Para quem ainda não sabia (ou não tinha bem a certeza), eu vou ser mamã. É uma novidade fantástica, que só agora começa a amolecer o meu coração (nos primeiros meses eu entrei em pânico, não só devido ao lado financeiro da coisa, mas também ao tipo de vida que eu e o meu marido temos aqui, e que apesar de estável não é sequer perto de ideal para criar um filho). Mas depois de ver o bebé tão definido no meu scan das 12 semanas, e saber que tudo está bem, eis que me rendi completamente ao facto de estar grávida, algo que já não me parece tão assustador.
Scan das 12 semanas (31/08/2010)
Com esta bênção a caminho, como devem supor, viver num estúdio já não é mais viável. Eu e o meu marido estávamos à procura de uma casa ligeiramente maior - até porque a minha família deve cá vir no Natal e sem uma casa maior não teria condições de os alojar.
Esta semana encontrámos uma casa decente, por um preço decente, e apesar de não estar mobilada estamos super-empolgados para nos mudar para lá. Primeiro que tudo, é uma casa mesmo, nada de vizinhos por cima ou por baixo. Segundo, temos um jardinzinho que dá para fazer um churrasco com amigos e família sempre que o tempo o proporcionar. Terceiro, apesar de estar nos nossos planos voltar de vez para Portugal, temos de pensar na questão financeira da coisa, o que quer dizer que o marido vai provavelmente ter de trabalhar durante o Verão que vem (já que é a época alta para ele), enquanto eu procuro uma casa por terras lusas.
Ainda não sei como vamos fazer para nos mudar assim, de malas e bagagens para o meu país. No entanto, eu tenho sondado alguns empregos e há grandes possibilidades de eu encontrar um emprego semelhante ao que eu tenho aqui, leccionando numa universidade em Lisboa ou arredores - especialmente depois de eu concluir o meu CPAD1, uma qualificação profissional que me habilita a leccionar no ensino superior, e que vou fazer a semana que vem.
As aulas estão também a começar muito em breve, e este mês vai ser bastante corrido, já que estou 100% responsável por uma cadeira do primeiro ano e como tal tenho de preparar as aulas, os slides, e os planos de trabalho para as aulas práticas - para não falar dos elementos de avaliação. Como é uma disciplina de primeiro ano, tem de ser suficientemente estimulante e simples, já que só a experiência de entrar na universidade é para muitos estudantes um bicho de sete cabeças. Torna-se ainda mais assustador quando se começa a pensar no lado financeiro da coisa, porque um ano custa quase £4,000 a um estudante Inglês - e chumbar não é uma boa ideia quando este dinheiro todo está investido na nossa educação (digo eu!).
Para mim, o começo das aulas é também o começo do trabalho duro e o fim dos meus dias 'calões'. Claro que durante o Verão o meu ritmo de trabalho não desaparece, mas diminui. Se eu não vou a Portugal de férias ando para aqui a queixar-me, deprimida e irritada - até porque como sabem, este tempo é horrível, e a chuva não nos dá descanso. Por isso estou desejando começar a saír mais para a universidade, ver os colegas, os alunos, e socializar - que é algo que eu começo a achar que desaprendi nestes últimos dois meses.
Mas apesar disso, avizinham-se tempos melhores, mais excitantes e cheios de emoções novas! I can barely wait!
Tenho andado super em baixo desde que a minha mãe se foi embora na quinta-feira. Acho que as minhas hormonas andam a dar cabo de mim, verdade seja dita. Pensava que o pior já tinha passado, mas eis que a montanha russa emocional voltou à carga de novo. Não estou com a mínima motivação de continuar por aqui (pelo Reino Unido - eu sei, vocês já devem estar fartos de me ouvir! Mas eu tenho de escrever isto várias vezes para me capacitar que o meu percurso aqui acabou e que tenho de voltar para casa!). Agora ainda mais, com esta minha novidade a caminho, muito menos vontade tenho para aturar este tempo horrível, este isolamento constante e esta labuta diária para ter um lugar ao sol - que aqui nem dá para ter porque sol é coisa que não dura!
