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E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

E o céu azul brilhará...

Diário de uma académica portuguesa em Londres

10
Jun11

Triste

Little Miss Sunshine

Uma das razões porque eu deixei de escrever aqui tem a ver com o meu marido. Um dos desabafos que eu por aqui escrevi quase acabou com o meu casamento e eu senti que deveria deixar de escrever por aqui durante um tempo. Entretanto, os dias foram-se tornando meses e parece que me distanciei deste blog mais do que gostaria. Na verdade, o facto de ter este blog ajudou-me muitas vezes em tempos de incerteza e tristeza, e ajudou-me a conhecer-me melhor como pessoa, através da re-leitura dos meus posts. Por isso foi muito difícil ter de escolher entre este meu mundo, da qual eu sou personagem há quase 7 anos, e a minha pequena família que só começou há dois.

 

Mas eu tive de escolher, numa altura de grande fragilidade, eu grávida, ou era isto ou o meu marido. Escolhi o meu marido para bem da minha filha, mais do que para o meu próprio bem. Não me levem a mal, eu amo o meu marido, mas há certas coisas que eu tive de mudar na minha personalidade para poder levar a vida que hoje levo, opções que eu tive de tomar e que nem sempre senti que eram as opções certas para mim, mas sim as opções certas para que a minha pequena família não se desmoronasse diante dos meus olhos.

 

O meu marido faz hoje 36 anos. Esta deveria ser uma data especial, de alegria, um dia de comemoração. Mas cá estou eu, em casa, sózinha com a minha filha. Depois de lhe ter dado a prenda de anos esta madrugada, e de lhe ter desejado os parabéns, não recebi um beijo, não recebi um obrigado... Isto fez-me pensar... Ando eu a sacrificar partes da minha vida que me são importantes, que são parte de mim (como este blog) por uma pessoa que não valoriza certas acções de afecto de minha parte...?

 

Ontem levantou-me a voz, com uma atitude de quem não quer saber, e eu acabei por ir para a cama mais cedo, a chorar, para dar de mamar à filha, e com uma sopa apenas no bucho... Tudo porque ele fez algo errado (deixou sair o gato de casa, e nós temos duas portas da entrada, mas ele tinha de deixar as duas portas abertas, sabendo que o gato estava a recuperar de uma cirurgia e da outra vez que esteve na rua desapareceu por 2 semanas e meia!!) e não admitiu. Destrata verbalmente os animais, como se a culpa fosse minha. Eu sou responsável, eu não falho com comida, vacinas, veterinário!! Eu amo os meus animais e ele detesta-os por isso mesmo, porque eu os amo tanto. E os nossos animais foram sempre ponto de desacordo entre nós, levando-me muitas vezes a pensar que se eu soubesse a posição dele face a ter um cão e um gato talvez nunca me tivesse casado com ele, porque para mim, uma casa sem animais é uma casa triste e infeliz.

 

Para piorar, ainda atirou umas bocas, com desdém, que ele estáva cansado do trabalho - eu acredito que esteja... Mas quando eu lhe disse que a minha vida em casa também não era fácil, fez um ar de cinismo e com sarcasmo, lançou um esgar, como se o trabalho dele fosse realmente pior do que ficar em casa... Pois a minha vontade foi deixar-lhe a filha e voltar eu ao trabalho, para ele ver o que é bom.  Mas ele ainda não tem mamas que produzam leite, o mal é esse... Será que ele sabe que,  desde que ela nasceu em Março que eu não durmo uma noite seguida!? ELE NÃO ACORDA DE NOITE para nada... Desde MARÇO que eu não tenho uma FOLGA, um dia de descanso para jogar PLAYSTATION, ou fazer aquilo que ME APETECE, como ir a um barbecue de amigos. Ele fez isso tudo...

