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E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

10
Abr14

Recomeçar (outra vez)...

Little Miss Sunshine

Nos dias de sol, como o de hoje, eu acordo sempre com um fiozinho de alegria dentro de mim. A claridade que entra pela casa adentro, e o céu azul parece que exercem um efeito antidepressivo natural na minha pessoa. Não é para menos, afinal, nasci no sol, vivi grande parte da minha vida no sol, e portanto é normal sentir este optimismo natural cada vez que o sol decide dar um ar da sua graça nesta terra cinzenta.

 

Olho para trás e vejo um montão de trabalho para fazer. Medo. Com os dias conturbados que tenho vivido ultimamente, deixei um montão de trabalho acumular e não estou com muita vontade de começar a fazê-lo. A culpa é do sol e dos dias cheios que tenho com a minha filha, ou a dar aulas... E agora vai ficar mais corrido, porque vou ter de aprender a contar só comigo mesma.

 

Depois de uma conversa séria com o meu (ainda) marido, cheguei à conclusão de que não posso mais continuar esta relação. A razão prende-se essencialmente com as nossas diferenças. Ele pensa de forma diferente de mim, e eu dele. Lançou-me um ultimatum mais uma vez, de que me deixaria se eu não deixasse de escrever o que sinto no facebook, ou neste blog. Eu sei que há coisas que não se escrevem, mas se ele me apoiasse mais, e se eu sentisse que podia falar com ele, talvez não necessitasse desses canais para libertar as tensões acumuladas - é que eu não escrevo só sobre ele... Na verdade, ultimamente até tenho escrito mais sobre ele, porque ando frustrada com as atitudes que toma, muitas delas egoístas a meu ver.  Sinceramente não estou disposta a abrir mão de escrever, já abri mão do blog durante uns anos, e por isso é que estive mais ou menos inactiva, e o resultado foi o acumular de uma grande tristeza, porque nem podia desabafar aqui, nem podia falar com ele sem voarem acusações sobre tudo o que eu fazia (ou escrevia) de errado. Todos os nossos males fossem a minha escrita...

 

Não vou mentir, eu sei que escrevi algumas coisas erradas. Mas cheguei a um ponto em que não estou mais disposta de abdicar de quem em sou, daquilo que eu gosto e que me faz feliz para manter um casamento de fachada, que não me oferece qualquer tipo de amizade, compreensão ou conforto. Gira tudo à volta daquilo que eu não posso dar, da minha maneira de ser (que nunca está certa, ou correcta), das coisas que eu faço (que estão sempre erradas), e das minhas queixas (porque arcar com as responsabilidades domésticas, gerir a minha carreira e ainda criar uma filha não são coisas suficientes stressantes e pesadas). Ele está fora a trabalhar o dia todo, 6 dias por semana, raramente falamos, ele chega a casa, toma banho, janta e dorme... e ainda acha que pode queixar-se do que faço ou deixo de fazer nas ausencias dele... O que me entristece é que sempre me senti um acessório, parte da casa e do conforto dele. Nunca me senti especial.

 

Eu sei que há casais que estão separados sem quererem, e que apesar disso se aguentam forte e feio, entre saudades e tristeza... Os meus parabéns para esses casais. Têm certamente uma base sólida de amizade e comunicação que os aproxima nas distâncias do dia a dia. Eu não tive nunca isso. Sempre me senti a 'louca' (como muitas vezes fui chamada). Sempre me senti a 'dominadora', porque gosto de ter as coisas em casa de uma determinada forma ou arrumadas de uma determinada maneira, porque o proíbi de viajar a trabalho (por razões obvias, não compensa estar fora de casa 2-3 dias quando eu tenho uma criança pequena nos braços e o sacrifício para A FAMÍLIA seria demasiado pesado para o ordenado implicado)...

 

Como se não fosse difícil já o facto de estar isolada da minha família, ter saudades de umas férias à beira mar, e/ou não poder sequer falar com ele daquilo que eu realmente sinto, com medo do mesmo me ser atirado à cara, num acto de chantagem psicológica e emocional.

 

Vim para este país sem nada. Não tinha um curso, não tinha dinheiro, não tinha qualquer tipo de plano a não ser vir estudar e tentar arranjar um emprego para me poder manter enquanto estudasse. Passei estes últimos 10 anos da minha vida a batalhar por um futuro melhor, e sinto que muito do que fiz agora foi em vão, porque nos últimos 4 anos eu destruí muito do que construí. Acreditei num amor e numa cabana, e acabei derrotada, mas teria sido pior se não tivesse a minha filha e o meu trabalho. Mas mesmo o meu trabalho está por um fio porque não tenho mais o tempo nem a concentração para poder dedicar às responsabilidades que me são dadas...

