Eu tenho uma filosofia de vida que nem muita gente compreende. Eu acho que parar é morrer, acomodar é preguiça e dormir é perder tempo. Pronto, dormir talvez nem seja perca de tempo, mas o resto é bem verdade. Não gosto de me sentar à sombra da bananeira, já deu para perceber isso por tudo o que escrevo. Sou de ir á luta, de matar dragões (que não têm nada a ver com o FCP, by the way), de desenvolver a massa cinzenta que tenho dentro da minha cabeça e de evoluir o meu coração que bate dentro de mim. Ser mãe atordoou-me um bocado os sentidos, perdi o norte, mas agora estou a reencontrar-me. A minha filha agora complementa o meu ser, e o meu trabalho - neste caso, os meus trabalhos, já que são três - dão-me força, tornam-me melhor, desafiam-me... Tudo isto me faz querer seguir em frente. Mas não chega. Quero mais. Sei que posso conseguir muito mais. Hoje em dia já não me chega ter de ir para a universidade porque sinto muitas vezes que as escadas para o próximo andar estão fechadas. Com cadeado. E a chave está perdida por aí. Com decepções, desilusões e desânimo. É como, por exemplo, achar que o meu trabalho é valorizado por todos, mas na realidade quando vou a ver, não sou assim tão respeitada: pessoas a falarem de mim nas minhas costas, não tenho direito a defesa, sou muitas vezes vítima de juízos de valor injustos e injustificados.
Hoje então é daqueles dias que me sinto tentada a sair pela porta mais do que nunca. Ou pela janela. Ou por onde for - sair apenas para experimentar uma vida menos complicada, sem chatices. Porque me sinto muitas vezes jogada como bola de ténis entre duas raquetes furiosas, e porque tenho muitas vezes uma rede no meio que não me ampara, apenas me impede de prosseguir. Porque acho que há gente que gosta de causar conflitos. Porque a falta de maturidade à minha volta é escandalosamente grande e me gera muita confusão estar envolvida em atritos para os quais não contribuí intencionalmente.
Trabalhar já não é para fracos. Trabalhar no Reino Unido então não é para almas inseguras. Trabalhar no ensino superior do Reino Unido é um desafio constante. Muitos o aceitam sem pensar, por amor à camisola, por paixão ou vocação de ensinar. Eu certamente tive todas essas razões para ficar. E depois é assim: trabalho, muito trabalho, muito pouco tempo para mim. Algum tempo para a casa, a família. Não me interpretem mal - adoro o meu trabalho, os meus alunos são a minha maior fonte de inspiração. Alguns dos meus colegas também. Mas para outros, não gosto de ser tratada como uma adolescente. Mais ainda, detesto ter de ser detective, tentar adivinhar porque colega x ou y está amuado ou agressivo. Lidar com faltas de educação não. Os meus alunos não me faltam ao respeito, logo, colegas meus que o façam estão na minha lista de baixa prioridade. Não quero nem preciso, thank you!
Não vou perder tempo com quem não merece o meu olhar, as minhas palavras, a minha dedicação. Eu sou honesta. Eu sou boa naquilo que faço. Eu trabalho muito, todos os dias, e a todas as horas, para poder servir de ponte, de apoio, de suporte a todos aqueles que necessitam da minha prontidão para se tranquilizar. Ou para atingirem os seus objectivos. Adoro o meu trabalho, mas é tempo de começar a ponderar num futuro diferente. As coisas têm de mudar. As coisas já estão a mudar... As coisas vão mudar mais ainda, para melhor, porque eu vou à luta. Por mim, pela minha família, e acima de tudo, pelo futuro da minha filha.
Desejem-me sorte para dia 4 de Novembro. A minha candidatura para um PhD na Open University passou na primeira fase. Agora vem a entrevista...
Este post vem no seguimento de um comentário deixado por um leitor do Blog que se encontra em terras Bitânicas, e que devido ao desenrolar de varios acontecimentos políticos e económicos no País, se viu confrontado com um dilema em muito justificado. Porque eu acho que muitos de vocês poderão estar na mesma situação, decidi publicar um excerto da minha resposta, pois acredito que o péssimismo existente face a esses acontecimentos em nada deve afectar os vossos sonhos...