 

Todos os dias, ainda tenho que fazer almoço e jantar, senão o meu leite não é bom e a filha fica rabujenta, e pode até perder peso. Ele acha que está a fazer muito por mim deixando o meu pequeno almoço na mesa de cabeceira todos os dias? Não é por mim que o faz, é pela filha - porque se eu como bem, a filha bebe um leite mais nutritivo logo pela manhã. Esta semana nem tenho almoçado de jeito e eu bem vejo como a filha anda rabujenta e dorme mal. Tento ao máximo fazer o que posso em casa, entre as sestas da menina, e é raro ter um tempo de descanso para mim. Passo o dia sózinha, muitas vezes sem falar com ninguém. Quando saio com as minhas amigas, umas duas vezes por semana, ele acha que eu estou na boa vida, mas na verdade só muda o meu cenário. Tenho de mudar fraldas na mesma, dar de mamar na mesma, acalmar o choro da filha na mesma... O cansaço é até maior porque estou fora do meu ambiente.

 

Por isso, como ousa ele dizer que está cansado do trabalho, quando dormiu uma noite inteira, e ainda pode dormir uma sesta quando chega a a casa? Estou tão furiosa com ele que só quero ir para Portugal, dar um tempo e esquecer a minha vida aqui, porque sinceramente eu estou sem paciência para a vida de casal nesta altura. Na verdade desde que a filha nasceu que nós somos um casal na teoria, porque eu não consigo sequer pensar em olhar para ele de outra maneira enquanto eu não conseguir descansar aquilo que eu preciso. Eu ando exausta. E irrita-me quando me dizem para eu não levantar ondas, porque eu só me chateio se me falarem mal, como ele fez. Não foi ter deixado o gato sair que me deixou incomodada, foi as coisas que ele me disse e a maneira como ele me as disse que me deixou triste.

 

Por isso, hoje, estou sem vontade de celebrar este dia especial para ele. Que contraste. O ano passado foi um dia super-especial. Este ano, é um dia para esquecer.

30
Jun10

Um novo membro na família e complicações financeiras

Little Miss Sunshine

Uma das razões porque eu poupo bastante tem a ver com situações como a que eu vivi hoje. Hoje deveria ter sido um dia feliz para mim: dia de receber o ordenado. Mas qual não foi o meu espanto quando eu reparei que não fui paga!!? A Universidade mudou o sistema de recursos humanos, e eu fiz o que eles me pediram, submeti as minhas horas através do novo sistema. Pois bem, as horas não me foram pagas. Um total de 88 horas de trabalho que eu não recebi. Resumindo, quem paga a renda e as contas este mês? Vou ter de mandar as contas para a Universidade pagar, não?

 

Estou super stressada porque eu nunca falhei com as minhas contas e esse dinheiro faz-me falta, principalmente porque vou estar os próximos 2 meses à seca, já que não há aulas e eu não vou receber pagamento dessa função. Já reclamei, mas como o pessoal dos recursos humanos está em treino, só devo poder ter uma resposta para este problema no dia 5 de Julho. Não está bem. Lá fui eu ter de mexer nas minhas poupanças. Não se faz.

 

E hoje ao fim do dia vou buscar o meu cachorrinho. Foi a minha prenda de anos para mim própria, já que parece que o marido vai voltar a viajar (foi esta segunda-feira para Birmingham), e eu não aguento mais esta solidão! Desde que o ritmo do meu trabalho abrandou que eu tenho andado super deprimida, e super carente, porque me sinto uma inútil - eu sem trabalho não sou ninguém! E sem dinheiro sou menos ainda. Vou ensinar o meu cãozinho a comportar-se direitinho, uma espécie de treino para um dia que aconteça o milagre de ter um filho.Vai-se chamar Bidú e é um Shih-Tzu, com pedigree e tudo. A Daisy é que acho que não vai achar piada nenhuma, mas em parte o cãozinho também é para ela, porque ela passa a vida a dormir e a veterinária disse que para um gato de 3 anos, ela tem de ser mais activa, porque está a ficar gorda.

