Viver no estrangeiro tem as suas vantagens, mas quando se tem um bébé nos braços, as vantagens cedo se tornam desvantagens: estamos longe da família, se a mulher fica em casa com o bebé, o marido tem de ir trabalhar - e a solidão instala-se, porque não há conversas, não há descanso, não há tempo para nós.
Desde que a minha filha nasceu, eu tenho aprendido muito sobre ela e sobre mim - e até sobre o meu marido e sobre a minha família. Tem sido uma aprendizagem bastante sofrida, mas que vale muito a pena porque a minha filha é o melhor que me aconteceu na vida. Cheguei a um ponto na minha vida em que nada mais importa a não ser o bem estar da minha pequerrucha. Foi difícil de início, a minha mãe esteve cá duas semanas para me ajudar, mas depois foi-se embora e eu fiquei por minha conta, já que o marido regressou ao trabalho.
Vi-me, de repente, isolada, com um bebé nos braços do qual nada sabia (eu nunca fui muito dada a bebés e nunca tive muito jeito para eles quando era mais miuda), e um grande medo de não conseguir dar conta do recado...! Mas os dias foram passando, e com a rotina da amamentação, mudança de fraldas, banhos, e muito pouco descanso, nem dei conta de que a Páscoa estáva já à porta. O meu pai veio de visita, e foi mais uma semana agradável, em que tive companhia, e não me senti tão animal - porque isto de viver para um bebé apela aos nossos instintos de tal forma, que nos esquecemos muitas vezes de ser civilizados ou de viver pensando nas nossas próprias necessidades e desejos.
Mas lá está, a coisa mais complicada e triste de se viver no estrangeiro é ver a família chegar e partir, ou então de chegar a Portugal sabendo de antemão que temos de regressar de volta para Londres, mais tarde ou mais cedo. E assim que o meu pai regressou a Portugal, comecei a contagem decrescente para a chegada da minha irmã e cunhado, em Junho... e a contagem decrescente para ir de férias a Portugal no final de Julho com a pequenina... Isto se o consulado se dignar a resolver o problema do registo dela, porque não nos resolveu o problema do registo do meu casamento...! E sem documentos para ela, nós não podemos ir para Portugal.
Mas não é só o problema logístico da identificação e certificação da nacionalidade da minha filha que me preocupa nestes dias. Eis que quando eu começo a achar que as coisas começam a andar melhor, e que eu começo a tomar o jeito da coisa (apesar da ansiedade extremista e do medo constante normais de uma mãe de primeira viagem), eis que a minha filha apanha uma infeção no ouvido, aparecem-lhe montes de borbulhas por toda a cara, crosta lactea por toda a cabeça, e agora mais recentemente, rabinho assado (possivelmente devido aos antibioticos que está a tomar para a infeção no ouvido). Odeio saber que ela tem de tomar antibióticos, e tenho reforçado a minha toma de probiótico para a ajudar nas defesas, já que ela é exclusivamente alimentada por leite materno.
Só que me parte o coração ver a minha filhota, com 8 semanas, passar por todo este mau-estar. Hoje era para ir tomar as primeiras vacinas, mas tivemos de cancelar porque ela tem de fazer antibiótico até Sábado à tarde. Mas na semana que vem, é o mais certo, vai levar aquelas vacinas todas e vai ser mais uma semana de porcaria...! Estou desejando passar esta fase, para poder disfrutar da minha filha a 100%, e ela poder aproveitar a mãe dela a 100% também. Ando com tanto dó dela que ela dorme ao meu colo durante a noite desde que está a tomar antibiótico, para mal da minha coluna e dos meus olhos, que nunca conheceram olheiras tão profundas como as que tenho tido esta semana.