 

O que mais me impulsiona para a frente é a minha filha... Porque eu quero que ela cresça feliz, a ver a mãe feliz e não a chorar pelos cantos, como tem visto. Chorei mais nestes 2 meses do que em toda a minha vida, e o pior foi sentir que isso não importou nada para aquele que deveria ser o meu companheiro nos bons e nos maus momentos... Mas sei que importou e muito para a minha filha, ela não entende porque eu choro, nem porque é que o pai dela não me acode quando ela vai a correr para ele dizendo 'mummy crying'... Foi por isto que decidi que uma decisão teria de ser tomada, urgente.

 

Hoje, a minha filha acorda-me e pergunta-me todos os dias 'happy mummy'? Ao qual eu respondo, sim, happy mummy, porque finalmente tomei a decisão que sinto ser a decisão certa. Escolhi não mais sacrificar aquilo que me faz feliz por uma pessoa que literalmente não se importa com o meu sofrimento, com aquilo que eu penso, ou com aquilo que eu quero. Uma pessoa que acha que eu não sou boa da minha cabeça, e que todos os dias me fazia sentir mais imperfeita. Eu não sou imperfeita aos olhos da minha filha e isso basta-me. Deixei de me importar com o resto.

 

Como disse atrás, eu tenho os meus defeitos. Mas se me amam e eu o sinto esse amor todos os dias; se se importam e eu vejo isso nos gestos quotidianos do dia a dia; se eu vejo que lutam por um futuro melhor fazendo escolhas em prol da família e priveligiando a família acima de tudo (como vejo muitos dos meus amigos que hoje me rodeiam), então aí sim, eu estaria louca em querer terminar uma relação de quatro anos, com uma filha, em que tudo existe para dar certo. Mas a realidade é outra. Não só eu sinto que sou um bem adquirido, como não consigo apagar as dores que passei no passado, o desprezo e abandono a que me sujeitaram e a constante ameaça de terminarem tudo para me forçarem a me modificar pelo medo... E o pior é que eu acreditei que o estava a fazer pela família, ao ponto de não mais conhecer quem era, e perder completemente o meu norte. Não. Mais não. Chega.

 

Cheguei ao ponto de ruptura. Um ponto onde eu estive umas 2 ou 3 vezes na minha vida, em que toda a dor que sinto se transforma em algo dormente. Sinto-me anestesiada, e libertada ao mesmo tempo. Quando olho para ele já não sinto nada, porque sei o que quer de mim, e o que espera de mim. O que ele quer de mim, eu não lhe posso dar. As expectativas que ele tem não são iguais à realidade. Eu sou assim, como sou. Agora sinto que amadureci o suficiente com esta situação para entender que homem nenhum - nem mesmo o pai de minha filha - merece que eu mude a minha natureza para que ele possa ser feliz. Eu não era feliz, por isso no meu entendimento, essa necessidade que ele tinha de me cobrar certas coisas e me proíbir das mesmas era somente para o deixar feliz, e nunca se perguntou se eu ficaria feliz fazenbdo o que me pedia...  Se a pessoa ama de verdade, a pessoa não tenta mudar, a pessoa tem de aceitar que eu escrevo na internet e no facebook o que eu quiser, que é a minha liberdade de escolha. Da mesma maneira que ele não me deixa criticar o trabalho dele, ele não tem que criticar o que me faz feliz.

 

Na minha percepção das coisas, eu tenho mesmo o direito de fazer o que eu quiser: sou uma pessoa independente, boa mãe, trabalhadora e honesta. Não traí, não abandonei, não andei por aí a ter comportamentos humilhantes ou devassos. Vivo para a minha família e sempre vivi. Dei sempre o melhor de mim aos meus e àqueles a quem eu chamo de amigos. Fiz mais por qualquer um deles do que por mim mesma para poder ver eles felizes e unidos... Se dentro de casa não se reconhece a força e dedicação que eu coloquei todos os dias em tudo o que faço para que todos fizessem o que queriam, então chegou a hora de dizer adeus, fechar este capítulo e abrir a página de um capítulo novo. Sem medos. Cansei de tentar.

15
Fev10

A solidão de certos dias...

Little Miss Sunshine

Hoje é um dia difícil. Provavelmente porque passei o dia de ontem sózinha, parece que o dia de ontem continua no dia de hoje... Ando cansada porque ando a trabalhar demais para não pensar no tempo. Ando triste, farta desta distância e desta condição de dependência de prazos, tempos, e leis.

 

Se tudo correr bem, o meu marido vai estar aqui comigo a partir do dia 12 de Março. Dia 18 de Fevereiro ele vai meter os papeis para o EEA Family Permit no Rio de Janeiro, e segundo os resultados da minha investigação, o visto demora 5 dias a saír se tudo estiver em conformidade. Nesta altura ele está no interior do Paraná, com pouco acesso à internet, e eu ando já a bater com a cabeça nas paredes. Nunca me senti tão sózinha. Entra o dia e sai o dia, e eu não falo com ninguém... Só com o pessoal da universidade e pouco mais.

 

 

SOLIDÃO MATA quando consumida em excesso.