 

Estou desejando ir buscar o meu novo amiguinho peludo.

 

 

 

 

31
Mar10

Começa a enxurrada de trabalhos para corrigir!

Little Miss Sunshine

E eis que chegámos novamente àquela altura do ano em que por onde quer que me vire, há trabalhos espalhados por todo o chão de minha casa. Para andar, só mesmo aos saltinhos, porque no meio do meu caos, ninguém se entende - só mesmo eu. Gosto mesmo do que faço, mas tenho de ser sincera: esta é a altura mais complicada para mim, a altura da submissão de trabalhos de avaliação para três das cadeiras que estou a leccionar este semestre. Ainda para mais, tenho o curso de formação profissional para acabar (e um trabalho para fazer e entregar já no final do mês), tenho outro curso de formação de professores a começar assim que regressar de Portugal, e esta catrefada de trabalhos para corrigir, notas para lançar... Uffa! Até me falta o ar.

 

Já comecei a marcar alguns, e não estão nada famosos. Um pouco desiludida, já que alguns destes alunos são meus alunos e por isso esperava muito mais deles - especialmente após as direcções que lhes dei durante as aulas.  Começo logo a perguntar-me se a culpa foi minha, revejo as aulas em fast rewind, depois em slow forward... Não! Não pode ter sido culpa minha...! mas então porque é que me sinto culpada...?

 

Talvez porque hoje não fiz jantar - andei de volta destes trabalhos de grupo, a trocar emails entre colegas, e a ver se realmente as notas estão consistentes com o resto das notas dos outros professores. Deixem que vos diga qual é a palavra que o pessoal das universidades aqui do Reino Unido gostam mais: consistência. Têm a sua razão. Quando mais de 500 alunos recebem notas de mais de 5 professores, há que haver consistência.

 

Onde não há consistência nesta altura é na minha casa. Quando podia ter compreensão e carinho, tenho agressividade e falta de entendimento. Depois há a culpa, porque acho que isso tudo acontece porque eu não estou a agir de acordo com as expectativas geradas... Mas com tanto para resolver, digam-me lá se não era tão melhor ter um ambiente em casa semelhante ao ambiente do meu trabalho? Porque lá, apesar dos encontrões volta e meia, pelo menos reina a tranquilidade, e a paz.

 

Só precisava disso mesmo, um pouco de paz. Mas nesta altura parece que o maridão não enterra o machado, e eu não estou com paciência de negociar o que quer que seja. A falta de espaço não ajuda... As incriminações dele também não. A minha personalidade ainda piora a cena. Isto está complicado hoje para o meu lado. E por isso, refugio-me no trabalho para não pensar no quanto estou infeliz. O que é triste, porque depois de tantas lutas e batalhas, depois de tanto sufoco e distância, as coisas entre nós deviam estar tranquilas... mas não estão.

15
Fev10

A solidão de certos dias...

Little Miss Sunshine

Hoje é um dia difícil. Provavelmente porque passei o dia de ontem sózinha, parece que o dia de ontem continua no dia de hoje... Ando cansada porque ando a trabalhar demais para não pensar no tempo. Ando triste, farta desta distância e desta condição de dependência de prazos, tempos, e leis.

 

Se tudo correr bem, o meu marido vai estar aqui comigo a partir do dia 12 de Março. Dia 18 de Fevereiro ele vai meter os papeis para o EEA Family Permit no Rio de Janeiro, e segundo os resultados da minha investigação, o visto demora 5 dias a saír se tudo estiver em conformidade. Nesta altura ele está no interior do Paraná, com pouco acesso à internet, e eu ando já a bater com a cabeça nas paredes. Nunca me senti tão sózinha. Entra o dia e sai o dia, e eu não falo com ninguém... Só com o pessoal da universidade e pouco mais.

 

 

SOLIDÃO MATA quando consumida em excesso.