Tenho de me animar com a chegada próxima da minha irmã, até porque sei que nessa altura tudo o que hoje me preocupa e me perturba em relação à minha filha vai estar certamente resolvido e/ou sarado. Assim que ela estiver com as vacinas todas, e sem mais traços de infeção, eu vou poder começar a pensar em voltar a ter uma vida social para além das quatro paredes deste quarto e dos episódios infidáveis de 'Friends'. Até lá, resta-me ter fé de que as coisas vão melhorar e tentar colocar de lado este estado solitário-depressivo em que me encontro...
Já estamos no fim de Junho, e com o fim das aulas - e apesar de ter tido umas semanas um pouco corridas - nesta altura as coisas estão mais calmas. Passo muito mais tempo em casa, já que só me pagam à hora e muito do trabalho pode ser feito pelo computador. Não vale a pena ir até ao escritório porque acabo a fazer muito menos indo lá do que ficando em casa frente ao computador. Neste tempo que tenho estado em casa tenho pensado bastante na minha vida, no futuro, fazendo o balanço de mais um ano que passou. Por esta altura o ano passado eu estáva a mudar-me para o meu apartamento, solteira, ainda atrabalhar como consultora, e sem ideia do que me reservava o futuro.
Hoje, um ano depois, estou casada, a morar no mesmo apartamento mas com o meu marido, e a trabalhar como professora -algo que eu sempre quis fazer. Só que não me sinto totalmente bem. Não sei se é a falta de Portugal e do Verão português, ou se é mesmo a minha inactividade presente quando comparada com o stress do ano lectivo... Na verdade acho que são anos a mais de Hatfield, e uma vontade de mudar de ares para uma zona diferente. Não necessariamente mudar de país, mas desde que tenho começado a ir a Londres mais frequentemente, que tenho uma vontade grande de me mudar para mais perto de lá...
E agora entendo a razão da minha amiga Sara em querer mudar mais perto de Londres - apesar de gastar tempo a conduzir para o trabalho e voltar, ela está perto de tudo. Londres tem teatros, saídas à noite, coisas para fazer durante o dia e durante a noite. Aqui em Hatfield eu vou para a cama às 22h30, e fico com os olhos pregados no tecto à espera do sono, enquanto o marido já ressona ao meu lado, e eu vou-me lembrando daqueles tempos em que saír à noite para mim era um ritual quase certo, após a janta, para o café da praxe com os amigos.
Pergunto-me muitas vezes se isso é sinal dos tempos... será que estou a envelhecer, e que por isso saír à noite deixou de ser tão necessário?... Eu que sempre achei que estar entre amigos era importante, mesmo que às vezes isso me deixe meio desconfortável, porque por vezes a minha capacidade de socializar com os outros é estupidamente diminuida quando me encontro com falta de auto-estima;
Ou será que isso é sinal de que vivo numa terriola à beira de Londres plantada, e por isso pouco ou nada há para se fazer aqui (tirando ir para o pub, comentar os últimos resultados do futebol com uma cerveja ou cidra na mão - e isso eu recuso-me a fazer...). E depois é o trabalho, que está incerto. O meu contrato é limitado e a minha preocupação também se centra no facto de não ter qualquer vínculo permanente com a universidade, e estar sujeita a um 'bye bye' a qualquer altura... Mas até que ponto me devo eu sujeitar a lamber botas e deixar de ter vida pessoal só para conseguir um lugar ao sol...? Acho que mereço um pouco mais que isso...
E como posso pensar sequer em comprar um carro ou construír família se não tenho uma estabilidade profissional? Será que vale a pena isto tudo? Num país que se prepara para apertar o cinto para tentar gerir o grande deficit, a libra já não está tão forte e eu sinto saudades do sol e do calor... Talvez só precise de férias, mas acho que preciso de uma mudança maior e mais permanente...
Vocês não vão acreditar, mas esta semana tenho visto o sol todos os dias. Acho que isso tem causado um impacto positivo em mim (apesar da desgraça da minha alimentação... mas enfim...). Ás vezes há certas coisas que precisam acontecer para nos espevitar um pouco e fazer a adrenalina correr novamente nas veias, realinhar prioridades e traçar planos e projectos mais adequados às nossas vontades.