Eu quero voltar para Portugal, para perto da minha família e dos meus amigos, para o país do sol, do calor e da praia (praia que eu ía mesmo no Inverno para acalmar as minhas energias negativas e me devolver a calma e a paz de espírito - que saudades do mar azul, do céu azul, da areia fina, do calor). Aqui e ultimamente sinto-me sempre presa, isolada, sem possibilidade de ir para lado nenhum - e se for para algum lado, tenho de ir numa carrinha monstruosa e nunca vou para além de Londres, onde visitamos a família do Edson e voltamos para casa - normalmente tarde e de noite. Infelizmente, de há umas semanas para cá andar naquela carrinha tornou-se muito incómodo para mim, e eu chego a casa muitas vezes com dores e totalmente desgastada, como se um camião tivesse passado por cima de mim - por isso decidi que enquanto não tivermos um carro eu não vou a mais lado nenhum dentro daquela carrinha. Prefiro gastar dinheiro e ir de transportes!
E depois, não é só o facto de me sentir assim, sem capacidade de me mover, visitar sítios, conhecer novos concelhos e distritos. É o facto de não estar feliz com a minha vida no geral. Não estou. Apesar de amar o meu trabalho, há muitas coisas aqui que me fazem odiar as horas pós-laborais, e eu tenho alguma esperança que as coisas melhorem quando as aulas começarem, mas... e se não melhorarem? Não consigo ganhar coragem para saír de casa, a paisagem é sempre a mesma, não há ninguém aqui que possa ir tomar café comigo e com quem eu possa ter uma conversa, desabafar. Quando a minha mãe esteve aqui, foi óptimo para mim, porque eu saía de casa todas as manhãs, e passeavamos juntas, falávamos bastante, eu chorava também, porque não sabia mais o que era ter alguém para me dar conselhos e para ficar do meu lado e me apoiar e me dar alguma direcção...
Porque nestes últimos tempos eu perdi a minha direcção, o meu caminho. Não me lembro da última vez que ri a bom rir. Não estou feliz e em casa sinto-me cada vez mais incompreendida. As pessoas daqui não entendem o porquê da minha obscuridade. Ás vezes nem eu entendo de onde vêm tantos pensamentos negativos, tanta tristeza, tanta solidão. Tudo o que atingi até hoje, não foi sem muito sacrifício - a minha vida social e a minha capacidade de me relacionar com os outros foi certamente prejudicada e eu acho muito difícil confiar nas outras pessoas para o que quer que seja, e acabo muitas vezes a tentar controlar a minha vida e o meu mundo na esperança de encontrar alguma ordem - claro que não encontro ordem nenhuma, porque eu posso tentar controlar a ordem das coiusas, mas nunca conseguirei controlar as pessoas e os animais que vivem comigo, e dou muitas vezes por mim a chorar na casa-de-banho porque me sinto completamente deslocada e com medo do futuro.
Não quero que o tempo todo que eu passei sem a minha família e a lutar por um futuro melhor vá por àgua abaixo. Não quero regredir, quero muito andar para a frente, mas acho muito difícil que a minha vida melhore mais do que aquilo que eu hoje tenho - e que não é material, mas é o suficiente para me garantir segurança no futuro, aqui ou em Portugal. Tudo o que eu tenho de melhor na minha vida é o meu trabalho e o dinheiro que vem com ele. Sem o meu trabalho de professora vou ser para sempre infeliz, mesmo que a situação não seja permanente. E eu queria que as pessoas entendessem, que o meu marido entendesse, que eu quero muito mais que uma vida modesta. Eu não mandei tudo para o alto, para mais tarde me contentar com o básico e o seguro. Eu gosto de tomar riscos, eu gosto de ser diferente, eu queria marcar o mundo de uma maneira especial, com o meu conhecimento, com a minha maneira de pensar.