 

E eu, ultimamente, tenho tido tanto tempo sózinha que começo a falar sózinha, chorar sózinha, não como nada, e só quero dormir e trabalhar. Trabalho, trabalho muito, para não pensar no vazio do meu peito cada vez que meto a chave à porta e a casa tem uma gata que nem se levanta para me vir dizer olá tirando quando tem fome.Trabalho longas horas para chegar a casa já de noite, ver um pouco de tv, ainda trabalho mais um pouco e vou-me deitar já na esperança de que a semana passe a correr, porque cada hora parece um dia, e cada dia parece um mês.

 

Não é que eu esteja dependente do meu marido para viver ou ser feliz - porque não estou. Sempre demos bastante liberdade um ao outro, sempre fizemos o que queremos. dentro dos limites do razoável... mas desde que estou longe dele, e de todos aqueles que eu amo, tenho dias em que realmente só me apetece fechar dentro de um armário e ficar lá no cantinho, no escuro, no vazio, no silêncio, como se não existisse.

 

Há dias assim, dias em que as lágrimas escorrem, dias em que as palávras não existem nem saiem, dias em que a solidão corrói a alma e nós só podemos mesmo aceitar que ainda vai demorar para conseguirmos estar juntos, como um só, outra vez...

 

Ah maldita saudade. Como eu te detesto, saudade sem dó nem piedade.

 

 

12
Dez07

Impávida e serena...

Little Miss Sunshine
Última semana de aulas. Como manda a praxe, não ponho lá os pés - nas aulas, porque fui à uni entregar lembrançazinhas de Natal a duas das minhas amigas, uns chocolatinhos minusculos porque isto não dá para mais. Ando mal de massas, toda a gente sabe, e este Natal vai ser a contar o tostãozinho no fundo da carteira.

Anyway - passa à frente que farta de me ouvirem devem estar vocês, gira o disco e toca o mesmo! - a carta de despejo para o casal do lado ainda não chegou e hoje já tenho uma futura housemate em linha. Vai no segundo curso superior, é inglesa mas arrumadinha e parece que paga as contas a tempo e horas (pelo menos é o que ela diz).

Não me parece que faça ondas como o casalito do lado, o que para mim já é muito bom e se for asseada, melhor ainda.

Para a semana, três dias de trabalho, e sem aulas isto vai ser bonito. O rapaz vai trabalhar a semana inteira para ver se começamos bem o ano, e eu vou ver se ponho os trabalhos da universidade em dia. Com três trabalhos e um teste, Janeiro avizinha-se ser um mês de alguma inquietação e muito trabalho.

Mas depois vêm as férias do semestre e eu queria ver se ía a casa nessa altura. Ando mesmo com saudades de casa. Ando tão  mal, tão mal, tão mal, que ontem me deu para ir ao 'YOU TUBE' ver videos sobre o Barreiro, a minha terrinha.

Com a aproximação do Natal, imagino que deva estar tudo decorado com luzes nas avenidas principais, e aquele cheirinho tão peculiar no meu bairro por esta altura, uma vez que o pessoal acende as lareiras para receber a família que vem juntar-se à mesa numa ceia tradicionalmente farta. (suspiro)

Não é justo. Este Natal vai ser dos mais tristes para mim. Ando desanimada. Montei a àrvore de Natal e comprei caixas de chocolates a £1 cada só para poder ter prendinhas debaixo da àrvore. Pus luzinhas nas janelas só para me lembrar daqueles tempos em que o Natal em minha casa era barulhento, trabalhoso mas feliz. Lembro-me daqueles dias de véspera em que eu acordava cedinho para fazer as fatias douradas, ou as filhóses à moda do Porto, a aletria e o arroz doce...

O meu pai e a minha mãe íam cedinho no dia 24 buscar à pastelaria as azevias - que por serem muito trabalhosas não se faziam em casa - e os coscorões, e o tronco de Natal. Estendiamos os doces na mesa da sala de estar, que era também a sala de jantar já que a sala de jantar propriamente dita tinha sido convertida em escritório/ biblioteca.

O bacalhau começava a cozer lá para as seis. A família chegava entretanto quase sempre por essa hora - altura em que a mesa já estáva devidamente posta, e a lareira crepitava lançando bafos quentes para dentro daquele espaço, que cheio de gente animada dava uma outra luz à casa.

Olhando para trás, posso dizer que os meus Natais foram sempre especiais. Uns anos mais que outros, o meu espírito de Natal sobrevivia de contentamento e hoje questiono muitas vezes se os meus filhos um dia terão essa mesma sorte. O Sidd não entende o Natal como eu, que o vivi a vida inteira. Para ele o Diwali tem o mesmo significado, mas as tradições são diferentes e os sentimentos raramente se misturam.

O meu Natal podia ser pior. Apesar de estar a passar por algumas adversidades, a verdadeé que neste Natal não vou ficar sózinha. Posso não ter a família toda à minha volta, os cães a correr entre as minhas pernas e a gata a miar sorrateiramente à janela, mas pelo menos tenho o Sid e tenho a Daisy. E vou tentar arranjar bacalhau, mesmo que pouco, só para poder ter o gostinho de voltar a casa - nem que seja só na imaginação...

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