Aquela situação com a minha colega ficou enterrada ali mesmo, e resolvi que não vou mais gastar tempo precioso a escrever/ falar sobre ela. Na verdade, ter passado pelo que passei só me fez ver que nem toda a gente nos quer bem, e o melhor mesmo é não lhes dar razões para falar.
Assim sendo, a minha postura no meu trabalho também mudou e eu estou muito mais em cima do acontecimento do que estava. No final do mês, o meu vínculo com a Consultadoria acaba, e vou poder tirar uma semana de férias em Portugal com o marido, se Deus quiser.
Estou a contar os dias para poder pôr os pés no meu país, ver a minha família e levar o meu marido a conhecer os lugares e as pessoas que me marcaram a infância e a adolescência... Mas até lá ainda faltam umas boas 3 semanas, e o marido ainda tem de voltar do Brasil.
Espero que os dias vôem até à chegada dele. Estou tão ansiosa que até fico sem sono... Mas forço-me a ir dormir, porque sei que uma noite passada sózinha agora é menos uma noite até ao dia em que vou poder dormir nos seus braços.
Amanhã vou fazer análises de rotina a uma GUM Clinic. Tenho de acordar cedo, porque tenho de estar no hospital às 9h30 da manhã. Não me apetece muito ter de acordar cedo e saír para o frio, sabendo de antemão que vou ser picada e observada e sei lá que mais, mas tem de ser...
Gum clinics, para quem não sabe, são clínicas de saúde sexual - também chamadas de 'genito-urinary medicine (GUM) Clinics'. O serviço que oferecem é gratuito e confidencial. Não é que eu ande a saltar de cama em cama, porque não ando, mas como desde a última vez que fiz os testes mudei de parceiro, vou fazer um check-up completo - quero ter filhos e por isso quero ter a certeza que está tudo bem.
Primeiro eles fazem uma análise de risco, através de algumas perguntas básicas. Depois pedem para mijar num pote e tiram 2 seringas de sangue, seguidas de observação da zona genital. Eles testam Sífilis, HIV, Clamídia, Gonorreia, anti-corpos da vacina de Hepatite B, Condilomas, e Candida, entre outros específicos à situação de cada pessoa.
Também fazem despite de PID, uma infecção que pode ocorrer na zona pélvica e que pode causar infertilidade. Normalmente a PID está associada a contágios de Gonorreia e Clamídia, mas pode ocorrer durante uma operação aos orgãos internos de reprodução ou durante a inserção de um DIU.
Apesar de eu saber como as coisas funcionam na clínica, acho que ando nervosa, e hoje então ando sem paciência para nada. Peguei-me com a minha gata (ou foi ela que se pegou comigo?), e juro que estou a dar em louca. Pelo menos hoje tive um pouco de descanso, já que descansei das correcções. Acabei de corrigir o último exame ontem à noite, para grande alegria minha, já que eu não podia ver mais exames à frente.
Este fim de semana vou trabalhar num trabalho de avaliação para o meu curso de desenvolvimento profissional. Tenho de escrever 500 palavras sobre o impacto das novas tecnologias na aprendizagem dos alunos do Ensino Superior. Parece uma grande coisa, mas acreditem, o nome é mais pomposo do que o trabalho per se.
Os documentos que mandei para o Brasil já chegaram ao seu destino, mas hoje ao ler o website dos vistos cheguei à conclusão que só mandei metade do que é pedido! Fiquei furiosa, porque gastei imenso dinheiro para mandar aqueles documentos e agora vou ter de mandar estes que estão aqui também... Super chateada mesmo...GRRR!