E cada dia que passa mais eu sei que isso não vai acontecer, e eu caio numa depressão ainda maior, porque começo a achar que a batalha que eu travei em terras britânicas durante seis anos não vai valer nada se daqui a 5 anos eu vou ter de viver a contar tostões para comprar o pão. Andei eu a viver longe da minha família, a estudar e a trabalhar que nem uma moura, sem ir a lado nenhum, sem saír para lado nenhum, sem o mínimo de diversão, para quê? Não. Sou uma pessoa com ambição. Sou uma pessoa que quer mais, que vê para além do obvio, alguém que luta por mais e melhor. Não sou uma mulher à moda antiga, e sei que muitos me criticam por isso, mas não tenho vergonha nenhuma de ser como sou. Hoje em dia, se não lutarmos nós mesmos por um futuro melhor, pelos nossos sonhos, eles acabam por se desfazer com o correr dos dias e com o aumento da nossa responsabilidade. E eu jurei a mim mesma, que os meus sonhos ninguém os mata - mesmo que os achem desfasados da realidade, mesmo que me acusem de ser pouco humilde.
Fico magoada por ver pela internet (e não só) tantas demonstrações de ódio entre dois países que se deveriam dar como irmãos. Eu sempre ouvi dizer que o passado ficou para trás e é para ser esquecido. Amigos diziam-me isso quando eu chorava por ter perdido um namorado, os meus pais diziam-me isso quando eu lhes lembrava algo que fiz ou disse anos atrás... Mas na verdade as pessoas dizem essas coisas, mas não fazem. Preconceitos todos temos - e eu não sou perfeita. Mas é o que fazemos desses preconceitos que nos define como pessoas de boa índole ou nem tanto.
Aqui em Inglaterra estamos habituados a conviver com várias nacionalidades e várias etnias. Tolerância é palavra de ordem, e o engraçado é que aqui temos de ser unidos mesmo, porque também há pessoas ignorantes que se acham superiores, na sua maioria Ingleses. O facto de sermos imigrantes dá-nos uma perspectiva das coisas que não teríamos se estivéssemos em Portugal.
Quando eu disse à minha família que me ía casar com um Brasileiro, eu sei que muitos inicialmente não aprovavam da minha decisão. Foram precisos alguns meses, uma ida ao Brasil e outra a Portugal para que as coisas começassem a ser aceites e a cair na normalidade. Na minha cabeça, não entendo o porquê desse estigma contra o brasileiro, e o que mais me irrita é mesmo colocarem toda a gente no mesmo saco.
As pessoas não são todas iguais, e se há criminosos Brasileiros, também há criminosos Portugueses. O que não podemos assumir é que porque os há, todos o são. Nós temos muito a mania de tratar os outros de forma inferior, e de nos acharmos os maiores - só por isso nós já estamos a ser pessoas inferiores. Eu não quero dar aqui lições de moral a ninguém, mas após 6 anos a morar em terras Inglesas, eu já noto a diferença de pensar e agir entre mim e a minha família e amigos, por exemplo. Eu sou muito mais tolerante e já há certas coisas que não me chocam - mas chocariam a eles, quase de certeza.
Viajar abre os horizontes das pessoas, faz com que estas ganhem uma consciência de que somos realmente todos diferentes, mas no fundo somos todos humanos mesmo, com sangue quente a correr nas nossas veias, e por isso mesmo merecemos todos ser tratados de forma igual independentemente do credo, religião ou nacionalidade.
Num jogo de futebol, por exemplo, as coisas deviam ser celebradas com amizade e alegria: ninguém naquele jogo ía perder, pois ambas as equipas já estavam seleccionadas para os oitavos de final. Por isso, quando vi e ouvi das barbaridades entre Brasileiros e Portugueses em Portugal após o jogo, fiquei revoltada.