 

E eu, ultimamente, tenho tido tanto tempo sózinha que começo a falar sózinha, chorar sózinha, não como nada, e só quero dormir e trabalhar. Trabalho, trabalho muito, para não pensar no vazio do meu peito cada vez que meto a chave à porta e a casa tem uma gata que nem se levanta para me vir dizer olá tirando quando tem fome.Trabalho longas horas para chegar a casa já de noite, ver um pouco de tv, ainda trabalho mais um pouco e vou-me deitar já na esperança de que a semana passe a correr, porque cada hora parece um dia, e cada dia parece um mês.

 

Não é que eu esteja dependente do meu marido para viver ou ser feliz - porque não estou. Sempre demos bastante liberdade um ao outro, sempre fizemos o que queremos. dentro dos limites do razoável... mas desde que estou longe dele, e de todos aqueles que eu amo, tenho dias em que realmente só me apetece fechar dentro de um armário e ficar lá no cantinho, no escuro, no vazio, no silêncio, como se não existisse.

 

Há dias assim, dias em que as lágrimas escorrem, dias em que as palávras não existem nem saiem, dias em que a solidão corrói a alma e nós só podemos mesmo aceitar que ainda vai demorar para conseguirmos estar juntos, como um só, outra vez...

 

Ah maldita saudade. Como eu te detesto, saudade sem dó nem piedade.

 

 

26
Out09

Um dia atrás do outro...

Little Miss Sunshine

Ultimamente parece que os dias passam a correr, um atrás do outro, dia e noite, noite e dia... Nem dou pelas horas passarem...  Hoje, por exemplo, quando saí do trabalho às 5 da tarde já era escuro... ! Enquanto caminhava pela avenida a caminho de casa,  o trânsito frenético, os estudantes nos passeios à espera dos autocarros para irem para casa, as luzes do centro comercial... Tanta gente, tanta vida, e eu ali, no meio... Senti-me sózinha, desprotegida, e com saudades de casa.

 

Provavelmente porque tive um dia cheio, complicado. é que me sinto assim, tristinha...  às vezes tenho dias em que só queria chegar a casa e ter  alguém para falar, alguém com um sorriso e um carinho, que me compreendesse, que me amasse de verdade, que me abraçasse e me dissesse que tudo vai correr bem, sem julgar, sem apontar o dedo...  Será que esse dia vai chegar alguma vez....?

 

Há dias em que eu me sinto completamente transparente, como se não encaixasse na vida de ninguém. Abro a porta de casa e tenho uma gata esfomeada a miar. Podia ser pior - podia ter um grande vazio entre 4 paredes. Mas apesar de estar bem, e ter algum conforto,  já começo a ficar cansada.  Cansada de esperar pelo momento certo, pela pessoa certa...  Chega! Não quero mais ter de lutar contra o mundo, contra as circunstâncias, contra o dia a dia, contra o inevitável, só para poder ser feliz com a pessoa que eu gosto...  Sinto-me vazia e sem o mínimo de esperança... Dói. Magoa. E assim me vou refugiando no trabalho, que é das coisas que mais me completa nesta altura.

 

Hoje, por exemplo, tive de dar uma aula a 170 estudantes no anfiteatro. Que nervosa que estava! Os meus estudantes disseram que eu dei a aula super rápido - mas que deu para perceber que eu sabia exactamente daquilo que estáva a falar.  Mas perdi-me pelo meio, e às vezes é complicado apanhar o raciocínio em Inglês. Quando a aula acabou, respirei de alívio e foi como se um grande peso tivesse saído dos meus ombros.

 

No final do dia lá pedi à minha chefe para me passarem o contrato de trabalho na unidade para part-time. Em vez de trabalhar a semana toda lá, vou só trabalhar dois dias e meio, e fico com dois dias e meio para me dedicar às aulas e ao meu trabalho de coordenação para os cursos de Blended Learning. Não sei se é a decisão mais certa, mas eu ando tão cansada que é provavelmente uma decisão necessária.