E na segunda-feira vou a Lancashire em trabalho. Estou super contente, porque ainda não conheci nada do Norte/Centro de Inglaterra e agora vou ter a oportunidade de conhecer um pouquinho - mesmo que seja só da janela do combóio. Vou na Virgin!! Yay! Pelo menos uma coisa boa para começar a semana... E na quarta-feira, se Deus quiser, sai a certidão de casamento. E depois o meu marido vai visitar a madrinha, e só volta para apanhar o vôo para o Rio de Janeiro, e tratar dos papeis do Visto.
Mas até lá, ainda faltam quase 2 semanas... e o tempo parece que se arrasta. Eu juro que tento ficar optimista e tento sorrir, mas começa a pesar no coração (e na cabeça) a falta do meu marido, por muito que nós conversemos online... Eu só quero um abraço forte e um beijinho na testa... E para ter isso ainda tenho que esperar... e esperar... e esperar...
Descobri que não me renovaram um dos contratos que tinha na Universidade. O chato é que o contrato terminou no dia 4 de Janeiro e ninguém me disse nada até ontem, por isso andei estes dias todos a trabalhar feita estúpida, pensando que ainda tinha um trabalho fixo.
Na minha mesa tenho um montão de contas para pagar, por isso andei o dia todo a pedir aos professores que eu conheço para me darem o máximo de trabalho possível, já que ainda tenho 2 contratos válidos com a Universidade (mas não têm vínculo permanente, e sou paga por hora de trabalho efectivo...)
Sorte a minha, tenho uma boa reputação lá dentro e assim que mandei um email a pedir trabalho/ horas, choveram propostas de todos os lados. Assim, estou este semestre a leccionar 3 cadeiras de marketing de segundo ano, possivelmente ainda vou supervisionar umas teses de mestrado, e na quinta-feira vou ter uma reunião para um possível projecto que vai involver algum trabalho de pesquisa e investigação.
Vou andar a matar-me só para conseguir o dinheiro para renda e contas, mas pelo menos vou ganhar algum. E comecei hoje um módulo do curso que dá equivalência a um certificado de Professora Universitária (PGCE), o qual vai durar 10 semanas... Começou bem e achei o módulo interessante, mas tem 3 trabalhos de avaliação, um dos quais não vai ser nada fácil.
O marido hoje está em Minas Gerais com um dos irmãos dele, e por lá vai ficar até Segunda-feira, na casa de um casal amigo... Tenho andado a tratar da papelada para ele meter com o pedido de Visto dele. Estou mal de dinheiro e por isso ainda não tirei as cópias do passaporte certificadas. Também ando com pouco tempo disponível, já que tenho resmas de exames para corrigir até à semana que vem.
E a vida vai correndo...
Mal posso esperar por Março. Estou farta desta vida de trabalho e casa. Preciso do meu marido para me tirar deste círculo vicioso.
Cá estou eu de volta ao Reino Unido, e já tenho uma batelada de exames para corrigir, até quinta-feira, entre reuniões para resolver questões com os cursos de Singapura e das Ilhas Mauricias... Mais... pelo meio, ainda arranjar tempo para planificar as aulas para o semestre que vem e prestar apoio a Consultadoria. Só voltei ao trabalho há dois dias, mas agora vejo bem aquilo que trabalho todos os dias naquela universidade! Foi só tirar um mês de férias para o meu trabalho acumular até ao tecto...
Este fim de semana nem sequer vou ter tempo para descansar porque tenho outros 20 trabalhos para corrigir, e na semana que vem vou começar um curso de desenvolvimento profissional (CPAD) que me vai durar 10 semanas, o que quer dizer que vou ter que me organizar bastante bem se quiser tirar o máximo proveito (e dinheiro) da minha situação profissional... E quem disse que quem corre por gosto não cansa, estáva enganado... Ando completamente partida, este ritmo de trabalho já não é para mim, a minha resistência já não é o que era... Mas adoro o que faço! Só que...