Aqui em Londres o clima foi de muita alegria e celebração. Claro que houve sofrimento de ambas as partes também, mas ninguém culpabilizou ninguém de nada. Nem precisava, já que o jogo terminou em empate. Como estou casada com um Brasileiro, dou-me muito mais com a comunidade Brasileira aqui em Londres - mas em 6 anos de vida aqui, os meus amigos portugueses contam-se pelos dedos... Já os Brasileiros, ultrapassam em vasta maioria o número de portugueses com quem eu me dou por estas bandas.
Por isso chega de ódio!!
Duas nações irmãs dever-se-íam unir contra o mundo e não contra elas próprias.
Nos jogos do Brasil eu vou continua a apoiar a equipa Brasileira de camiseta azul ou amarela, como tenho feito até hoje. Nos jogos de Portugal, vestirei a minha camiseta Portuguesa para dar sorte. Tenho orgulho de ser Portuguesa, mas tenho muito mais orgulho de ser uma Portuguesa ENTRE Brasileiros.
Daqui a menos de uma semana vou estar em Portugal - vocês não imaginam como estou ansiosa. Não vou a Portugal desde o Natal, o que pode parecer até pouco tempo, só que desde que o ano começou que estou com vontade de lá passar uma semana e andar pelos sítios da minha infância e adolescência, mostrá-los ao marido, e quem sabe, ele até goste bastante de lá...!
O tempo aqui está a melhorar ligeiramente, mas nada é melhor que o tempo português e as praias, e as paisagens, e rever a família... Portugal para mim é um paraíso, se bem que eu saí de lá porque de paraíso nada tinha. Mas agora Portugal está associado a bons momentos entre aqueles que me amam - e eu sinto muito a falta desses momentos...
Da bica com pastel de nata, de Sesimbra no pico do Verão, dos cafés com os amigos no naval, na esplanada, ou num cafézinho mesmo ali da esquina. De passear na Arrábida, de sentir o cheiro do mar, o vento nos meus cabelos, Cabo Espichel... Ahhh! Saudades da minha terra...
Vocês não vão acreditar, mas esta semana tenho visto o sol todos os dias. Acho que isso tem causado um impacto positivo em mim (apesar da desgraça da minha alimentação... mas enfim...). Ás vezes há certas coisas que precisam acontecer para nos espevitar um pouco e fazer a adrenalina correr novamente nas veias, realinhar prioridades e traçar planos e projectos mais adequados às nossas vontades.
Aquela situação com a minha colega ficou enterrada ali mesmo, e resolvi que não vou mais gastar tempo precioso a escrever/ falar sobre ela. Na verdade, ter passado pelo que passei só me fez ver que nem toda a gente nos quer bem, e o melhor mesmo é não lhes dar razões para falar.
Assim sendo, a minha postura no meu trabalho também mudou e eu estou muito mais em cima do acontecimento do que estava. No final do mês, o meu vínculo com a Consultadoria acaba, e vou poder tirar uma semana de férias em Portugal com o marido, se Deus quiser.
Estou a contar os dias para poder pôr os pés no meu país, ver a minha família e levar o meu marido a conhecer os lugares e as pessoas que me marcaram a infância e a adolescência... Mas até lá ainda faltam umas boas 3 semanas, e o marido ainda tem de voltar do Brasil.
Espero que os dias vôem até à chegada dele. Estou tão ansiosa que até fico sem sono... Mas forço-me a ir dormir, porque sei que uma noite passada sózinha agora é menos uma noite até ao dia em que vou poder dormir nos seus braços.
Faltam 8 dias para eu começar a contagem decrescente para o regresso do meu marido ao Reino Unido. 8 Dias para sairem os papeis oficiais do nosso casamento, e 16 dias até à entrada do pedido de visto... Depois disso, é só mesmo esperar que não levantem ondas, e emitam o visto o mais rápido possível.