 

Eu hoje não estou boa.

Acho que vou dormir cedo.

Sinto-me super em baixo.

Fiquem bem.

 

30
Set08

Odeio não ter razão...

Little Miss Sunshine

 

Hoje estou de rastos. Acabada. Quase morta.
Vim trabalhar porque nao valia a pena estar em casa.
 
Eu e o Sid acabámos e ele esta a mudar-se de casa hoje. Parece que levei dois socos nos olhos de tanto chorar. Um dia planeávamos casar e ter filhos, agora só quero que ele saia de casa. Estou farta, chega de mentiras e decepções na minha vida.
 
Estou cheia de ódio, pelas acusações, pela falta de atenção, pela falta de entrega, pela falta de responsabilidade e de respeito por mim, pela falta de ser eu mesma. Senti saudades de casa, da mãe e do seu colinho, porque aqui estou sózinha e não há nada. Absolutamente nada nem ninguém.
 
Não gosto de quem sou quando estou com ele. Não sei se gosto dele sequer. Preciso de espaço para saber. Ou talvez preciso de espaço para voltar a respirar. Mas eu nunca o vejo, quando estamos juntos ele nunca está comigo, tudo é melhor que eu... Estou farta.
 
E eu preciso de alguém que seja estimulante e me faça sentir especial. Há muito tempo que eu não me sinto especial. Sinto-me mãe, irmã e empregada doméstica – não me sinto noiva, não me sinto namorada sequer.
 
Últimamente voam acusações que eu não quero ouvir já. Ele também tem muita raiva e ódio porque as coisas que ele diz não são coisas de quem ama alguém. São coisas de quem está frustrado, mas eu também estou. Não nos compreendemos, tornámo-nos diferentes. Ele não me consulta para nada e nunca segue o que lhe digo. Não colaboramos, não trabalhamos juntos, não somos um casal, porque cada um pensa com o seu umbigo. Eu admiti isso, mas ele não admite. Tornou-se num egocentrico, déspota, egoísta, cínico e mentiroso. Não aguento mais viver na incerteza de saber se ele vai desiludir-me ou não – quase sempre desilude. Não confio nele. Deixei de confiar nas palávras dele.
 
O que eu gosto, o que eu preciso, o que eu quero – ele nunca leva em conta. E eu acho que isso é muito grave. Que raio de futuro é este que ele me está a tentar oferecer? Agora, ele vai-se embora e eu vou andar com a corda ao pescoço, sem dinheiro para nada... Porque gastei as minhas economias com ele e não tenho nada... A renda vai-me aumentar o dobro. Mas tem de ser, ele tem de sair de casa, porque que raio de vida é esta em que o dinheiro mantém as pessoas unidas? – não o amor? Não a paixão e a confiança? Recuso viver uma relação por comodismo, puro e simples!
 
Eu sei que algo bom está reservado para mim. Porque eu batalho tanto e levo tanto embate da vida. Algo bom tem de estar reservado para mim... este sofrimento não pode ser em vão.
 
Sexta-feira tenho uma consulta com o psicólogo da universidade. Preciso de fazer anger management e preciso de sarar isto. Estou tão farta de ter gajos na minha vida que só me dão tristezas e que só me fazem mal.
 
Tenho medo de estar solteira aos 30, mas tenho mais medo de fazer uma asneira porque tenho medo de estar sózinha aos 30. Por isso mais vale só. Por muito que custe, ao menos eu sou senhora do meu nariz. Independência sempre.
 
Agora só preciso de paz.
04
Ago08

Depressão...

Little Miss Sunshine

...é os trinta...

.... a falta de compreensão que por vezes encontro no meu caminho...

... a pressão daqueles que nos amam, mas que sem querer nos magoam...

... a labuta do dia a dia que não me deixa respirar, nem quando estou de férias...