*Suspiro*
...Nem acredito que estou aqui, de volta ao tempo cinzento e frio Inglês... Ainda na semana passada estava eu com o meu amor, no calor maravilhoso do Brasil, com a minha nova família, a trocar juras de amor eternas e alianças simbólicas dessas promessas... E agora, depois de uma passagem super rápida pelo carinho e amor da minha família em Portugal, entre tantas viagens e países, eis estou de volta à minha casinha inglesa - mas estou sózinha até o marido meter os papeis para o visto e vir-se juntar a mim.
As férias no Brasil foram tudo aquilo que eu imaginei e muito mais. Não há foto minha sem sorriso, porque enquanto lá estive fui amada, bem tratada, e descansei, relaxei, e aproveitei para ser feliz, vivendo um dia a seguir ao outro... Posso dizer que há muito tempo eu não me sentia assim. Agora resta esperar que saiam os papeis do cartório e que ele trate do Visto que é para podermos iniciar a nossa vida a dois. E eu mal posso esperar para que esse dia chegue...
Mas estou consciente de que pode demorar entre mês e meio a quatro meses, dependendo do dia em que o Visto saír - e se não houverem contratempos, porque ele ficou mais do que devia neste país antes de voltar ao Brasil... Se demorar muito, não sei se vou conseguir ficar sem o ver tanto tempo... Desde que cheguei ao Reino Unido esta semana de que sinto mesmo muito a falta dele, e apesar de falarmos todos os dias pelo msn, e nos vermos na webcam, não é a mesma coisa que dormir abraçadinha a ele, com as nossas pernas entrançadas, entre beijinhos e carinhos...
Talvez por isso também, eu me tenha envolvido em tanto trabalho, porque sei que se estiver ocupada nem vou dar pelo tempo passar. Mato-me a trabalhar para chegar a casa cansada e aterrar na cama, na esperança que o dia seguinte venha mais depressa. E depois tenho as amigas que visitam, e ainda vou fazendo a lida da casa, tratando da Daisy e visitando a outra metade da família que está deste lado... Tudo isso ameniza um pouco a dôr que é começar um casamento separados pela distância de um oceano.
Ficam de seguida as fotos mais bonitas, para morrerem de inveja!
A minha cunhada e eu...
Passeando na Praia de Caiobá no Paraná.
Na praia de Matinhos, Paraná, com a minha cunhada linda!
Passagem de Ano com o maridão a.k.a. Mr. Brazil...
Passagem de ano com a família do maridão...!
Na praia mansa, Caiobá, a beber um dos meus maiores vícios: àgua de coco verde...!
A regressar à praia depois de um passeio de barco.
Em Curitiba, centro, perto da paragem de autocarro tão original!
Um beijo cúmplice...
Perto das Capivaras no parque do Barigui, Curitiba.
Felizes e descontraídos no Parque do Tanguá, Curitiba.
A vista espectacular do Parque do Tanguá, Curitiba.
Na Ópera de Arame, Curitiba.
Momentos de cumplicidade na Praça do Japão, Curitiba.
Cheguei ontem a Lisboa ao fim da tarde, e estáva frio, mas nada igual aos -5ºC de Hertfordshire... O céu estáva limpo, e apesar de odiar andar de avião, tenho de ser sincera: é bonito chegar a Lisboa de noite, quando tudo está iluminado.
Mal o avião aterrou, senti-me de novo segura, senti-me em casa. Adoro vir a Portugal cada vez mais, não só porque posso passar tempo com a minha família, mas também porque posso revisitar os locais da minha infância, rever os amigos que tive de deixar para trás quando decidi ir morar para Londres, posso passar tempo com os meus animais tugas, e acima de tudo, porque posso falar Português.
Não vou dizer que a minha vida em Inglaterra também não tem as suas vantagens, mas a verdade é que a qualidade de vida em Portugal é mil vezes melhor que a de Inglaterra, nomeadamente a vida pós-laboral e social. Em Inglaterra não temos tempo para saír com os amigos. O trabalho é demasiado exigente, o tempo é sempre mau e quando se chega a casa só se quer mesmo é ficar no quentinho a ler um bom livro, ou a namorar, ou a ver um DVD.