Tenho de vos ser sincera, tem sido complicado gerir a distância. Dia 15 faz 1 mês que não estamos juntos. Graças às novas tecnologias, podemos conversar e ver-nos um ao outro, mas isso não é o mesmo que tê-lo aqui, ao meu lado. Ontem à noite, por exemplo, passei super mal. Acho que comi algo que não me caiu bem. Acordei às 2 da manhã, super mal disposta, e sem ninguém para me ajudar. Acendi a luz, e levantei-me. Percorri mentalmente todos os nomes dos meus amigos que moram aqui perto, ou aqueles com carro que facilmente me poderiam levar ao hospital se disso houvesse necessidade... Ninguém.
Senti-me triste. Rápidamente constatei que não há ninguém da minha confiança, que eu sinta que posso pedir ajuda se estiver a passar mal a altas horas da noite... E senti-me sózinha. Olhei para a Daisy, que estava deitada aos meus pés. Ela levantou a cabeça de onde estava, mas depois voltou a dormir. E pela primeira vez desde que vim para o Reino Unido, eu tive medo. E não gostei.
Fiz um chá de funcho, e sentei-me no sofá-cama a pensar na minha vida. Se não dão o Visto ao meu marido, o que é que vou fazer da minha vida...? E respirei fundo, com o estômago e o coração pesados, se bem que por razões diferentes. Ao fim de meia hora já estava melhor, e deitei-me. Deixei-me dormir a pensar nas nossas férias juntos e de como fui feliz aqueles dias. Não quer dizer que não seja feliz agora, mas sinto-me incompleta, e isso perturba qualquer traço de felicidade. Deixei-me dormir, mas não apaguei a luz...
Este Natal foi muito complicado para mim... No dia 22 de Dezembro descobri que estáva grávida. Eu não acreditei muito, estáva meio em choque mesmo, mas a minha família estáva feliz da vida. Eu olhei para os testes à minha frente umas quinhentas vezes, incrédula, porque apesar de querer muito ser mãe, aqueles testes positivos foram MESMO uma grande surpresa. Sempre achei que tinha um problema de fertilidade, e aqueles testes vieram comprovar que os problemas eram todos da minha cabeça... Nos dias que se seguiram, a minha família estáva super feliz, e até a minha mãe me comprou umas pantufinhas pequeninas na Casa Xangai.
No fim do dia 24, tudo se desmoronou. Como se não bastasse ter apanhado uma intoxicação alimentar, que me levou a vomitar sem fim nessa madrugada, entre as cólicas e corridas para a casa de banho, o meu periodo também me apareceu com as suas dores típicas. É inequívoco: se realmente estive grávida, então agora já não estou mais. Todos os sintomas de gravidez que eu tinha também desapareceram, e tive de dar a má notícia ao Mr Brazil, o que me cortou o coração.
O almoço de Natal passei-o na cama, a dormir e a beber àgua. Nem me conseguia mexer porque só isso gerava dores de cabeça e cólicas insuportáveis. Senti-me tão bébé... Há mais de 15 anos que não passáva por semelhante coisa...
Nesta altura estou ainda a convalescer da intoxicação alimentar. Depois de andar 24h a àgua e Redrate, tomei hoje um Ultra-Levure e já me aventurei nos iogurtes Activia naturais e sopa knorr com arroz. A acompanhar sempre com chá de camomila e muita àgua...Tenho uma enxaqueca daqui à China, e volta e meia ainda tenho de ir a correr para a casa de banho. O meu pai foi-me buscar comida para bébé e àgua das pedras para ver se restabeleço as minhas energias, já que amanhã vou viajar para o Brasil.
Têm sido uns dias difíceis, mas pelo menos tenho como comforto saber que vou ver o meu noivo em breve... e eu bem preciso de um carinho dele.
Espero que tenham tido um bom Natal, e tenham todos uma boa passagem de ano.