 

Um dia só queria acordar desta amargura toda e sorrir como há muito não sorrio, para poder finalmente viver um dia sem lamentar as merdas do passado e o sofrimento inerente às merdas do presente. Não entendo porque é que às vezes as coisas têm de ser tão difíceis. Preciso de um descanso das dificuldades, relaxar e descontrair... Mas tenho vivido tempo demais stressada, com preocupações sobre o futuro, que é ainda incerto para mim.

 

Um pouco de compreensão e as estupidezes da alma não acontecem.

Menos crítica, e a paz instala-se.

 

Mas isso é, talvez, a tarefa mais difícil de todas estas férias - mais até que escrever a minha tese. E não precisava de ser assim...

23
Out07

Get out of my life!!!!

Little Miss Sunshine

Ontem tive provavelmente uma das piores noites da minha vida. Preciso de ajuda, é um facto. Ando carente, sinto-me sózinha e acabo por perturbar as pessoas à minha volta com tanta dependência. Como me tornei dependente desta maneira eu não sei. Mas nunca fui muito independente de afectos. Quando era mais miúda tinha a mania de me apaixonar por qualquer jeitoso que sorrisse para mim...

 

Eu e o Sid não nos falamos. Devolvi-lhe o anel de noivado em raiva, voaram frascos de gel de duche, pastas de dentes, shampoos à uma e meia da manhã. Como é que ele não percebe que naquele momento eu precisava dele, e ele deixou-me!? Para ir trabalhar, +é certo, mas podia ter ficado em casa - eu estava muito murchinha, precisava de um abraço longo e forte...

 

Como é que eu posso confiar num homem que não fica comigo quando eu preciso - é que nem é todos os dias! Mas o dia de ontem correu-me tão mal e eu ando tão desanimada com o raio do mestrado e como as coisas andam a correr para os meus lados, que precisava mesmo de um carinho.

 

Por amor da Santa! Ele nem sequer disse aos pais dele que tinha ficado noivo... E nem fazia intenção de o fazer não fosse eu lhe dizer para o fazer - e meus amigos, as coisas não deviam de ser assim, pois não? Parece que ele não se mexe para nada a não ser para trabalhar (o que não é mau, convenhamos), mas em excesso também não é bom.

 

E eu tive de passar pela humilhação (que mesmo que não tenha sido, para mim foi como se fosse, pois eu senti na pele...) dos amigos dele lhe perguntarem se ele contou aos pais e ele ficar assim parvo, comigo a ter que responder que não, ainda não, mas que o vai fazer e desculpas, desculpas, desculpas...

 

Eu tenho 29 anos, e não mereço andar às escondidas. Se para mim era importante que ele contasse aos pais dele - assim como eu contei aos meus pais - por mais que as nossas culturas difiram, a verdade é que quem ama vai ao fim do Mundo - que é coisa que eu faço TODOS OS DIAS POR ELE!

 

Não que esteja a cobrar, mas dá que pensar... Todas as noites o menino vem do trabalho e tem um prato delicioso à espera dele, chapattis acabadinhas de fazer, e sobremesas deliciosas... Eu passo três horas na cozinha por ele, horas que eu podia dedicar a mim mesma, mas por amor dedico a ele. Para ele nem sequer ter a coragem de dizer aos paizinhos que quer casar comigo.

 

E com isto começam-me a assombrar fantasmas do passado. Eu ando num impasse, não sei se quero levar este mestrado avante. Se por um lado eu adorava perceber um pouco mais de Marketing, e se o mundo do Marketing me fascina no sentido em que revolve à volta das pessoas e dos gostos do Mundo, por outro a ideia de assentar e começar uma família parece-me um caminho mais risonho, mais simpático.

 

Parece que toda a gente me diz que tenho tempo, e eu acho um piadão a isso! Depois dão-me sempre exemplos da tia ou da prima que casaram aos 31 e que tiveram os primeiros filhos já em avançados 30, e eu olho para essas pessoas e só me apetece dar-lhes chapadas na cara! Desde quando é que eu sou comparável a outras pessoas?