Quando estou lá, tenho sempre saudades dos meus tempos de saír à noite em Portugal, quando mesmo debaixo de frio e chuva eu ía com a minha irmã tomar o cafézinho com os amigos, ou beber uns copos no fim de semana. Mas agora, que estou por cá, também não me apetece fazer muito para além de ver tv e ficar frente ao aquecedor... O que é um pouco triste...
Parece que a vida em Inglaterra se entranhou no meu estado de espírito, sem a mínima possibilidade de cura. Talvez nem seja bem a minha vida em Inglaterra a culpada, talvez seja mesmo a minha idade, estou mais velha e tenho necessidade de outro tipo de entretenimento e planos sociais ao fim do dia (nomeadamente, planos a dois)...
E por falar em planos a dois, desde que cheguei a Portugal ainda não tive possíbilidade de falar com o meu noivo como deve de ser. Andamos desencontrados nos nossos horários, e sei que é normal, só que fico triste e com saudades, mesmo sabendo que no final desta semana vou ter com ele... Desde que ele foi para o Brasil que temos falado diáriamente, mas desde que cheguei falámos uns minutos ao telefone ontem e pouco mais...
Enfim, não é fácil andar dividida entre três países diferentes, pois os três têm todos razões bem fortes que me ligam a eles... E apesar de tudo eu até me posso considerar uma sortuda, porque tenho dinheiro suficiente que me permite andar a pular de país em país! Pode não dar para o fazer todos os meses, mas dá para visitar quando a saudade aperta, que é quando realmente interessa ir...
Hoje vou andar por casa, já que está de chuva, e eu não estou com muita vontade de me molhar... Se bem que o facto de ter o meu irmão mais novo a tocar bateria no quarto ao lado pode ser considerada uma boa razão para o fazer!!!
As sextas-feiras em Portugal eram sempre animadas, eu tinha sempre onde ir, sempre o que fazer... Podia sempre contar com o cafézinho da praxe depois do jantar, ou a reunião de amigos habitual antes de saír para a 'night'... Apesar de ter as minhas preocupações, a vida lá sempre parecia correr mais depressa do que me parece aqui. O irónico é que aqui os dias são mais curtos, trabalha-se muito mais, e por isso mesmo devia sentir-se o contrário. Mas não se sente.
Este fim de semana vai ser difícil. O Mr. Brasil voltou para o Brasil ontem à noite, e a minha casa parece-me vazia demais. Não tenho vontade de fazer nada. Não tenho sono. Não tenho fome. Só quero ir para Portugal - pelo menos lá tenho a minha família, e coisas para fazer, amigos para visitar, a vida é mais animada e não penso tanto (nem sinto tanto) a ausência do meu noivo...
Aqui só tenho o meu trabalho, e alguns amigos que ainda se vão preocupando comigo, que me vão visitando, a minha nova família também... mas chega a hora de irem para casa (ou de eu ir para casa) e o vazio vem de novo e eu não sei como lidar com isto. Por mais que o trabalho preencha a maior parte dos meus dias, não consigo que preencha o suficiente do espaço deixado pelas pessoas que gosto e que deixam o país...
Ás vezes ser emigrante tem destas coisas... O que estou a sentir agora já eu senti há uns anos atrás quando o meu grupo de amigos português daqui voltou todo para Portugal, depois de acabarem os estudos deles... Parece que estou a trabalhar no aeroporto de novo, em que as pessoas chegam e partem, mas eu fico no mesmo sítio.
Este fim de semana vou receber as minhas compras online como sempre. Vou limpar a casa como habitual. Vou corrigir os trabalhos dos meus alunos. Vou ver tv. Vou esquecer que estou no Reino Unido. Vou tentar não pensar no vazio. Vou tentar não sentir tristeza. Vou tentar... De repente, viver de novo sózinha não me parece assim tão bom.