Propinas:
As propinas vão certamente aumentar em 2011, porque isso acontece quase todos os anos. No entanto, o governo normalmente põe um cap (um limite máximo) que as universidades podem cobrar aos seus alunos. Infelizmente nesta altura isso nem sequer está a ser considerado. Claro que com os cortes orçamentais que o Reino Unido atravessa neste momento, o sector do ensino superior é sem dúvida um dos mais afectados, pois sobrevive à custa de muitos subsídios e fundos governamentais para pesquisa e desenvolvimento. Metade desses subsídios, pelo que sei, foi cortado. E a única maneira das universidades repôrem esse dinheiro é aumentarem as propinas. No entanto eu não acredito que as mesmas subam de £3,000/ ano para £9,000/ano sem mais nem menos – seria uma diferença bastante acentuada e para ser sincera, os estudantes já mal têm dinheiro para dar £9,000 pelo curso todo (o qual dura normalmente três anos), quanto mais terem de pagar esse valor por cada ano de licenciatura.
Há muitas coisas a ter em consideração, e os 'Student Unions' (Associações de Estudantes) estão atentos ao desenrolar dos acontecimentos. Convém salientar aqui que as Associações de Estudantes têm um peso muito grande nas decisões internas das Universidades. Para já eu não me preocupava com as propinas. Importante realçar que cada universidade cobra um montante de propinas diferente (as propinas aqui não são uniformizadas como em Portugal), o que quer dizer que talvez compense fazer uma pesquisa de preços pelas universidades do país.
Reconhecimento das qualificações estrangeiras em Portugal:
Há uma grande confusão (e muita ignorancia) em Portugal no que diz respeito às equivalências dos cursos superiores tirados no estrangeiro, sejam eles em Inglaterra ou em qualquer outro país da UE ( e às vezes até fora da UE). Como provavelmente já é do vosso conhecimento, o ensino superior na UE agora é todo uniformizado graças ao processo de Bolonha. Isso significa que os cursos superiores tirados dentro da União Europeia têm a mesma validade, duração, conteúdos e nível de qualificação que os cursos superiores tirados em Portugal.
O que isto quer dizer é que em Portugal as qualificações do Reino Unido são obrigatoriamente acreditadas e aceites, de acordo com o que está escrito aqui. Para mais informações acerca disto, contactem directamente o NARIC, eles são responsáveis pelo reconhecimento de diplomas estrangeiros. Se estiverem a ter problemas com o reconhecimento da vossa licenciatura europeia, reportem a situação à União Europeia usando o site SOLVIT ou façam uma queixa formal usando os dados daqui.
Empregadores em Portugal & candidatos com qualificações estrangeiras:
Infelizmente é do meu conhecimento que a maioria de empregadores em Portugal tem um certo preconceito em relação a candidatos que tenham formação académica no estrangeiro. Na verdade, a maioria dos empregadores em Portugal ainda discrimina face à idade, experiência profissional, sexo, e religião de um candidato, portanto não me admira que o façam em relação a qualificações emitidas no estrangeiro. Apesar de haver legislação para minorar estes problemas, Portugal ainda está muito atrás da Grã-Bretanha no que diz respeito à igualdade e diversidade no local de trabalho.
Na verdade, este preconceito em relação a candidatos com qualificações estrangeiras prende-se com a geral falta de conhecimento que existe, e também com a necessidade que certas companhias/ empresas têm de cortar custos. Portanto inventam mil e uma desculpas para contratar pessoas altamente qualificadas por metade do custo. A minha perspectiva é simples: se o empregador não dá valor ao candidato que esteve três ou mais anos a investir na sua educação num país estrangeiro, a falar uma língua que não é a dele e a viver numa cultura que é estranha, então esse empregador não vale a pena, porque não reconhece que adaptabilidade, iniciativa pessoal e força de vontade (além de gestão de tempo e dinheiro) são qualidades importantes num trabalhador. Melhor fazer como eu, fiquem por cá – de dois em dois anos são normalmente promovidos e se forem mesmo bons naquilo que fazem, podem vir a ganhar muito bem 3-5 anos após terem terminado o vosso curso, numa empresa que vos respeita e valoriza como trabalhadores mas também como pessoas individuais.