 

Meus amigos, eu sempre fui de querer tudo aqui, hoje e agora. Eu sei que nem sempre pode ser assim, e provavelmente por isso é que me vejo em momentos de grande frustração, porque parece que estagno num sítio e as coisas não arrancam até eu ter um esgotamento cerebral, mandar toda a gente à merda e seguir caminho, normalmente a fazer algo completamente diferente, num país ou localidade diferente, sei lá...

 

Há quem diga que eu ando a fugir. E talvez ande, não sei. No fundo a realidade é que a rotina instala-se sempre, não interessa onde estou ou o que faça. Ando triste e revoltada - é um facto. Será que devo seguir com a minha vida desta maneira? E talvez consultar ajuda profissional para a minha cabeça? Porque isto de ter saudades de casa e de querer voltar para o meu mundo seguro tem tomado conta de 90% da minha cabeça.

 

Só quero meter-me num avião, tão desesperadamente que ontem acabei a noite no aeroporto de Heathrow, só para constatar que me tinha esquecido do meu bilhete de identidade em casa (e das minhas roupas). Eu juro que me sinto a ficar maluca! Juro...

 

Assim que cheguei a casa, fechei-me no quarto, luzes apagadas, meti-me encolhida no roupeiro e chorei três horas a fio. Não faço ideia do que estou aqui a fazer e se o Siddharth era uma razão forte para continuar aqui, nesta altura eu só quero fugir, mesmo que isso signifique terminar um relacionamento que tem sido problemático.

 

Quero voltar. Quero voltar para casa. Não estou aqui a fazer nada - só a passar necessidades, dificuldades e a danificar o meu coração e a minha paz de alma... e tudo para quê? A minha vida não vai melhorar... Não vai. E eu sinto-me cair num poço tão fundo que duvido se alguma vez poderei sair dele algum dia... a não ser que tome uma decisão drástica.

 

Mas e depois? Se deixar isto tudo e voltar, vou ser vista como cobarde, como a pessoa que não acabou aquilo a que se propôs fazer. Como é que posso enfrentar essa perspectiva? Como? Como é que os meus pais vão-me ver? Eu não quero ser uma desilusão para eles. Meti-me nisto, é por demais justo que acabe o que comecei.

 

MAS PORQUE É QUE EU ME METI NISTO?

Desistir não é o meu lema, mas continuar a insistir em algo que não corre bem de maneira alguma é ser masoquista.

Tenho de tomar uma decisão.

 

 

21
Set07

Chegou o grande dia...

Little Miss Sunshine

...mas a minha disposição está low. A cabeça dói e o corpo parece que não responde. Hoje é o dia das inscrições e eu só me apetece pegar nas 3600 libras e fugir daqui para o México, ou Jamaica, ou Cuba - sei lá, algo com muito sol e muito mar.

 

Ontem eu e o namorado tivemos uma discussão enorme, que acabou comigo a bater a porta à uma da manhã, de calças de pijama e sobretudo. Fui arejar, a meio da noite, porque já não aguento mais o caos em que nós os dois andamos. Não estamos bem um com o outro e a verdade é que isto já nem nos faz bem.

 

Mas ontem aprendi uma lição. Se ele me virar as costas eu estou completamente por minha conta. De todos os contactos que tenho na lista telefónica, nenhum é suficientemente de minha confiança para eu pedir ajuda. Nenhum. E ontem, àquela hora, ninguém da minha família estáva online. E de repente, entre soluços e lágrimas, reparei que estava totalmente isolada.

 

Num país que não é meu, num quarto que mal posso considerar como o meu espaço, sem a família ou o Mr Fritz por perto, e com o namorado a ignorar-me com maldade, senti naquele momento que não faz sentido continuar assim. Atingi o fundo do poço com toda a força.

 

Vou voltar a ter sessões com o psicólogo.

 

Merda...

 

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