Na próxima Quinta-feira, o programa 'As tardes da Júlia' vai falar sobre saudades, e a minha voz vai ecoar via telefone a nível nacional na TV!!! Não há termo inglês para definir esta palavra, que eu geralmente traduzo como 'missing feeling'. Mesmo assim é complicado para um inglês, ou um Indiano, ou um chinês entender o que é que saudade significa. Só quem é português (ou quem fala português) entende o que é estar saudoso.
Devido às minhas mais recentes confidências neste blog fui recentemente convidada pelo programa para falar de saudades. Para isso, vai lá estar no estúdio a minha mãe para falar das saudades dela, e depois vou estar eu ao telefone daqui a falar das minhas saudades. Vai ser interessante, e estou super contente que tenha sido o meu Blog a causar tudo isto.
Nestes últimos três anos e meio que estive ausente de Portugal, a ir a casa só de 6 em 6 meses e ocasiões especiais, passei tantos dias triste, com saudades de casa, da família, dos cães, dos amigos, do mar... e muitas vezes, sem saber muito bem como gerir esses sentimentos, afundei-me em trabalho para não pensar em tudo aquilo que perdi ou deixei para trás... Por tudo isso, sinto que é importante que as pessoas saibam o que é estar ausente daquilo que nos é familiar, desde a língua até à comida... E nada como usar a minha experiência nesse sentido.
Este ano não tenho tido nem tempo nem dinheiro para poder regressar como gostaria - o mestrado tira-me o tempo todo disponível para trabalhar overtime. Trabalha-se o necessário para pagar as minhas despesas, e depois o resultado reflete-se na conta bancária e na liberdade de acção - limitados. Não fui no Natal, não vou na Páscoa... e vamos lá ver se sempre vou em Junho como tenho planeado desde o Natal...
Lutar contra estes pensamentos é uma tarefa hercúlea, é como se um buraco estivesse aberto no meu peito sem eu poder fazer nada, a não ser esperar pacientemente pela próxima oportunidade para poder voltar a casa. E a chuva cai (porque aqui é só mesmo chuva...), e eu revejo as fotos do Verão passado... E relembro o dia dos meus anos... E o sol e a praia...
Não é fácil estudar no estrangeiro. Desenganem-se aqueles que pensam que é fácil e que se podem contornar as saudades com um messenger em modo de conferência, ou com telefonemas dia sim, dia não. A realidade de estudante não permite ir a casa uma vez por mês... Mesmo que se trabalhem quase 30 horas semanais, com os estudos e a vida pessoal, é raro poder-se ir a casa senão de 6 em 6 meses.
Às vezes fazem-se jogos com as entidades patronais, trabalham-se duas semanas numa para se poder ir de férias durante o Natal, ou a Páscoa. E nessa semana em que se fazem quase 50 ou 60 horas, anda-se sem energia, e sem um sorriso nos lábios, porque não se tem tempo para nada - só mesmo para trabalhar e fazer os trabalhos de casa para a universidade.
Quando as férias chegam, e quando o avião aterra na terra mãe, o coração enche-se de espectativa e parece que o tempo voa. Tão depressa se chega como nos vamos embora... É complicado. Se por um lado se sabe que este sacrifício de estar longe é para o nosso bem, por outro vive-se na angústia de estar distante da vida da família. Tenho muitas vezes a noção de que já não pertenço a Portugal... E ao mesmo tempo sei que não pertenço aqui também...
E então é como se vivesse num vazio entre os dois mundos. É uma luta constante entre o passado e o presente e o futuro.
Mas no fundo, no fundo, a nossa terra é a nossa terra e é lá que eu me sinto como peixe na àgua, mesmo que já não reconheça algumas ruas, ou paisagens, ou pessoas...